Sociedade

INEF prepara professores sob condições inadequadas

Director Mayomona Zita defende a abertura de concurso público para o ingresso de novos docentes na instituição de ensino especializado.

09/05/2021  Última atualização 09H20
Instituto Médio de Educação Física © Fotografia por: Edições Novembro
Com 43 anos de existência, o Instituto Médio de Educação Física (INEF), também denominado por "Major Saidy Mingas” já formou mais de 3.500 professores para o ensino regular, distribuídos pelas 18 províncias do país, visto que era a única instituição habilitada para o efeito, depois da proclamação da Independência Nacional, em 1975. 

O INEF tem como objecto social, a formação de professores de Educação Física, não para a preparação de treinadores especificamente. Os alunos, que sobressaírem ao logo dos quatro anos de curso, podem perfeitamente abraçar a carreira de treinadores , caso se destaquem no futebol, basquetebol, andebol, atletismo, voleibol, natação e ginástica.

A missão do INEF é formar professores de Educação Física, tal como o Instituto Normal de Educação (INE), vocacionado para a preparação de docentes nas diferentes especialidades do ensino geral, como Matemática, Física, Química, Português, Inglês, Francês, Geografia e História.

Depois de formados, mediante concursos públicos no sector da Educação, os professores são enquadrados nas instituições de ensino com défice de quadros para leccionar a cadeira de Educação Física. Dos muitos técnicos forjados no INEF, uns continuam no activo e outros estão no desemprego.

Os treinadores para sobreviverem nas equipas dependem muito dos resultados desportivos. A maioria dos técnicos formados acabam por abraçar outras profissões, visto que não conseguem trabalho nas instituições de ensino e nos clubes.
Durante  as quatro décadas, saíram do Instituto "Major Saidy Mingas” renomados treinadores, casos de Oliveira Gonçalves (ex-seleccionador dos Palancas Negras e campeão Africano Sub-20), Mário Calado, campeão do Girabola pelo 1º de Agosto e Sagrada Esperança) entre outros.

A nível do andebol, os destaques recaem para os técnicos Jerónimo Neto "Jojó” (já falecido), Beto Ferreira, Cuco Velasco, Armando Gomes "Kulau"(também já falecido) e Vivaldo Eduardo, campeões africanos pela Selecção Nacional sénior feminina de andebol, para exemplificar alguns.  

Período de bonança                           
O INEF teve um período de bonança, quando funcionava nas instalações dos "Maristas". Naquela instituição saíram grandes estrelas do desporto nacional, não apenas treinadores mas também jogadores, porque dispunham de condições técnicas ideais para a realização de aulas práticas, como campos de futebol, quadras desportivas para  o basquetebol, andebol, voleibol e pista de atletismo.  As aulas práticas de natação decorriam nas piscinas do Complexo de Alvalade.
Após a entrega das instalações à Igreja Católica, a instituição vocacionada para formação de professores de Educação Física passou a funcionar na Escola N’gola Kiluanje durante alguns anos. 

Hoje, o INEF funciona na Centralidade do Kilamba, sem as condições ideais para a formação de professores, porque as instalações são inadequadas, uma vez que carecem de vários meios técnicos para as aulas práticas, designadamente campo de futebol, quadras multiuso, para o basquetebol, andebol, voleibol e piscina. 

As aulas práticas são fundamentais para a inserção do professor no mercado de trabalho, sem as quais o futuro treinador ou professor de educação física não terá bagagem para passar a mensagem aos atletas e alunos, respectivamente.
Entrevistado pelo Jornal de Angola, Mayomona Zita, director do Instituto Médio de Educação Física, disse que o INEF funciona em instalações inapropriadas , pois carece de meios técnicos para realizar um trabalho condigno. "Trabalhámos em condições que deixam muito a desejar. Tínhamos de ter escola própria, com os meios técnicos adequados.

Aqui, temos carência de tudo, principalmente campos de futebol, quadras para o  andebol, basquetebol e voleibol", disse, acrescentando que "temos dificuldades no concernente aos professores. Muito estão a ir para a reforma. A outra carência prende-se com os professores para as disciplinas práticas, sobretudo o andebol, basquetebol, voleibol, futebol e natação.  Os que estão a ser recrutados não são de boa qualidades", lamentou.

Mayomona Zita defende a realização de concursos públicos para os professores de Educação Física, sublinhando que "os formados no exterior do país apresentam muitas debilidades. Daí a razão para a abertura de concursos públicos", disse, lembrando que  o INEF carece de quadros para leccionar as cadeiras de anatomia, biologia, fisiologia do exercício e higiene por falta de professores. "A maioria são médicos e tiveram de deixar a instituição, porque não podiam ter dupla efectividade".

Nos últimos dez anos, o INEF colocou no mercado de trabalho em Luanda cerca de 300 professores. Além da capital do país, as demais províncias já formam professores nesta área, devido a abertura de escolas de formação, com opção em Educação Física, designadamente na Huíla, Benguela, Malanje, Cuanza-Sul, Bié, Lunda-Sul e Uíge.


Inserção no mercado
Apesar das dificuldades de vária ordem, o INEF mantém o foco na formação de professores, mas não tem nada a ver com as causas da não inserção de novos técnicos formados pela instituição no mercado de trabalho, que se deve à escassez de oportunidades de emprego.

Nos concursos públicos realizados pelo Ministério da Educação, os professores de Educação Física não são primeira opção, uma vez que as prioridades recaem para os técnicos formados nas especialidades de Matemática, Português, Química, Física, Geografia e História.

A nível do Ministério da Juventude e Desportos (MINJUD) não existe nenhum plano sobre a formação de técnicos abalizados para a preparação de atletas nas diversas modalidades. O MINJUD desempenha o papel de fiscalizador, com base na recolha de dados sobre o número de treinadores e atletas existentes no país.

"Não existe por parte do MINJUD um plano sobre a formação de técnicos abalizados para a preparação de atletas nas distintas modalidades. Esta matéria é da competência das federações desportivas. Nós recolhemos os dados para aferir, o número de atletas existentes em Angola nas diferentes modalidades”, esclareceu, ao Jornal de Angola, o director nacional para a política desportiva Nicolau Daniel.

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