Opinião

Lições da China

Sousa Jamba

Jornalista

Recentemente, no Cuito Bie, estive numa fábrica do empresário Gonçalves Cassoma, que irá produzir industrialmente vários tipos de sacos.

12/02/2021  Última atualização 08H10
A sofisticada linha de produção, desta fabrica, impressionou-me e perguntei se havia angolanos capazes de operar e manter as máquinas. Imaginei as várias fábricas que já vi no continente africano, cheias de ferrugem e sonhos que nunca foram realizados.  Gonçalves Cassoma disse-me que quando a fábrica foi montada tudo foi feito para que os técnicos angolanos acompanhassem todos os passos.  Parte do contrato com os chineses, ele adiantou, era garantir a formação sólida de uma equipa local  de angolanos que iria manter a fábrica.

Gonçalves Cassoma, notei, era um empresário que não estava lá apenas para fazer lucro,  ele acredita genuinamente na importância de criar quadros locais capazes de manter as suas fábricas a funcionar. Uma das acusações que é feita contra os chineses é que eles dão importância à sua mão de obra. Já vi chineses na República Centro Africana, Zâmbia e Tanzânia a fazerem tarefas que poderiam ser feitas por africanos. Naquele outro meu país, Zâmbia, tem havido confrontos armados entre os nativos e os chineses,  há quem insista que os chineses estão a usurpar as oportunidades dos locais. 

Em termos económicos, faz muito sentido o senhor Cassoma ter uma mão de obra local que poderá sustentar a sua fábrica. Soube também que o senhor Cassoma é proprietário do Instituto Superior Politécnico Ndunduma, onde há vários cursos que vão produzir jovens capazes de lidar com as novas tecnologias. Os empresários, que estão no terreno e sabem exactamente o que precisam em termos de recursos humanos devem trabalhar proximamente com as instituições académicas. 

No relacionamento com a China, tenho notado que os africanos sabem muito pouco da própria China, há muita coisa que os africanos poderiam aprender da China, mas que raramente o fazem. No Zimbabwe,  quando o falecido Presidente Robert Mugabe zangou-se profundamente com o Ocidente e proclamou o dito programa  "Look East” ou "Olhem para o Oriente” todos passaram a louvar o milagre asiático, ou chinês  havia, porém, uma falta gritante de uma análise séria sobre o que o que estava por trás do sucesso dos Tigres Asiáticos. 

Notei com muito agrado que o próximo presidente da Câmara de Comércio Angola-China será o empresário Luís Cupenala, um empresário patriota, com vários empreendimentos, bem sucedidos, em várias partes do mundo. Cupenala é um empresário de origens altamente humildes, mas que brilhou no mundo empresarial especialmente graças ao seu desejo incansável de sempre aumentar os seus conhecimentos académicos. O Curriculum Vitae do Luís Cupenala é impressionante,  além de um Mestrado em Gestão de Negócios obtido na África do Sul, ele possui vários diplomas de pós graduação de universidades internacionais, incluindo do Reino Unido.  Cupenala, como presidente da Câmara de Comércio Angola-China, irá insistir na necessidade do relacionamento económico entre os dois países resultar no fortalecimento dos recursos humanos angolanos. 

Gostaria muito, ao longo dos próximos meses, ter várias conversas com Luís Cupenala, já que gostaria de saber o que ele pensa ser sobre as outras lições valiosas que Angola tem a aprender da China, ou da Ásia em geral. 

A China tornou-se no gigante mundial que é hoje  depois de uma estratégia bem traçada e uma capacidade e disciplina inigualáveis. Uma delas é a aplicação apropriada dos recursos. Cá está uma grande lição para o continente africano. Três décadas atrás, quando se ria da China, os líderes de lá não investiram em arranha-céus vistosos para darem nas vistas, eles mandaram os seus melhores alunos para as melhores universidades do mundo. Os chineses investiram também agressivamente no seu sistema educacional — priorizando muito o domínio da tecnologia. 

Na China, como na Ásia em geral, existe uma cultura marcada de poupança. Só ultimamente na China, soube, é que se vê membros da classe média com aquelas mansões e viaturas  matulonas que vemos na nossa classe média aqui na África. Muitas famílias na China ou investiam na formação dos seus filhos ou então poupavam para começarem com pequenas indústrias. Quando os chineses olham para a tecnologia do Ocidente, pensam logo de como podem fazer  versões locais. No interior da China, os agricultores fazem tudo para terem máquinas manejáveis para aumentar a sua produtividade. Aqui na Camela Amões onde vivo há um chinês que tem vindo comprar muito pão na nossa padaria. Com a sua "kaleluya” ou moto de três rodas, ele vai de aldeia em aldeia para trocar o pão com outros produtos que depois vende aos clientes no Katchiungo. O nosso povo, sendo altamente generoso e convidativo, vê o chinês, casado com uma mana da terra, como um genro. Muita gente tem louvado a sua imensa capacidade de trabalhar e inovação. O outro dia vi o senhor chinês com os seus cunhados angolanos a encherem sacos de batatas para enviarem para Luanda….

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Opinião