Opinião

Mala diplomática

Manuel Rui

Escritor

A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (Abril de 1961) é que passou a regulamentar a chamada Mala Diplomática que, numa definição simplista consiste num envelope, uma caixa, um contentor ou qualquer outro volume utilizado pelas missões diplomáticas para envio e recepção de documentos diplomáticos e objetos destinados a uso oficial a coberto da imunidade diplomática.

21/01/2021  Última atualização 08H50
A mala diplomática não pode ser aberta ou retida. Os volumes que constituem a mala diplomática deverão ter sinais exteriores visíveis que indiquem o seu carácter e só poderão conter documentos diplomáticos destinados a uso oficial.

Esta questão da mala diplomática está ligada às imunidades de que gozam não só diplomatas como governantes. Se um presidente organiza uma viagem para visitar outro país, cumprindo as regras protocolares, nenhuma bagagem será revistada. Mas há tristes exemplos como o filho do presidente da Guiné Equatorial que é também vice presidente do pai e que viajou para o Brasil, S. Paulo com uma comitiva de 10 pessoas, sem cumprir as regras protocolares. Aí, não obstante as suas reclamações, as malas foram abertas e não continham nem jinguba nem bombô… mas um milhão e 400 mil dólares, 55 mil reais, cerca de vinte relógios avaliados em 15 milhões de dólares. Justificou-se com consultas e tratamentos a fazer e parte do dinheiro para outra viagem …quanto aos relógios eram de uso pessoal. Reparem na burrice da ostentação. É que se ele tivesse organizado a visita de forma oficial ninguém lhe abria as malas. Interessante é que quer o Brasil quer a Guiné Equatorial são membros da CPLP…e Obianga filho pensou que dentro da comunidade era só voar e aterrar e dizem os mujimbos que o então presidente Cavaco e Silva empurrou Obianga para a conferência sem qualquer votação pois o presidente da Guiné Equatorial já se havia obrigado a comprar a Portugal material para o ensino da língua portuguesa bem como recrutar professores portugueses para o ensino da língua. Foi nesse cepelpismo que o filho entrou no Brasil como o relojoeiro da (des)organização!
Até onde sabemos e pesquisamos, na mala diplomática vai e vem tudo. Vem chouriço, morcela, presunto e vinho e…vai lagosta e gambas Aliás, quando há uma guerra num país africano, da américa latina ou sudoeste asiático, as embaixadas que asilam seus nacionais, mandam vir pela mala diplomática, comes e bebes e outras coisas.

Mas houve um cônsul português, Sebastião Mendes, que salvou cerca de 30.000 pessoas, ajudado por um rabi que asilara no consulado. Arriscou as imunidades no sentido humanitário. E esses judeus conseguiram escapar ao nazismo. Claro que Salazar além de o exonerar, castigou-o até ao confisco da casa do diplomata na sua terra. Nós, nas andanças para demandarmos o reconhecimento na OUA e na ONU, andávamos sem passaporte porque não "existíamos” internacionalmente” como Estado. A Nigéria emprestou-nos um avião e corremos o mundo. Como saíamos e entrávamos não conto por falta de espaço.
Imagine-se quanto dinheiro terá passado na mala diplomática e na sala dos VIPs do aeroporto 4 de Fevereiro!
É de conhecimento geral que a marinhagem estrangeira, principalmente tuga, com tradições de mar, sai à noite em lanchas até à ilha, fugindo ao controlo do porto, para buscar contrabando. Desde liamba a diamantes.
Mas falando em mala diplomática, um diplomata português que veio para Luanda naqueles tempos da guerra e escassez, adorava comer bananas. A mulher em Lisboa, preocupada com a situação do marido, tinha uma embalagem em que mandava bananas para o marido na mala diplomática (contentor). Comprava as bananas na mesma mercearia e eram bananas diferentes das da Madeira, muito maiores. A dona da mercearia explicava que as bananas eram importadas da Costa do Marfim. Do que se passa entre a realidade e a ficção.

 Uns marinheiros tinham um negócio de carregar para bordo bué da cachos de banana para chegar a Portugal quase madura. Era nessas lanchas que falei atrás. Iam à noite buscar os cachos que chegavam a Lisboa quase maduros e abasteciam a mercearia onde a esposa do diplomata comprava bananas para enviar ao marido e ele reconfortar o estômago com bananas de mala diplomática. Que as malas diplomáticas são verdadeiros supermercados com comidas, bebidas, dinheiro lavado e tudo o mais para cumprir as imunidades. Também, quando o diplomata viaja não é revistado. Então, para além da mala diplomática, tem a mala de mão. Salazar quis dar uma finta à opinião pública internacional e introduziu na Assembleia Nacional deputados das colónias. Lembro-me de Burity da Silva que chegou a comendador e o advogado Barros que era virado à independência. Um dia chegou a Lisboa e obrigaram-no a ser revistado. Mesmo naquele tempo foi uma escandaleira e a esquerda portuguesa cantava uma música que estava na moda: "olha a mala/olha a mala/ olha a malinha de mão…”

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