Sociedade

Jovens meliantes assaltam na via pública e invadem residências

O índice de criminalidade no bairro Belo Monte obriga à uma espécie de recolher obrigatório, a partir das 19 horas. Segundo moradores, os meliantes assaltam pedestres, principalmente, aqueles que não são conhecidos na área. A luta entre grupos rivais, com recurso a armas brancas, como facas, catanas e machados, tem resultado, com alguma frequência, em mortos e feridos.

25/03/2021  Última atualização 17H30
© Fotografia por: Eduardo Pedro | Edições Novembro
No bairro Belo Monte, a forma como foram construídas as casas, sem seguir a quaisquer padrões urbanísticos, facilita a delinquência. Construídas de bloco e de chapas de zinco, as casas, tornam-se alvos fáceis dos marginais. Há igualmente várias construções sem quintais. A maior parte das ruas não é asfaltada e as estradas apresentam pequenos buracos que dificultam a circulação rodoviária.   Há luz eléctrica, em algumas casas, e água potável em chafarizes. Entretanto, quando chove, a lama impede a circulação de viaturas.  

Rebeca Samuel, vive no bairro,  há três anos, e já foi assaltada duas vezes. Ficou despojada do seu telefone e dinheiro para fazer um negócio.
Miguel Domingos, morador no mesmo  bairro,  há seis anos, contou que meliantes, maioritariamente jovens desocupados e residentes na área, realizam assaltos com recurso a facas, catanas e armas de fogo, intimidando cidadãos que se dedicam sobretudo à venda ambulante.
 
  João Francisco Luamba, 28 anos, é deficiente visual, com cegueira total. Vive num compartimento com a esposa, Felicidade Maria, e dois filhos, há oito anos, na zona do Belo Monte. Por volta da uma hora da madrugada, numa segunda-feira, a residência de João Luamba foi assaltada por quatro meliantes, munidos de catanas e facas.

Os mesmos, não conseguiram arrombar a porta de chapa, trancada com cadeado. Entraram pelo tecto, levantando as chapas que cobrem a pequena casa. Com medo, o casal escondeu,  às pressas, os telefones depois de os desligar.   

Já no interior, os delinquentes ameaçaram o casal com golpes de catana e faca e exigiram que lhes fosse entregue  o dinheiro, ganhocom a venda ambulante que a esposa, Maria Felicidade, tinha feito no bairro e na Vila de Cacuaco. "Eu disse que era cego e não tinha telefone. Um deles respondeu, que sabia que eu era cego e que só queria o dinheiro e  a botija de gás. Depois de conseguirem isso meteram-se em fuga”, contou  João Luamba.

Com medo dos assaltantes, a esposa entregou 30 mil Kwanzas. Insatisfeitos, os meliantes levaram o televisor, a botija de gás  e uma carteira com receitas médicas e alguns medicamentos do deficiente visual.
O dinheiro tinha sido emprestado ao casal, pela vizinha, com o compromisso de devolução, com juros,  no final deste mês. Apesar dos juros”, dona Felicidade acreditava que podia obter algum lucro com pequenos negócios e diminuir as necessidades da família.

"Nem tivemos tempo de apresentar queixa à Polícia, porque a minha esposa está a andar de cima para baixo, à procura de dinheiro para comprar negócio e vender, tentando, assim sustentar a casa”, disse Francisco Luamba que acrescentou: ” para piorar, o televisor e a botija roubados estavam hipotecados”. Eram a garantia que a vizinha credora levaria, em caso de incumprimento do contrato.   


Deficiente visual pede ajuda  

Antes de perder a visão, em finais de Outubro 2014, Francisco Luamba trabalhava em construção civil. Sustentava a família com os rendimentos das obras. Entretanto começou a perder a visão, mas com  esperança de recuperá-la. Depois de várias consultas médicas foi informado de que padecia de um glaucoma genético.
"Os médicos aconselharam-me a usar alguns medicamentos, por falta de dinheiro, das poucas vezes que usei, foram adquiridos por pessoas de boa fé. Com o tempo, a visão apagou-se totalmente”, lamentou.  

Francisco Luamba passou a depender da ajuda de familiares e vizinhos para sobreviver. Mas, as ajudas foram diminuindo e Maria Felicidade passou a "zungar” para  sustentar o marido e os dois filhos menores, Francisco João, de quatro anos, e Paz Francisco, de dois anos.  

O casal pede ajuda à sociedade para ver se sai da condição de pobreza extrema que vive. Estão há mais de um ano sem pagar as mensalidades da renda da casa, por falta de dinheiro. Pelo quarto arrendado, deveriam pagar cinco mil Kwanzas por mês. Francisco Luamba acredita que uma motorizada de três rodas, entregue a alguém para conduzir e rentabilizar, com a transportação de passageiro ou carga, aliviará a situação da família. Daí, o pedido às pessoas de boa fé.


Batalha da esposa
Maria Felicidade é jovem, tem 24 anos de idade e é natural do Soyo, província do Zaire. Batalha diariamente para sustentar marido os filhos. Conheceu Francisco Luamba nas andanças da vida e há oito anos jurou-lhe amor eterno.
A venda ambulante já resultou em episódios amargos. Os fiscais, segundo Maria, receberam todo o negócio e a família ficou sem ter o que comer, recorrendo à água com jindungo para alimentar as crianças.

" Temos dois filhos, a nossa vida é mesmo complicada, porque muitas vezes na falta comida. Tive um negócio, mais ou menos, fixo. Mas, os fiscais me receberam... Tinha aqueles 30 mil Kzs que me emprestaram e tentava fazer alguma coisa, mas infelizmente fomos assaltados”.


Água com jindungo
para aliviar a fome

Questionamos Maria Felicidade por causa da necessidade de ter de beber água com jindungo para se alimentar. Com lágrimas nos olhos, respondeu: "Misturo água com sal e um pouco de jindungo, sem arder muito, e dou às crianças para aliviar a fome”, disse, referindo que os familiares vivem na província do Zaire e muitos estão desempregados.
Apesar das dificuldades da vida, Maria Felicidade expressa que gosta do seu esposo e pretende voltar a vender ou encontrar um trabalho para sustentar a família. "Não me passa pela cabeça deixar o meu marido”, disse. 
    

SIC detém meliantes
por crimes diversos  
    
Em Cacuaco, o Serviço de Investigação Criminal de Luanda, SIC, tem realizado micro operações semanais, visando o esclarecimento de crimes, como assaltos na via pública, no interior do bairro Belo Monte, denunciados por cidadãos.

Uma fonte do SIC, no município de Cacuaco, disse ao Jornal de Angola que, em três micro-operações, realizadas em Janeiro e Fevereiro, procedeu à detenção de 22 elementos acusados de participarem em roubos e furtos de telefones, electrodomésticos e valores monetários. Os roubos foram feitos, durante assaltos à mão armada, no interior de residências, assim como na via pública.

No dia 24 de Janeiro, de acordo com a fonte, foram detidos quatro jovens com idades entre os 19 e 25 anos, pelo crime de roubo de vários artigos na via pública. Já no dia 27, o SIC deteve oito indivíduos e esclareceu quatro crimes de roubo de dinheiro. No dia 11 de Fevereiro, o SIC realizou uma micro operação que culminou com a detenção de mais oito indivíduos e a recuperação de duas armas de fogo, sendo um fuzil do tipo AKM  e uma pistola.

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