Coronavírus

Mortalidade indirecta ultrapassará mortes da pandemia, diz o PNUD

A mortalidade indirecta provocada pela desaceleração económica em África irá ultrapassar, em 2030, a mortalidade por Covid-19, sobretudo devido a doenças transmissíveis evitáveis, prevê um novo estudo das Nações Unidas sobre o impacto da pandemia no continente.

18/03/2021  Última atualização 10H59
O estudo, quinta-feira apresentado numa iniciativa do Programa da Chatam House para África, analisa os impactos socio-económicos da pandemia de Covid-19 a longo prazo, em diversos contextos africanos, e incidiu sobre 10 países no continente, incluindo os lusófonos Angola e Cabo Verde.

"Com o tempo, muitas mais pessoas vão morrer ou porque não têm acesso a cuidados de saúde primários, ou por causa das capacidades limitadas dos sistemas de saúde, que estão a ser direccionadas para a Covid-19", disse Raymond Gilpin, economista do Gabinete para África do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que coordenou o estudo.
A análise apontou que a Covid-19 faz aumentar o risco de "mortalidade persistente" até 2030, bem como de efeitos económicos agravados até 2040 ou 2050.

"A Covid-19 não é apenas uma crise de saúde actual, é uma potencial crise de saúde futura, porque, mesmo que tenhamos a vacina, a imunidade de grupo e o controlo da pandemia, os efeitos nos sistemas de saúde persistirão por muitos anos", acrescentou.
Num cenário optimista, em 2030, haverá aumentos da mortalidade em resultado da diarreia (+4%), malária (+5,4%) e infecções respiratórias (+4%).

Num cenário mais pessimista e de forte desaceleração económica, registar-se-iam importantes crescimentos na mortalidade por diarreia (+12,7%), malária (+15,8%) e infecções respiratórias (+12%). O estudo prevê ainda que a mortalidade das crianças abaixo de 5 anos venha a ser responsável por mais de 80% da mortalidade indirecta.
"Sem acções políticas, a Covid-19 ameaça aumentar significativamente a mortalidade infantil na próxima década", alertou o PNUD.

A abordagem do PNUD assinalou, por outro lado, a influência determinante dos parceiros comerciais nos impactos da Covid-19 no continente.
"Os países mais integrados nas cadeias de valor globais tendem a ser muito mais vulneráveis e susceptíveis a impactos adversos, a longo prazo", apontou, sublinhando que os efeitos imediatos da pandemia não estão directamente relacionados com os níveis de desenvolvimento económico e humano pré-Covid-19.

Cabo Verde e Maurícias, por exemplo, têm um Produto Interno Bruto (PIB) relativamente elevado (entre os 10 países analisados) e bons níveis de desenvolvimento humano, mas estão entre os países mais duramente atingidos em termos de queda do PIB e são mais afectados pelas reduções nos fluxos internacionais, referiu o estudo.

"Podemos dizer que a África tem sofrido menos com o impacto da Covid-19, em comparação com outras regiões, em termos de vidas humanas perdidas, mas a situação não é menos dramática em termos de consequências económicas e sociais, devido às suas muitas fraquezas", disse, por seu lado, a directora-adjunta do Gabinete Regional para África do PNUD, Noura Hamladj.

Noura Hamladj lembrou que apenas 10 países africanos representam mais de 80% dos casos de Covid-19 no continente, destacando os "impactos particulares" sobre os países insulares, a "evidente" diferenciação entre as zonas rurais e urbanas e as implicações socio-económicas que "revelam desigualdades de género".

O relatório apontou, por outro lado, que a pandemia "é susceptível de causar uma mudança geral de direcção de África para a China" e um afastamento da União Europeia (UE) e da Índia, como principais parceiros comerciais.

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