Política

Mulheres representaram 13 por cento dos mediadores de paz e segurança

Edna Dala

Jornalista

As mulheres representaram, no período entre 1992 e 2019, 13 por cento dos negociadores dos processos de paz e resolução de conflitos no mundo, revelou, ontem, em Luanda, a ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira.

21/01/2021  Última atualização 10H25
© Fotografia por: DR
Ao discursar na cerimó-nia de abertura da mesa-redonda sobre "A participação da Mulher nos processos de paz e resolução de conflitos”, Carolina Cerqueira destacou que, de acordo com dados estatísticos, no mesmo período, as mulheres representaram 6 por cento dos signatários dos processos de paz e resolução de conflitos.
Apesar dos progressos alcançados, realçou, os resultados continuam muito distantes dos objectivos fixados, pois a implementação das questões relacionadas com a Mulher, Paz e Segurança, ainda são pouco visíveis. Lamentou o facto de ainda existirem barreiras para a inclusão de mulheres nos processos de mediação e de negociação nos grandes processos de Paz, através de uma maior representatividade nas delegações de alto nível.
A ministra de Estado para a Área Social considera "muito lentos” os níveis de progressos relacionados com a participação das mulheres nos processos de paz, resolução de conflitos e pós - conflitos, apesar de os factos mostrarem que quando as mulheres se sentam à mesa de negociações, maiores são as probabilidades de os acordos de paz serem mais sustentáveis.

"Estas preocupações estão intrinsecamente ligadas aos problemas enfrentados pelas mulheres e crianças nas zonas de conflito e pós-conflito, expandindo deste modo a área de intervenção no que diz respeito à sua participação não como vítimas destes processos, mas como partícipes e potenciais mediadoras para a redução dos riscos”, disse.
Carolina Cerqueira de-fendeu a necessidade de se antecipar e reagir aos riscos de violência, abuso, exploração, discriminação e outras formas de violação dos direitos, com vista a garantir especial atenção aos grupos vulneráveis, como mulheres e crianças.
"A voz e a vez das mulheres podem agregar mais valor à paz e à segurança internacional, pelo que é imprescindível que os conflitos sejam substituídos pelos compromissos de todos, através de acções quotidianas, como gestos de boa vontade, compaixão e solidariedade humana, numa altura em que o distanciamento físico necessita de afectos e de união entre todos.

Resolução 1325
Carolina Cerqueira recordou que a Resolução 1325 do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre Mulher, Paz e Segurança reforça a importância da participação e do envolvimento das mulheres nos esforços de manutenção e promoção da paz, segurança, prevenção e resolu-ção de conflitos e operações de paz.
"A Resolução criou uma base política internacional que sustenta a promoção da transversalidade da igualdade de género em países em processos de conflito armado e de recuperação de conflitos, como de países em paz, em fase de reconciliação e re-construção nacional, como é o caso de Angola, cujo processo de pacificação orgulha a todos a nível regional e internacional”, frisou.

Marginalização das mulheres

A ministra de Estado para a Acção Social recordou que, durante décadas, as mulheres foram, e continuam a ser, vítimas de guerras, bem como são ainda marginalizadas em assuntos de política e processos diplomáticos.
"Eram predominantemente alvo de violação dos direitos humanos e abusos sexuais, além de serem manipuladas como armas de guerra. Apesar de serem mais propensas a rejeitar a guerra, as mulheres e as crianças são as que mais sofrem as consequências ne-gativas dos conflitos armados”, sublinhou.
Carolina Cerqueira frisou que os processos mais influentes de resolução de conflitos,  normalmente, não dão espaço merecido às mulheres, no que diz respeito às negociações, tomadas de decisão, liderança local e a participação nas operações de paz, o que provoca desigualdades de género, persistência das relações de poder desiguais, a violência  de género e a limitação das capacidades evolutivas dos processos de resolução para a construção e manutenção da paz.

  Covid-19 e crise económica

Carolina Cerqueira disse que a crise global da Co-vid-19 agravou a situação existente, aumentando, assim, os níveis de pobreza extrema em todo o mun-do. Acrescentou que a contracção económica, afectada por conflitos, poderá lançar entre 18 e 27 milhões de pessoas na pobreza extrema.
Nestes processos, disse,  as mulheres devem ter um papel cada vez mais presente, activo e reconhecido, pois a construção da paz e da segurança, sob perspectiva de género, ainda é limitada.
"As questões referentes à paz e à segurança constituem pedras basilares para o desenvolvimento sustentado, a equidade e a justiça social, sendo, por isso, um grande desafio aumentar a participação das mulheres nos processos de paz e de segurança como intervenientes de pleno direito”, defendeu.

Papel das mulheres nos conflitos armados

Por seu turno, a ministra da Acção Social, Família e Promoção da Mulher afirmou que o múltiplo papel das mulheres nas guerras e nos conflitos armados é, geralmente, desconhecido, que não são chamadas às mesas das nego-
ciações de paz e não lhes é permitido uma participação plena de igualdade na implementação dos direitos humanos e da justiça.
Faustina Alves recordou que, em 2000, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a Resolução 1325, onde, pela primeira vez, se referiu às experiências e contribuições das mulheres no contexto de paz e segurança.

Este marco, adiantou, veio permitir a participação plena e igual das mulheres e a integração do género em todas as iniciativas de paz e segurança. A igualdade de género e o empoderamento económico da mulher, acrescentou, constituem uma prioridade a nível político e uma premissa das estratégias para o alcance dos objectivos na redução dos índices de pobreza em Angola, cuja matéria envolve todos os sectores e programas do Executivo.
O Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2018/2022, disse, propõe-se em corrigir os constrangimentos e dificuldades derivados de factores objectivos e subjectivos e a melhorar progressivamente os mecanismos de execução, com vista a promover a dignidade da pessoa humana.

ONU: Angola ocupa uma  posição privilegiada

A coordenadora do Sistema das Nações Unidas felicitou Angola por juntar-se aos primeiros 60 Estados-membros, e um dos primeiros países africanos, que se disponibilizaram a co-patrocinar o compromisso de Hanói para a acção sobre "Agenda Mulheres, Paz e a Segurança”.
Zahira Virani realçou ainda que a ONU tem Angola como um parceiro estratégico e importante catalisador nesta matéria.  O papel desempenhado por Angola, reforçou, coloca o país numa posição privilegiada para advogar, promover e assegurar a implementação da Resolução 1325 e o compromisso de Hanói.

"Esta Agenda, apoiada também pela União Africana, é ainda mais crucial num contexto pós-Covid-19, onde as mulheres e meninas sofrem mais o impacto da pandemia e precisam de todos os esforços para não serem deixadas para trás”, disse.  
 A coordenadora do Sistema das Nações Unidas frisou que "a paz passa por conseguirmos uma maior igualdade de género, uma participação efectiva que as mulheres podem acrescentar aos processos de paz”.
O ministro do Interior, Eugénio Laborinho, sublinhou que "não podemos continuar a encarar a mulher somente como uma doméstica, dona de casa e governanta, quando ela tem muito mais valências do que isso”.

"A valorização das mulheres na gestão de grandes conflitos, é um facto inequívoco e tem  demonstrado em várias paragens, que atingir os mais altos patamares, tradicionalmente geridos por homens, o que demonstra que o sexo não determina o profissionalismo em determinados ramos laborais”, disse.
Prestigiaram a mesa-re-donda, a ministra da Juventude e Desportos, Ana Paula do Sacramento Neto, o ministro da Defesa Nacional e Veteranos da Pátria, João Ernesto dos Santos "Liberdade”, deputadas à Assembleia Nacional,  a governadora da província de Luanda, Joana Lina, efectivos da Polícia Nacional, Serviços Prisionais e a secretária de Estado das Relações Exteriores.
Fizeram parte da mesa-redonda a secretária-geral da OMA, Luzia Inglês, e a deputada da UNITA Miraldina Jamba, que apresentaram as suas experiências enquanto mulheres e mães.




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