Sociedade

Focos de lixo em Luanda começaram a ser removidos

Edivaldo Cristóvão

Jornalista

Os focos de lixo acumulado, há meses, em várias artérias da capital do país começaram a ser removidos ontem, com a ajuda de mais de 400 efectivos da Forças Armadas An-golanas (FAA) e de cidadãos voluntários.

26/04/2021  Última atualização 07H00
© Fotografia por: Dombele Bernardo

Depois de ser lançada a mega campanha pela ministra de Estado para área Social, Carolina Cerqueira, muitos cidadãos abraçaram a causa e assumiram o compromisso de recolher resíduos sólidos, até que os focos de lixo desapareçam. 

Ontem as Forças Armadas fizeram a recolha de lixo em zonas urbanas da cidade de Luanda, concretamente em toda a extensão da Avenida 21 de Janeiro, Revolução de Outubro, estrada da Samba, Marginal de Luanda, Ilha do Cabo e na Baixa de Luanda. 

"Estamos aqui para trabalhar até que a situação melhore", disse o major das FAA Carlos Mendes, que coordenava um grupo de 50 efectivos empenhados na limpeza e recolha de resíduos sólidos entre a avenida 1º de Maio e o Hotel Alameda.

 O major disse que foram disponibilizados meios para recolha de lixo, por parte da Brigada Especial de Limpeza.  Realçou que o objectivo de todos é voltar a ver a cidade limpa, para evitar problemas de saúde pública. 


Uma militar exemplar 

Deolinda Bandi é a única mulher encontrada, ontem, pela nossa equipa de reportagem, no meio de 50 efectivos das FAA que limpavam a avenida 1º de Maio até ao Hotel Alameda. Com 40 anos, a jovem disse ser preciso ter espírito de missão.

Deolinda Bandi entrou nas FAA em 1996, estando na corporação há cerca de 25 anos. 

Revelou que esteve no Andulo, província do Bié, onde teve a honra de trabalhar com os generais Sousa e Santos "Disciplina", Wala, Eugénio e Dinis.

A jovem conta que há seis anos participou numa campanha de limpeza na cidade do Huambo, onde vivia na altura.  "Pretendo contribuir para o bem-estar da sociedade, de modo a evitar doenças e manter a cidade limpa". 


Início da crise 

O Governo Provincial de Luanda (GPL) suspendeu os contratos com antigas operadoras de lixo em Novembro de 2020, por incapacidade de pagar uma dívida de 246 mil milhões de kwanzas.

Essa situação fez com que vários focos de lixo fossem criados, o que tem provocado desagrado aos munícipes, que receiam a propagação de doenças, fundamentalmente nesta fase da pandemia da Covid-19.  

Em Fevereiro deste ano, o GPL, através de um Despacho Presidencial, autorizou a abertura de um concurso público, onde sete propostas técnicas e financeiras de empresas de recolha de lixo foram aprovadas, no final de Março. 

As referidas empresas te-riam a missão de eliminar os focos de lixo espalhados nos nove municípios de Luanda. A Empresa de Limpeza de Luanda (Elisal) actuaria nos municípios de Luanda e Cazenga, Er-Sol (Icolo e Bengo), Sambiente (Quiçama e Viana), Multilimpeza (Cacuaco), Jump Business (Belas), (Chay Chay (Kilamba Kiaxi) e o Consórcio Dassala/Envirobac (Talatona). 

Depois da celebração dos contratos, as empresas assumiram que, até final de Abril, os principais focos estariam eliminados. 


O grito de socorro

Com quatro filhos para criar, a jovem Ana João conta que, devido ao amontoado de lixo na sua rua, um dos filhos teve diarreia e paludismo, tendo sido internado por alguns dias. Confessou que teve muitas dificuldades para conseguir os medicamentos. 

Segundo Ana João, 42 anos, residente em Viana, nas imediações da Universidade Jean Piaget, no Capalanca, na rua da antiga esquadra, há mais de seis meses que, na sua zona, o lixo não é retirado, situação que se torna pior quando chove, fazendo com que os bichos se aproximem às casas. 

A jovem denunciou que a sua rua tem sido usada como aterro sanitário, porque chegam carrinhas cheias lixo que é depositado e queimado no local. 

João Gime, estudante da Universidade Jean Piaget, que vive nas proximidades com o irmão mais velho, considera que a situação do lixo deve ser resolvida por todos, o mais rápido possível. 

A mega campanha de recolha de lixo vai prosseguir nos próximos dias, até que a situação volte à normalidade. 

  População incentivada a colaborar

A ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira, reconheceu ontem, em Luanda, que o número de contentores ainda é insuficiente. 

Carolina Cerqueira aconselha a população a depositar o lixo em locais apropriados, para facilitar a sua recolha.

Ao intervir depois de uma visita de constatação às zonas do Neves Bendinha,  Kilamba Kiaxi e Viana, realçou que o balanço foi positivo, pelo facto da campanha estar a  contar com o apoio das antigas operadoras de recolha de lixo e empresas de construção que disponibilizaram meios e equipamentos.

"Já houve remoção de várias toneladas de lixo acumuladas durante alguns meses em determinadas zonas de Luanda, onde constatamos que os trabalhos decorrem sem sobressaltos”, frisou Carolina Cerqueira.

A governante acrescentou que ainda não há uma data definida para o fim da campanha, mas, segundo o levantamento feito em colaboração com o Governo Provincial de Luanda, num curto espaço de tempo os enormes focos de lixo existentes na capital do país poderão desaparecer.

"Queremos agradecer as doze empresas e as antigas operadoras de saneamento básico e os efectivos das FAA que estão a participar nesta mega campanha, com os seus meios técnicos e equipamentos, bem como a sua experiência de trabalho”, destacou a governante.

A ministra de Estado para Área Social disse esperar que escolas e igrejas incentivem os alunos e crentes a pautarem por disciplina e conduta exemplares, participando em campanha de limpeza e depositando o lixo em locais apropriados.

João Pedro e Manuela Gomes


Proprietários de lojas e armazéns mobilizados

Proprietários de armazéns e lojas, na sua maioria estrangeiros, localizados no Distrito Urbano do Zango, município de Viana, em Luanda, manifestaram, ontem, disponibilidade e interesse em participar nos esforços das autoridades para que se ponha fim aos amontoados de lixo na circunscrição. 

A disponibilidade dos proprietários de armazéns e lojas foi transmitida ao administrador municipal de Viana, Manuel Pimentel, numa reunião de aproximadamente duas horas, realizada nas instalações da Administração do Distrito Urbano do Zango, localizada na urbanização "Vida Pacífica”.   

Em declarações à Comunicação Social, no final da reunião, o administrador municipal de Viana disse ser motivo de aplauso a decisão dos proprietários de armazéns e lojas do Zango e acentuou que a disponibilidade manifestada "é um bom princípio de solidariedade”. 

Na reunião, o administrador Manuel Pimentel deu ênfase à necessidade dos proprietários de armazéns e lojas celebrarem contrato com a "Sambiente”, empresa de limpeza e recolha de lixo que actua no Distrito Urbano do Zango. 

 "Sei que muito do lixo existente não é produzido por vocês”, salientou o administrador municipal de Viana, fazendo alusão às zungueiras como estando também na origem do surgimento de lixo nas proximidades dos estabelecimentos comerciais.    

Manuel Pimentel sugeriu aos proprietários de armazéns e lojas a colaborarem mais com o Serviço de Fiscalização do Distrito Urbano do Zango, para que se ponha termo à desorganização junto dos espaços comerciais, começando com a proibição da venda ambulante. 

Quando fazia menção ao trabalho do Serviço de Fiscalização, Manuel Pimentel avisou que a Administração Municipal de Viana vai ser implacável com "os fiscais que têm agenda pessoal”, por via da extorsão de dinheiro a zungueiras, como condição para continuarem a vender em locais impróprios, como, por exemplo, junto à porta de armazéns e lojas. 

"Os comerciantes devem ter a cultura da denúncia”, defendeu o administrador municipal de Viana. Há uma semana, Manuel Pimentel realizou uma visita de campo ao Distrito Urbano do Zango, tendo ordenado o encerramento de armazéns e lojas pelo facto dos seus proprietários não colaborarem com a empresa Sambiente na recolha do lixo. 

Ontem, no encontro com o administrador municipal, os proprietários de lojas e armazéns encerrados garantiram que vão celebrar contratos com a Sambiente, para a limpeza e recolha de lixo à porta dos seus estabelecimentos. 

O administrador lembrou que a reabertura dos estabelecimentos visados está condicionada ao pagamento de uma multa. 

Pereira Dinis



Sequele aguarda 

O Distrito Urbano do Sequele, município de Cacuaco, aguarda por meios técnicos para dar início à mega campanha de limpeza lançada pelo Executivo, para retirar os amontoados de resíduos sólidos em toda a província de Luanda. 

Até ontem, dia em que a campanha arrancou em algumas zonas de Luanda, o Distrito Urbano do Sequele não havia recebido nenhuma empresa para coordenar a remoção de resíduos sólidos.

Uma fonte da Administração do Distrito Urbano do Sequele disse ao Jornal de Angola que a circunscrição se debate, ainda, com a indefinição da operadora coordenadora local da mega campanha de limpeza, que vai envolver a sociedade civil e efectivos dos Órgãos de Defesa e Segurança.

A mesma fonte assegurou que a empresa e os órgãos de apoio à mega campanha de limpeza no Distrito Urbano do Sequele vão ser conhecidos hoje, depois de um encontro de trabalho que o administrador municipal, Auzílio Jacob, vai manter com todos os administradores dos distritos de Cacuaco.

"O início da campanha não é uma certeza porque continuamos à espera de meios técnicos anunciados”, reiterou a fonte, adiantando que o Distrito Urbano do Sequele não se apresenta como crítico em matéria de "grandes focos de lixo”. 

Roque Silva



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