Sociedade

“Luanda precisa de sistema integrado de tratamento de resíduos sólidos”

Rodrigues Cambala

Jornalista

O lixo em Luanda não tem sido objecto de tratamento adequado, por falta de um sistema integrado de gestão de resíduos sólidos, que passa por várias etapas, culminando com a sua valorização, afirmou, ao Jornal de Angola, o ambientalista José Silva.

27/02/2021  Última atualização 14H10
Especialistas defendem a necessidade de se educar a população a separar o lixo a descartar © Fotografia por: Alberto Pedro | Edições Novembro
"A valorização é feita por via da reciclagem e incineração. Temos alguns exemplos tímidos de reaproveitamento de latas e plásticos, mas não podemos dizer que existe um tratamento do ponto de vista da gestão de resíduos sólidos”, acentuou.
Antes de referir que o destino final dos resíduos, em Luanda, é o aterro sanitário, o especialista definiu este lugar como "uma espécie de lixeira tecnicamente controlada, onde os resíduos são depositados com algumas medidas de controlo para não haver contaminação”.

Para José Silva, se houvesse maior investimento no Aterro Sanitário dos Mulenvos, a população teria benefícios com uma provável produção de energia eléctrica.
"A partir do lixo, pode-se produzir energia, que ajudaria muito aquelas populações ao redor do aterro, onde a distribuição de energia apresenta algum défice”, argumentou.

Quanto à mistura do lixo nos depósitos, o especialista referiu que tal situação tem várias consequências ambientais e de saúde pública, insistindo que a recolha de lixo em Luanda tem sido um paliativo, devido à falta de um sistema integrado de gestão destes resíduos.
"O sistema integrado obedece a várias etapas”, indicou, informando que a valorização dos resíduos, através da reciclagem, é a opção mais certa, ao passo que a incineradora já tem trazido uma nova discussão em vários países, devido à poluição.
Como disse o ambientalista, além de ocupar muitos espaços com fornos enormes, a incineração dos resíduos pode trazer outras consequências nocivas ao meio ambiente.

A reciclagem, afirmou, acaba por ser o conceito mais aceitável, podendo dar sempre valor ao lixo, retornando ao circuito comercial. E, para tal, apontou ser necessário a separação dos resíduos sólidos, obedecendo a uma recolha selectiva.
O ambientalista defende que haja uma educação ambiental para a separação dos resíduos a partir de casa.
"As pessoas dizem que não é preciso separar, porque o lixo é depositado num mesmo contentor. Mas é bom começarmos a educar a população, para quando termos um sistema integrado haver já uma cultura de separar, por causa das pessoas que sobrevivem da recolha de lixo.”

José Silva lembrou que as pessoas que vão aos contentores, à procura de latas e garrafas, acabam por dispersar os resíduos. "Se fossem já colocados e separados em sacos, não teríamos tanto lixo espalhado. Assim facilitava a vida deles”.
Segundo o ambientalista, o lixo hospitalar e produtos químicos têm de ser levados para uma incineradora, por causa do perigo que representam, sobretudo quando é manuseado por pessoas que procuram até alimento nos contentores.

 
A solução do problema
do lixo deve ser repartida


O médico Jeremias Agostinho disse, ao Jornal de Angola, que a solução do problema do lixo, em Luanda, deve ser repartida, entre os cidadãos e o Governo.
"Ninguém deve descartar as suas responsabilidades neste processo” , avançou o médico, para quem os cidadãos devem manter as suas residências limpas e colocar os resíduos em sacos separados.

O especialista em Saúde Pública aconselhou a população a depositar sempre os resíduos sólidos nos contentores. Reprovou a atitude de algumas pessoas que deitam o lixo em valas de drenagem ou em zonas não adequadas para o efeito.
"O facto de haver um amontoado não é razão para pensar que é ali onde se deve depositar o lixo. Há que evitar aglomerados pois mesmo que estejam distantes das nossas residências,  os efeitos serão sentidos pelos moradores ao redor”.

Outro conselho de Jeremias Agostinho está relacionado com as famílias que, de forma inconsequente, mandam menores depositar o lixo no contentor. "Não conseguindo atingir a altura do receptáculo, o mais provável é deitarem no  chão. Temos situações de contentores vazios, mas um aglomerado à volta”, recordou. Reconheceu que alguns cidadãos depositam muitas vezes os resíduos no chão, porque não existem contentores ou, na maior parte das vezes, estão abarrotados, por culpa das empresas e administrações que retardam a recolha.

O médico sublinhou que o Governo Provincial de Luanda e as administrações municipais e distritais não devem fugir das suas responsabilidades, e insistiu na necessidade de se estabelecer horários de transporte do lixo dos contentores para os aterros, com o objectivo de evitar danos causados pelo lixo.

Na óptica do médico Jeremias Agostinho, é preciso incentivar o investimento privado e público para a criação de empresas, a nível do país, com capacidade para fazer a reciclagem do lixo, capaz de resolver a curto e médio prazo o problema do lixo.
"O lixo mal acondicionado é um meio para o surgimento de insectos e roedores, que são responsáveis pela transmissão de determinadas doenças, algumas delas com forte capacidade de mortalidade no país”, disse. A título de exemplo, fez lembrar que os mosquitos são responsáveis pela malária, dengue, febre amarela, chicungunha. Igualmente, apontou que outras doenças como a cólera e a febre tifóide são facilitadas pelas moscas e baratas.

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