Desporto

Médico do 1º de Agosto defende nova pré-época

Honorato Silva

Jornalista

No limite da resistência mental, após ver adiado o levantamento da quarentena institucional de 14 dias, de terça-feira para ontem, pelos serviços de Saúde Pública integrados na comissão de combate à pandemia da Covid-19, o médico cubano Virgilio Paez traçou o cenário de re-gresso à competição da equipa de futebol do 1º de Agosto, nomeadamente a realização de uma pré-época.

21/01/2021  Última atualização 10H53
Jogadores do conjunto militar do Rio Seco estão ansiosos para retornar à actividade © Fotografia por: Alberto Pedro|Edições Novembro
O responsável clínico do plantel militar, que também cumpriu o confinamento, por ter trabalhado no jogo frente ao Kaizer Chiefs da África do Sul, referente à segunda "mão” da derradeira eliminatória de acesso à fase de grupos da Liga dos Clubes Campeões, descreveu o actual momento da equipa.

"Vamos necessitar de realizar uma pré-época. É im-portante que todo o mundo perceba a situação da equipa de futebol do 1º de Agosto. Se não tivermos tempo para reactivar, a nossa situação, nessa primeira etapa de competição, será muito difícil. Precisamos elevar a equipa à capacidade que tinha com 12 semanas de treinos, de carga acumulada, e agora ficámos 14 dias em repouso, deitados. Assim é quase im-possível manter uma equipa na alta competição desportiva, como é o Girabola, com os jogos a cada três/quatro dias. A parte da recuperação é muito complicada, para todo o mundo”.

O especialista considerou a paragem muito prolongada, num momento em que a equipa, às ordens do português Paulo Duarte, estava a entrar "numa boa fase”. Deste modo, sublinhou, tudo tem de ser visto ao mínimo detalhe. Desde a administração de cargas aos jogadores, porque o treino desportivo é como a construção de um edifício, que começa na preparação do terreno, de-pois o lançamento da primeira pedra.

Num apelo à pedagogia e metodologia do treino, Virgilio Paez destacou o facto de a carga desportiva não ser permanente, por isso esti-ma que em 15 dias a equipa, já com quatro partidas em atraso no Girabola, baixou até 70  por cento a carga física acumulada para responder à intensidade dos jogos: "O esforço físico necessita de oxigénio e sangue. Quando o nosso coração está parado muito tempo, diminui a força com que pode impulsionar o sangue dos vasos sanguíneos, para chegar às pernas e regressar ao coração”.


Físico comprometido

Do ponto de vista físico, lamentou-se o clínico, as paragens são frustrantes para os treinadores, atletas e equipa médica. "Um desastre para a actividade desportiva. Em 14 dias, 90 por cento do tempo estamos deitados numa cama. Com um espaço limitado para realizar o treino individual”.  
Entre as perdas provocadas pelo confinamento, destacou as cargas acumuladas, que permitem ao atleta en-frentar o dia a dia de preparação e os jogos. Lutar em condições físicas adequadas pela vitória, pois aqueles que mais empenho têm no treino, obtêm mais resultados na actividade desportiva.

"A paragem forçada provoca uma diminuição muito intensa das capacidades neuromotoras e proprioceptivas do organismo. São aquelas condições que nos permitem solucionar problemas dentro do campo. Temos uma redução das capacidades cardiorespiratórias, que nos dão soluções para poder correr. Que nos permitem utilizar o maior volume de oxigénio. O treino cardiovascular é importante para competir. As nossas condições de poder lutar de igual para igual com as demais equipas são muito reduzidas”, confessou.

A necessidade de uma nova pré-época é explicada pelo facto de quem está parado ter dificuldades na recuperação cardiovascular. "O nosso desporto, o futebol, é de  constantes movimentos intensos, sem paragem para respirar. Temos de ter um coração muito bem treinado e uma capacidade respiratória muito bem treinada. Os efeitos da paragem em todos esses sistemas, cardiovascular, muscular-esquelético e energético, são graves”. 


Sensação de impotência

A finalizar, o médico abordou à disposição mental dos atletas, que adoptam comportamentos próprios de pessoas que estão confinadas, limitação nos movimentos, na alimentação, na expressão e na comunicação, apesar da existência das mínimas condições. "Ficámos em quartos isolados, sem contacto com o exterior. Os atletas estão abalados. Isso traz sentimento de frustração, limitação e impotência. Felizmente contamos com o nosso motivador, Victor Hugo, que está a fazer um trabalho específico, colectivo e personalizado, com todos os atletas que se sentem desamparados. Mas estão com desejo de treinar. Sair daqui e resolver o problema dentro do campo, nos treinos e depois no jogo. O mais importante é reincorporar os treinos. Essa é a solução do ponto de vista da psicologia, para um grupo que está confinado”. 

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Desporto