Economia

Malanje: Grandes fazendas projectam boa safra de cereais

Venâncio Victor | Malanje

Jornalista

A fazenda Unicanda, implantada no município de Calandula, em Malanje, numa área de 2. 750 hectares, prevê colher no presente ano agrícola cerca de 14 mil toneladas de milho para abastecer o mercado nacional.

20/02/2021  Última atualização 21H50
fazenda Unicanda, implantada no município de Calandula © Fotografia por: DR
De acordo com o gestor de produção da fazenda,  Evertom Codema, na actual campanha agrícola  está projectada a colheita de 5 toneladas por hectar.
Lamentou o período  de estiagem por que passa a fazenda, o que pode comprometer  as plantas em fase de crescimento.
Everton Codema disse que, não obstante a isso, as culturas  ainda continuam a  resistir à seca que se arrasta há  cerca de 15 dias.

Por seu turno, o gestor administrativo do projecto, Jonatão Timóteo, realçou que,  neste momento, a aposta recai para a produção de milho em grande escala, tendo em conta a grande procura que se faz deste cereal a nível do país.  Janatão Timóteo  informou que durante o ano passado foram cultivados 1500 hectares, contra os 500 hectares  de 2018. Disse estar igualmente prevista a desmatação de outros 500 hectares para o próximo ano agrícola e a implementação, em breve,  de um sistema de rega.

Segundo o gestor, existem várias empresas que têm estado interessadas na aquisição do milho, no caso as unidades fabris de produção de cerveja, como a Cuca , bem como algumas moageiros que operam em Luanda.
Criada há três anos, a  fazenda criou já empregos direitos a 115 trabalhadores, dos quais 100 são jovens locais.
No âmbito da sua responsabilidade social face às comunidades locais, foi construído um posto médico e uma escola do ensino primário.

Jonatão Timóteo disse ainda que almeja a instalação da luz da rede eléctrica para minimizar os custos operacionais.
Manifestou ainda a intenção de recrutar jovens formados no Instituo Médio Agrário de Malanje,  bem como em outras escolas vocacionadas à formação agrícola na província, devendo  nos próximos tempos exercerem   os seus estágios práticos na fazenda Unicanda, com vista à consolidação de conhecimentos adquiridos durante a formação.


Seca prejudica fazenda Cristalina

A estiagem que se prolonga há mais de dois meses afectou cerca de 50 por cento da produção de milho na fazenda Cristalina.
O empreendimento agrícola,  com uma área total de 22 mil hectares,  foi visitado pelo ministro de Estado para a Coordenação Económica, Manuel Nunes Júnior, na semana passada.
A fazenda Cristalina resulta de um investimento privado e prevê para os próximos tempos uma produção de 5 mil hectares de milho e conta com três silos para a sua conservação.

De acordo com o proprietário da fazenda, António  Soares, neste momento estão cultivados 8.20 hectares de milho, tendo aproveitado a visita da delegação ministerial para mostrar ao Governo e aos empresários agrícolas locais de que é possível contribuir na luta para o desenvolvimento da produção nacional.
O responsável disse que a seca vai comprometer as expectativas da  colheita  do milho, que teve início esta semana.
Não  obstante a estiagem, o empresário agrícola espera obter uma safra  na ordem de 6. 2 toneladas por hectar.

António  Soares acrescentou que, para a presente campanha agrícola, prevê-se semear acima dos 2 . 500 hectares, para quem isso constitui uma luta do dia-a-dia, tendo em conta algumas dificuldades associadas à falta de financiamentos.
Disse que seria óptimo se  a banca concedesse   financiamentos para o crescimento dos campos agrícolas porque, como acrescentou, isso é o que se precisa no país para cultivar.
O facto de o Governo  apostar no investimento privado no sector da agricultura,  a fazenda tem procurado dar resposta  no sentido de aumentar a produção.

Outro investimento privado a nível da agricultura empresarial tem a ver com a  fazenda PIP, em Cacuso, que conta com 8 mil hectares, destes estão cultivados 1. 500 hectares, dos quais 500 em regime de sequeiros.
De acordo com uma fonte ligada ao referido empreendimento,  durante a campanha agrícola passada foram  colhidas 6 mil toneladas de milho.

  
Empresários apresentam preocupações

Durante um  encontro que o ministro de Estado para a Coordenação Económica, Manuel Nunes Júnior,  manteve com a classe empresarial e produtores, o  vice-presidente da Câmara de Comércio em Malanje, José Manuel, manifestou preocupação face à falta de financiamentos bancários. O agente económico disse que a falta de créditos tem criado vários constrangimentos à classe, daí que defende uma maior intervenção do Executivo para se levar   a cabo as actividades e aumentar a produção.

O empresário José  Manuel defendeu a necessidade premente da abertura de uma representação do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), em cada província,  para facilitar a tramitação documental para se evitar a morosidade que se regista na avaliação dos processos para a concepção de crédito.
O vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Malanje manifestou igualmente a preocupação pelo facto de os oito agentes económicos seleccionados para a compra e distribuição de produtos não terem sido contemplados todos por alegadamente algumas empresas constarem da lista de devedores. Ainda assim, frisou, foi feita uma carta ao BDA, estando a aguardar a resposta.

José Manuel revelou que a província possui alguns agentes económicos credores do Estado desde 2008  com valores avultados e que nesta altura estão desvalorizados.
" Acreditamos que se se tomasse em conta esta nossa preocupação os referidos agentes económicos teriam cumprido com as suas responsabilidades com as instituições bancárias e ficariam com algum valor monetário para que pudessem realizar outras actividades, pois temos feito vários contactos, mas infelizmente não têm surtido o efeito desejado”, lamentou.

Outra preocupação manifestada pela classe empresarial de Malanje tem a ver fundamentalmente com a necessidade de reparação das vias secundárias e terciárias para impulsionar o desenvolvimento sócio-económico da província.
O empresário José Manuel deplorou os atrasos  na implementação das obras de reabilitação das estradas, no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), o que tem criado enormes dificuldades em termos de circulação rodoviária e no transporte de pessoas e mercadorias.
Cooperativa de transporte de mercadorias

Por seu turno,  presidente da Cooperativa de Transporte e Logística Agrícola de Malanje, Rui Abel, destacou a criação do plano de viabilidade económica e financeira para apresentação a instituições, para a compra e transporte das mercadorias do campo para os centros de consumo e defendeu a necessidade do apoio do Executivo na abertura dos primeiros financiamentos.

Criada em finais do ano passado, a cooperativa, apesar de ainda não ter o domínio de como vai desenvolver a actividade, espera contar com o apoio do Executivo e do sector do Comércio para se alcançar os objectivos preconizados.
Por outro lado, a cooperativa está a cuidar de tratar o alvará de transporte de mercadorias e até ao final deste mês apresentar o estudo de viabilidade para poder desenvolvê-la. Outro problema apresentado pela Cooperativa de Transporte de Mercadorias tem a ver com o facto de os camponeses terem já definidos os preços dos diferentes produtos.

"Hoje é fácil chegar em Luanda e saber o preço de um produto, logo no campo vão querer este preço na venda de um determinado produto”, disse Rui Abel, acrescentando que, por este facto,  a cooperativa, na qualidade de intermediária, poderá ter algumas despesas associadas e logo quando vai comprar no campo não terá preços para vender aos agentes de consumo.

Esta situação, frisou, vai ter que ser trabalhada, a par de algumas preocupações que têm a ver com os benefícios fiscais, mais concretamente a falta de cadastramento dos agricultores a nível das finanças para passarem a emitir facturas para uma cooperativa devidamente legalizada, o que pode inviabilizar um determinado projecto.
O presidente da Cooperativa de Transporte e Logística Agrícola de Malanje, Rui Abel,  defendeu, por isso, uma maior coordenação entre as finanças e as cooperativas para poder legalizar os seus agricultores.

Disse esperar ainda que, no futuro, haja um projecto que tem a ver com a existência de um potencial produtor  com 80 por cento da produção da mandioca, para a transformação deste produto a nível da província de Malanje.  Refira-se que o Governo vai lançar, brevemente, o concurso para distribuição de 500 viaturas para os agentes económicos de transporte de mercadorias a nível de todo o país, conforme anunciou em Malanje o ministro do Comércio, Víctor Fernandes, aquando da visita do ministro de Estado para a Coordenação Económica, Manuel Nunes Júnior.

Por sua vez, os responsáveis de cooperativas agrícolas, em Malanje, manifestaram preocupação face à morosidade nos processos para concessão  do crédito a nível da banca, no âmbito das medidas de alívio económico, uma vez que o ano agrícola já teve início de um tempo a esta parte.

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