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Myanmar: ONU alerta militares sobre "graves consequências"

As Nações Unidas alertaram os militares de Myanmar que haverá graves consequências para qualquer repressão brutal aos protestos em curso contra o golpe de Estado do dia 1 de Fevereiro no país asiático.

16/02/2021  Última atualização 19H21
Apesar da tropa estar nas ruas, as manifestações continuam nas principais cidades do país © Fotografia por: DR
O medo de represálias é grande, uma vez que os últimos levantamentos populares, de 1988 e 2007, foram reprimidos com violência pelos militares.
A enviada especial da ONU, Christine Schraner Burgener, disse que o direito à liberdade de reunião deve ser plenamente respeitado no país asiático. Ela também criticou os cortes da Internet, que "minam princípios democráticos básicos".

O acesso à Internet em Myanmar foi restabelecido na manhã de ontem, depois de ter sido cortado pela segunda noite consecutiva, dentro de uma atmosfera de tensão que se vive no país, depois do Exército ter colocado tropas nas ruas para reprimir o movimento pró-democracia.
A ONU comunicou que o alerta de Schraner Burgener foi transmitido à Junta Militar de Myanmar por meio de um telefonema dela com o vice-chefe Soe Win.

A Junta Militar que assumiu o poder no país negou que a deposição do Governo eleito tenha sido um golpe de Estado e afirmou que as fraudes na eleição de Novembro passado justificaram a acção.
Os militares acrescentaram que vão entregar o poder depois de uma nova eleição, mas não citaram data para um novo escrutínio. O Estado de Emergência foi decretado por um ano.
Protestos apesar de tropas nas ruas

A situação é tensa em todo Myanmar. O movimento de desobediência civil continua a desafiar a repressão dos militares, apesar da presença de tropas nas ruas.
A Junta Militar também tem bloqueado as redes sociais, como o Facebook e o Twitter, para impedir a organização de mobilizações, ao mesmo tempo que reformulou as leis para bloquear os direitos fundamentais e permitir detenções arbitrárias.

Em Mandalay, a segunda maior cidade do país, a polícia e soldados dispararam indiscriminadamente, na segunda-feira, para dispersar uma manifestação, enquanto em Rangum, a cidade mais populosa, os grupos de manifestantes mostraram a rejeição da Junta Militar com bandeiras que diziam "acabem com a ditadura" à medida que tanques e camiões militares passavam.

Um dos trunfos mais eficazes do movimento de desobediência civil contra o golpe são as greves iniciadas pelos trabalhadores do sector da Saúde e que estão a ser seguidas por muitos funcionários públicos, causando a paralisação da Administração. Uma das exigências dos manifestantes é a libertação da líder eleita Aung Saan Suu Kyi, que está sob prisão domiciliar desde que o Exército tomou o poder. Ela deverá ficar detida, pelo menos, até hoje.

Após a deposição, ela foi acusada de burlar a lei de importação e exportação por ter walkie-talkies em casa. O advogado dela disse, ontem, que também será acusada no âmbito da lei de gestão de desastres naturais, que foi usada para punir pessoas que desrespeitaram medidas para conter a pandemia da Covid-19.


Fim da transição democrática

Um total de 426 pessoas foram detidas desde o início da revolta militar, que pôs fim a uma frágil transição democrática de dez anos.
No dia 1 de Fevereiro, o Exército prendeu a chefe do Governo civil, Aung Saan Suu Kyi, o Presidente Win Myint e vários ministros e dirigentes do partido governamental, proclamando o Estado de Emergência e colocando no poder uma Junta de generais.

Os militares disseram que Saan Suu Kyi e Myint estão em segurança.
União Europeia, Estados Unidos, ONU, Japão, França e Reino Unido criticaram de imediato o golpe de Estado promovido pelos militares no país. Nos dias seguintes ao golpe militar, sucessivos protestos ocorreram em várias cidades de Myanmar, e a tensão nas ruas mantém-se, apesar da Junta Militar ter decretado a lei marcial.

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