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Igreja Católica acusa Governo de estar mais preocupado em proteger o gás

A Comissão Episcopal de Justiça e Paz, entidade da Igreja Católica em Moçambique, acusou o Governo de estar mais preocupado em proteger os projectos de gás natural em Cabo Delgado do que as populações.

13/05/2021  Última atualização 13H54
Palma continua a ser um lugar inseguro para a população © Fotografia por: DR

Numa declaração citada pela Lusa, a Comissão Episcopal afirma que  "a maior concentração na defesa do negócio de gás e petróleo em detrimento da defesa da vida de milhares de moçambicanos induz-nos a acreditar que a primazia do Estado é defender os lucros e bem-estar para um pequeno punhado de gente já abastada". 

A declaração, assinada pelo presidente da comissão e bispo de Nacala, Alberto Vera Arejula, a Igreja Católica afirma que a primeira luta seria pôr fim ao conflito armado, investir na área social e infra-estruturas, bem como definir estratégias para uma exploração eficaz e segura dos recursos. "Sem vida numa região e sem recursos humanos locais é impossível e absurdo catapultar o desenvolvimento", lê-se no texto, numa referência à necessidade de protecção das comunidades da província de Cabo Delgado, Norte do país. "Não há dúvida de que o país conta com muitas riquezas e matérias-primas, que podem ajudar a desenvolver economicamente o país e, por aí, desenvolver humanamente. Porém, o país não está preparado para gerir a exploração sustentável e humana destas riquezas", enfatiza. 
A Comissão Episcopal de Justiça e Paz apontou "interesses, que se apoderaram da nação e dos seus recursos" como responsáveis pela violência armada na província de Cabo Delgado. Para a Igreja Católica moçambicana, há uma ligação lógica entre uma juventude alienada e as diferentes formas de insurgência em Cabo Delgado, incluindo a criminalidade, terrorismo, extremismo político e religioso. "Como podem ter os jovens perspectivas, se o próprio país parece não ter rumo, um projecto comum, no qual são convidados a serem colaboradores activos e que alimente a sua esperança?", questiona a declaração, recuperando uma indagação já levantada pela Conferência Episcopal de Moçambique (CEM), em Abril. 

Na altura, a CEM considerou que a marginalização da juventude favorece o aliciamento pelos grupos armados que actuam em Cabo Delgado: "É fácil aliciar pessoas, cheias de vida e sonhos, mas sem perspectivas e que se sentem injustiçadas, vítimas de uma cultura de corrupção, a aderirem à proposta de uma nova ordem social imposta com a violência", afirmou o bispo de Chimoio, porta-voz da CEM, João Carlos, em 16 de Abril, após uma reunião dos bispos católicos em Maputo.

Agora, a Comissão Episcopal de Justiça e Paz frisou que o Estado moçambicano não tem condições para enfrentar a guerra com as forças militares de que dispõe, alertando que "a vitória militar não seria uma resposta à complexidade da situação de Cabo Delgado". No continente africano, prosseguiu, são poucos os casos de sucesso pela via militar, com envolvimento estrangeiro, no combate ao extremismo, se não forem atacadas as dimensões social e económica por detrás da insatisfação das comunidades.

A comissão observou que as vítimas de violência em Cabo Delgado sentem-se  abandonadas pelo Governo e vivem um drama humanitário que exige uma mobilização geral.

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