Cultura

Homenagem aos meus amigos

Presto homenagem aos meus amigos recentemente falecidos: Maria Alexandre Dáskalos (1957-2021), Arlindo Barbeitos (1940-2021), o casal de académicos e excelentes poetas, e Zé Mweleputu (1960-2021), o exímio guitarrista da Música Popular Urbana Angolana que integrou os Jovens do Prenda, substituindo o referenciado e lendário guitarrista Zé Keno.

04/04/2021  Última atualização 08H10
© Fotografia por: DR
Conheci o casal Maria Alexandre Dáskalos e Arlindo Barbeitos em finais de 1979, quando cheguei ao Lubango para estudar línguas e literaturas na então Faculdade de Letras, após o abandono da carreira jornalística que tinha iniciado na Rádio Nacional de Angola, com uma experiência internacional tirocinante realizada na VI Conferência dos Países Não-Alinhados que teve lugar em 1979, na cidade de Havana. Dele já tinha ouvido falar e tinha acompanhado pela rádio um ciclo de palestras sobre Paleontologia. Mas o meu primeiro encontro pessoal com o Arlindo Barbeitos ocorreu no seu gabinete de trabalho, um espaço povoado de livros, na antiga Faculdade de Letras.

O meu amigo Gentil Manjenje, que já o conhecia,  teve a gentileza de apresentar-me ao distinto professor de História e Antropologia. Tornou-se meu amigo e passei a frequentar a sua casa. Tive a sua esposa Maria Alexandre Dáskalos como colega, pois, ela era estudante do 2º ano do curso de História. O reencontro em Lisboa, na primeira década de 2000, permitiu retomar conversas interrompidas em Luanda, antes e depois da experiência argelina, quando o Arlindo Barbeitos foi Adido Cultural em Argel. Ainda visitei o Arlindo Barbeitos, em 2019, quando esteve internado na Clínica Sagrada Esperança, na Ilha de Luanda. 

Com o Zé Mweleputu tive contacto em 2002, na  cidade de Lisboa. Ele era emigrante e eu encontrava-me a desempenhar funções diplomáticas como Adido Cultural da Embaixada de Angola em Portugal. Por recomendações de um amigo comum, o jornalista cultural João Chagas, eu devia  fazer o possível e o impossível para que o Zé regressasse ao País. Ele andava ocupado com gravações em estúdios e espectáculos. Intercedi junto do Consulado para que regularizasse a sua situação consular e obtivesse o passaporte. Assegurei-lhe alojamento por algumas semanas, quando precisou de apoio. Participou em várias tertúlias que organizei em casa com escritores, artistas e amigos residentes e de passagem por Lisboa. Ele viria a confessar depois que tinha sido muito amigo do meu falecido irmão, seu companheiro nas FAPLA, outro guitarrista com quem aprendi os primeiros acordes. Frequentou a nossa casa em Benguela e conhecia os meus pais. Tinha uma grande estima pelo meu mano. Gravei dois temas compostos por mim cujo registo permite lembrar as habilidades técnicas deste brilhante guitarrista benguelense, natural da Catumbela.
Conversávamos muitas vezes ao telefone. Tinha anunciado, há dois meses, a conclusão dos manuscritos dos seus três livros. Queria contar com o meu apoio.  
A morte destes amigos é um sintoma de que a vida é frugal. E um pouco de nós também se perde com a sua morte.

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Cultura