Opinião

Mãe Paulina: a Primeira-Avó!

Augusto Cuteta

Jornalista

Mesmo antes de ser famosa no bairro, já tinha conquistado a simpatia dos vizinhos mais próximos. Todos a tratavam por Mãe Paulina. E era assim entre crianças, jovens e adultos. O mais engraçado é que, até gente com maior idade que ela também a considerava da mesma forma. Talvez, muitos kotas da banda não soubessem que ela tinha só 58 anos!

04/04/2021  Última atualização 08H20
Era Mãe Paulina daqui, era Mãe Paulina dali. Coitada da senhora, uma católica ferverosa, até só filha que não lavou a louça era à ela que os pais da menina acorriam para ir resolver o problema da malcriadez da miúda. Vizinhos que se desentenderam, aquelas brigas de quarto, do tipo em que a dama reclamava que estava cansada ou que ficasse para mais tarde, ou as que o indivíduo terá apelado à calma à madame, por ter tido muito trabalho ou passado por um stress qualquer, era Mãe Paulina quem intervinha para a resolução. Mais lixado eram os casos de devotos às confissões, que buscavam, até, a melhor forma de confessar os pecados a Deus, diante do padre!

A kota, solteira desde os seus 32 anos, depois de descobrir que o ex-barão a traía com uma vizinha do antigo bairro, tem paciência para tudo. Não olha a meios para ajudar os mais próximos. Por isso, não havia cerimónia nenhuma de apresentação ou de alembamento ou de casamento ou de aniversário de kotas ou de jovens da banda que Mãe Paulina não era convidada. É que, também, além de boa conselheira, a senhora tinha bom pé de dança! Avançava desde o semba ao kuduro.
Kitandeira antiga de uma praça famosa de Luanda, ainda era, praticamente, adolescente quando tinha se metido nos negócios nos mercados da capital angolense. Por isso, mesmo nesses dias, em casa, ela tem sempre kitanda dela montada, onde vende fuba, peixe seco, quiabo, óleo de palma natural, entre outros "jiwenji” dela. Quem não tem kumbu, pode levar de "graça”, depois paga quando o "kitadi” aparecer.

Mas, nos últimos tempos, no bairro, a fama de dona Paulina está a atingir outras latitudes territoriais. Há cada vez mais gente, dezenas idas de longe, interessada em ir à  busca de ajuda da senhora. Uns, até, vão à procura de auxílio financeiro! Na semana passada, ela recebeu seis noivos com casamentos marcados para este mês, que, aflitos, queriam tê-la como madrinha. No fundo, a intenção era mais um apoio para terem um "casoile em dia”!

Essa nova febre de pedidos de intervenção, começaram a deixar a senhora preocupada. Coitada depende dos lucros dos pequenos negócios e das ajudas ocasionais que recebe dos três filhos. Realmente, incomodava essas solicitações para patrocinar casamentos, festas de bairro, sentadas de amigos, festivais juvenis, entre outros eventos!

Na tentativa de entender melhor a situação, chamou os vizinhos mais próximos e explicou o que se passava. Os vizinhos disseram que têm conhecimento dos episódios dos últimos tempos e, antes de as solicitações chegarem à dona Paulina, eles tomavam contacto com os pedintes.
- Mas, por que não me pedem mais só conselhos, mas estão vir me pedir dinheiro. Eu que sou 'mbora essa pobretona, vou lhes ajudar de que forma, môs irmãos? - questionou a senhora.
- Na verdade - , tomou a palavra um dos vizinhos -, é que, desde aquele dia que a mãe disse que teu filho é Presidente, todos nós saltamos de alegria. Dissemos que essa senhora que gosta de ajudar, agora que é mãe do Presidente é que vai mesmo já nos safar!

- Ai, môs irmãos, môs filhos e minhas filhas, um dia iam só me matar à toa! Filho que eu disse que é Presidente não é Presidente como o Presidente João Lourenço ou Presidente Zé Eduardo. Nada, não. Ele onde vive, esse meu segundo filho, que nasci já quando minha mãe morreu, é presidente da equipa de futebol de meninos do bairro. Não é presidente desses que mandam no país, nada! Nao é presidente de exonerar ministros, governadores, chefes da empresas do Estado. Não é isso! -, esclareceu dona Paulina.

Depois desse esclarecimento, os vizinhos foram, agora, desfazendo os rumores de que dona Paulina era mãe do Presidente, do Presidente da República. A campanha gizada era para que todos soubessem que a senhora era só mãe de um presidente de uma equipa de futebol de meninos de um bairro.

Mesmo assim, na banda de dona Paulina e arredores, há ainda centenas de pessoas que continuam com a dica de que a kota é mesmo a mãe do Presidente! Aliás, não sei se no gozo ou não, muitos miúdos, mesmo alguns "makota”, quando se deparam com ela, às vezes, não mais a tratam por Mãe Paulina. Gostam de tratá-la já por Primeira-Avó!

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