Cultura

Literatura angolana e as línguas africanas

Quando, lá fora, se fala da Instituição Literatura Angolana, normalmente, peca-se muito. Fala-se de quatro ou cinco escritores.

30/01/2021  Última atualização 17H00
© Fotografia por: Edições Novembro
A maioria das pessoas que vai lá fora falar de literatura angolana não conhece, por uma, a história e a historiografia da literatura angolana e, por outra, os jovens escritores de Angola. Para muitos deles, o único jovem que escreve é o senhor Ondjaki, que também já não é jovem se olharmos para a ideia de que a juventude é dos 18 até aos 35 anos (podendo ser acrescido mais cinco anitos).
A Instituição Literatura Angolana é, na Lusofonia, a terceira mais robusta, estando atrás da Portuguesa e da Brasileira. Ressalta-se que o primeiro livro publicado na África de Língua Oficial Portuguesa foi de um angolano que passou pelo Brasil ainda na primeira metade do século XIX: José da Silva Maia Ferreira.

É práxis dos bons estudiosos da Instituição Literatura Angolana compartimentá-la em dois eixos:
(a) O da Oratura ou Literatura Oral; a que sempre houve por aqui. Considerada como património intelectual de todos os angolanos e (b) o da Literatura Escrita, a que existe em Angola desde o século XVII.
Por um lado, entre muitos pormenores, marcam a Instituição Literatura Angolana o surgimento da imprensa em 1845, a publicação do poemário "Espontaneidades da Minha Alma – Às Senhoras Africanas”, dos "Delírios”, Da "Voz de Angola Clamando no Deserto – aos Amigos da Verdade pelos Naturaes”, de "Nga Muturi”, do "Segredo da Morta”, do romance "Uanga”, da Revista "Mensagem – A Voz dos Naturais de Angola”, da "Cultura”, dos cadernos de "Capricórnio”, "Lavra e Oficina” e a Colecção Poesia no Bolso, cujo selo é NOVA POESIA DE ANGOLA, da editora Perfil Criativo.

Por outro lado, a fundação do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola (1948), da União dos Escritores Angolanos (1975), das Brigadas Jovens da Literatura (1980), do Colectivo de Trabalhos Literários Ohandanji (1984), do Movimento Cultural Kixímbula, com a sua revista Archote (1985), do Movimento Cívico-cultural Lev'Arte e, recentemente, do Movimento Literário Litteragris (2015), com as suas revistas Agris Magazine e Tunda Vala.

A Literatura de Pepetela, Agostinho Neto, Agualusa, Ondjaki e, possivelmente, a de Luandino Vieira não constitui novidade para muitos leitores. Porém, é tarefa sine qua non ler um naipe de escritores angolanos pouco conhecidos por aqui devido à falta de progresso da ideia da CPLP. De entre muitos, tal é o caso de Viriato da Cruz, António Jacinto, Mário Pinto de Andrade, Villanova, João Abel, Mena Abrantes, Arnaldo Santos, Ruy Duarte de Carvalho, Conceição Cristóvão, Carlos Ferreira, Zetho Gonçalves, David Capelenguela, Lopito Feijó, Jacinto de Lemos, Luís Kandjimbo, Ana Paula Tavares, João Tala, João Maimona, Ana de Santana, José Luís Mendonça, Trajano Nankova, Aníbal Simões, Salas Neto, Kanguimbo Ananás, KB Gala, Sapyruka, Pombal Maria, Isaquiel Cori, Nguimba Ngola, Gociante Patissa, Luísa Fresta, Tomás Lima Coelho, Job Sipitali, Shafu Duchaque, Cíntia Gonçalves, Hélder Simbad, expoente da Agristética, Sérgio Fernandes, David Gaspar, Zola Vida, Luefe Khayari, Kaz Mufuma, Oliver Quiteculo, Dias Neto, Pedro Mayamona e outros cujos nomes aqui não cito.

Ora, para se conhecer mais os homens das letras do país, convém ler o "Dicionário de Autores e Escritores de Angola”, uma obra única nos PALOP, da autoria de Tomás Lima Coelho. Quanto às línguas tidas como nacionais, mas que são – tendo em conta a dialéctica – regionais, cabe, realçar quatro elementos:


Elemento um    
Ao contrário do que se propaga, temos dois tipos de línguas nacionais ou regionais. Um é o dos povos Bantu, a maioria, e outro dos povos Khoisan e Vatwa, historicamente, os habitantes mais antigos do pedaço de terra que se chama hoje Angola. Sendo a maioria e em conluio com os angolanos de descendência europeia, os povos bantu têm feito crer que a questão das línguas nacionais ou regionais desagua no mar das línguas bantu, o que demonstra a falta de respeito pelos mais antigos habitantes de Angola.

Elemento dois
Elas, principalmente as de matriz proto-bantu, aparecem em muitas obras literárias, pois servem de base morfológica para muitos escritores tecerem os seus textos, criarem hibridismos, xenismos, máximas metafísicas e, ainda, aparecem simbolicamente no discurso e no museu imaginário de muitos personagens, sujeitos líricos ou narradores.

Elemento três
Se nas zonas urbanas elas são pouco faladas, no interior do país são línguas maternas para muita gente, cabendo certos conhecimentos somente aos que as dominam.
E, por último, mas não menos importante, elemento quatro: Elas carecem de melhor aproveitamento, de políticas linguísticas e valorização da parte de quem de direito, porquanto Angola não é feita de uma só nação, mas sim de Nações multiculturais.

*Professor, Escritor, Crítico Literário

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