Sociedade

Jovem da Ingombota vence as dificuldades e o desespero

Rui Ramos

Jornalista

Capitão Raimundo Aremes nasceu em 1995, há 26 anos, no bairro da Ingombota, cidade de Luanda. É filho de Nsangu Remy Aremes e de Mangituka Fuandu Teresa.

18/04/2021  Última atualização 19H06
© Fotografia por: DR
De família muito pobre, Capitão Raimundo Aremes recorda-se de ter feito a iniciação, a 3ª e a 5ª classes na escola de Santa Teresa, no bairro Palanca, município de Kilamba Kiaxi, e não se esquece das dificuldades financeiras diárias sentidas em casa.

Em 2009, com 14 anos, ante o agravamento das dificuldades, a família envia-o para a Huíla, onde continuou os estudos, tendo frequentado a 6ª classe numa sala anexa à escola 120, no município da Matala, onde viveu em casa do irmão mais velho, no meio de sérias dificuldades financeiras, mas nunca desistindo dos estudos.

Com 15 anos regressou a Luanda para ficar novamente junto dos pais, tendo prosseguido os estudos na escola da UEBA, no Golfe 1, onde frequentou a 7ª, 8ª e 9ª classes.
Em 2012, chegando ao ensino médio, tentou matricular-se no IMEL, em Luanda, mas sem êxito."Sempre sonhei ser jornalista, mas a oportunidade deu voltas.”

Só em 2013, por via de um projecto de formação profissional da Associação dos Estudantes de Luanda, consegue fazer um curso de jornalismo, no qual obteve o resultado final de 16 valores, ao mesmo tempo que frequentava o curso de Ciências Económicas e Jurídicas no colégio Esperança, no bairro Sapú, no meio de continuadas dificuldades, juntamente com a sua família.

Desesperados por não conseguirem assegurar as mínimas condições para Capitão Raimundo Aremes estudar, os pais voltam a enviá-lo, em 2014, com 19 anos, para a Huíla, de novo para junto do irmão mais velho, para trabalhar em algo que lhe proporcionasse algum rendimento e lhe permitisse estudar.
Em Março de 2014 foi transferido para a Escola Secundária da Arimba, no Lubango, onde concluiu o ensino médio, sem nunca abandonar o sonho da sua vida, ser jornalista.

No ano seguinte, um amigo, Domingos Mucuta, arranja-lhe um estágio não remunerado na Rádio 2000-Antena Comercial do Lubango, onde fazia programas de entretenimento.
Em Junho de 2015, com 20 anos, Capitão Raimundo Aremes recebeu uma proposta para trabalhar como estagiário no Jornal de Angola, na Huíla, colaborando nas revistas "Yawila” e "Mais Lubango”. De 2015 a 2016, estuda Comunicação Social na UPRA, no município da Humpata, mas tem dificuldades quase intransponíveis para pagar as propinas, pois não usufrui de qualquer rendimento e a família não consegue apoiá-lo.

O sonho de Capitão Raimundo Aremes ganha realidade, em 2016, quando publica a primeira notícia no Jornal de Angola. "Parecia mentira e eu enchi-me de alegria”.
Reportou, então, vários eventos do Governo Provincial da Huíla e outras actividades sociais.
O deputado Vigílio Tyova, ex-governador do Cunene, aconselhou-o, ainda em 2016, a estudar Direito. "Ele dizia-me que via em mim um jovem cheio de vigor que, se juntasse a comunicação social e Direito, daria uma coisa bonita.”

No ano seguinte, Capitão Raimundo Aremes trancou a matrícula e tenta a faculdade pública de Direito, da Universidade Mandume Ya Ndemufayo, onde conseguiu uma vaga no período regular.
Durante estes períodos viveu grandes dificuldades no serviço onde estagiava, enfrentando três anos sem qualquer remuneração. "Só em 2018 é que as revistas onde colaborava começaram a dar-me "remanescentes” para me estimular.”

Por duas vezes foi classificado como grande repórter pela revista "Mais Lubango”. Ainda no ano de 2018, demitiu-se das revistas e saiu do Jornal de Angola, onde estagiava. "Estudava o terceiro ano da faculdade e enfrentava dificuldades financeiras que me pareciam insolúveis e numa noite estive tentado a acabar com a minha própria vida, tal era o meu desespero.”
Mas em Dezembro de 2018, surge a proposta de trabalhar em Caconda, um município da Huíla, como assessor do administrador, mas, por não haver vagas, ocupou o cargo de técnico de informática sem olhar para o lado.

E no ano seguinte, em concurso interno consegue a vaga de efectivo e é transferido para o recém-inaugurado Tribunal de Comarca de Caconda.
Em Maio de 2020, ainda com 25 anos, é novamente chamado para a Administração Municipal de Caconda para exercer o cargo de director Municipal da Comunicação Social, até hoje. "Tenho sonhos e objectivos de vida muito altos, fui sempre um autodidacta, fiz-me a mim próprio no meio de enormes dificuldades de vida.”

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