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Moçambique : “Duro golpe” na estratégia da luta contra grupos armados

Analistas políticos defendem que a morte, por doença, do chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), Eugénio Mussa, é “um duro golpe” na estratégia de combate aos grupos armados em Cabo Delgado.

13/02/2021  Última atualização 19H14
General Eugénio Mussa era tido como peça importante na estratégia de Nyusi contra a rebelião © Fotografia por: DR
Eugénio Mussa morreu, na segunda-feira, em Maputo, vítima de doença, anunciou em comunicado o Ministério da Defesa Nacional de Moçambique.
Muhamad Yassine, especialista em Relações Internacionais e docente na Universidade Joaquim Chissano, afirmou, quinta-feira, à agência Lusa que a morte de Eugénio Mussa abalou as expectativas do Presidente moçambicano de impor o poderio das FADM na guerra contra os grupos armados, atendendo que o mi-litar comandou o "Teatro Operacional Norte”, que cobre a província de Cabo Delgado, na luta contra os insurgentes na região, antes de passar a chefe do Estado-Maior General.

Para o académico, o facto de Eugénio Mussa ter combatido com aparente sucesso em Cabo Delgado antes de ser promovido para a função em que ficou por algumas semanas também gerava confiança no Presidente da República, Filipe Nyusi, e na opinião pública em relação à guerra naquela província.
"O pouco tempo em que ficou na última função que exerceu e o facto de as matérias de cariz militar serem tratadas com rigoroso sigilo em Moçambique tornam uma incógnita a estratégia que Eugénio Mussa iria seguir na guerra em Cabo Delgado, mas todos os sinais indicavam que o Chefe de Estado confiava no rumo que o seu general iria dar às acções combativas”, disse Muhamad Yassine.

Juma Aiuba, analista radicado na província de Nampula, Norte do país, onde também nasceu Eugénio Mussa, considerou a morte do oficial "uma contrariedade”, uma vez que tinha trazido uma grande esperança na capacidade de derrotar os grupos armados em Cabo Delgado.
Com Eugénio Mussa no comando do Teatro Operacional Norte e depois na chefia do Estado-Maior General, "os grupos armados que actuam em Cabo Delgado pareciam estar recolhidos aos seus redutos e incapazes de protagonizar ataques ousados, numa base diária”.

Aiuba disse ainda que os "elogios sentidos às qualidades de Eugénio Mussa” por parte do Chefe de Estado du-rante as exéquias mostram que Nyusi tinha uma confiança pessoal no militar e na sua capacidade de conduzir a guerra em Cabo Delgado.


  Guerra é uma "questão de Estado”

Ivan Mazanga, especialista em Relações Internacionais, afirmou que as FADM precisam rapidamente de "institucionalizar e socializar-se na estratégia e espírito de combate” que Eugénio Mussa deixava transparecer.
"Seria um erro se a estratégia de guerra em Cabo Delgado estivesse personificada em Eugénio Mussa, porque era o fim dessa estratégia, as FADM precisam de institucionalizar e socializar-se no espírito de combate que ele transparecia, pelo menos no seu discurso”, frisou.

Ivan Mazanga assinalou que a violência armada é sempre uma questão de Estado cuja abordagem deve ultrapassar a esfera da competência de uma pessoa, como o general Eugénio Mussa, apesar da "grande influência que os grandes líderes militares exercem sobre as suas tropas”.
No discurso que proferiu durante a cerimónia oficial das exéquias, o Presidente moçambicano descreveu Eugénio Mussa como um militar determinado com a erradicação do terrorismo.
A violência armada em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba. Algumas das incursões de insurgentes passaram a ser reivindicadas pelo grupo "jihadista” Estado Islâmico desde 2019.

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