Cultura

“Lembo” salva árvore secular “Yala-Nkuwu”

Kayila Silvina | Mbanza Kongo

Jornalista

O crescimento de parasitas em diferentes galhos da árvore secular “Yala-Nkuwu”, localizada no centro histórico da cidade de Mbanza Kongo, província do Zaire, um dos símbolos do antigo Reino do Kongo, podia provocar a queda de alguns dos seus ramos, apurou o Jornal de Angola.

01/04/2021  Última atualização 12H20
Árvore secular é cuidada seguindo um ritual que invoca os ancestrais © Fotografia por: Garcia Mayatoko | Edições Novembro | Mbanza Kongo
Para a remoção desses parasitas, que podiam afectar a estrutura da árvore sagrada e uma possível queda de um dos seus ramos, as autoridades tradicionais do Lumbo (Tribunal Tradicional do Antigo Reino do Kongo) realizaram, na noite de segunda-feira, um ritual denominado Lembo, que serviu para invocar a bênção e autorização dos ancestrais junto do Cemitério dos Antigos Reis do Kongo.

Afonso Mendes,  coordenador das autoridades tradicionais do Lumbo, em Mbanza Kongo, explicou que houve necessidade de se levar a cabo o ritual, que permitiu pedir a bênção e autorização aos an-cestrais, no sentido de prevenirem quaisquer incidentes durante ou depois do processo de remoção dos fungos ou  parasitas para evitar que a Yala-Nkuwu seja danificada.

"O ritual tradicional foi realizado à noite, no Cemitério dos Reis do Kongo, onde invocamos a bênção aos ancestrais e usamos folhas de uma planta chamada em kikongo Lemba-Lemba, Cola, associadas com bebidas tradicionais, nomeadamente nsamba (maruvu) e lunguila (aguardente de cana). Também sacrificámos um cabrito e um galo, para que pudessemos realizar a  limpeza e  manter a integridade da árvore Yala-Nkuwu”, explicou.

Afonso Mendes sublinhou que Yala-Nkuwu é uma ár-vore mística, nenhuma pessoa pode subir ou pisar nela sem autorização dos ancestrais, sob pena de provocar incidentes ou uma tragédia na cidade.
A autoridade tradicional do Lumbo recordou a tragédia ocorrida, em 2007, com  o antigo administrador municipal de Mbanza Kongo, que ao ter desrespeitado as normas tradicionais que regem o "Lembo”, levando a cabo uma limpeza à árvore,  o acto levou ao acidente aéreo, envolvendo um avião da TAAG, tendo causado três vítimais mortais.

"O falecido administrador municipal de Mbanza Kongo  realizou, em 2007, uma cerimónia do género sem obedecer os princípios tradicionais, tendo provocado o acidente do avião da TAAG, que o vitimou e a mais outras duas pessoas”, recordou.

Afonso Mendes frisou que, com a realização do ritual com todos os princípios que regem a tradição local, a árvore Yala-Nkuwu está salvaguardada, bem como ficou afastada a possibilidade de ocorrer a queda de um dos seus ramos, que podia provocar incidentes na região.

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