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Nyusi orienta operações “num cenário de guerra”

A Frelimo rejeitou, ontem, segundo a Lusa, as acusações de que o Presidente de Moçambique e do partido no poder, Filipe Nyusi, esteja em “silêncio” sobre os ataques de grupos armados a Palma, referindo que o Chefe de Estado está a “orientar pessoalmente as operações num cenário de guerra”.

02/04/2021  Última atualização 12H40
© Fotografia por: DR
Organizações da sociedade civil divulgaram uma carta aberta a exigir que Filipe Nyusi informe pessoalmente a nação sobre os ataques de há uma semana a Palma e a situação humanitária provocada pelas investidas de grupos armados na vila e na província de Cabo Delgado.Em resposta às preocupações da sociedade civil moçambicana, o porta-voz da Frelimo defendeu que o Chefe de Estado não pode vir "todos os dias” pronunciar-se sobre o tema, mas acompanha a situação e está a orientar as operações.

 "O Presidente está a acompanhar e a dirigir pessoalmente estas operações”, sublinhou Caifadine Manasse, sem dar mais detalhes sobre a actuação de Filipe Nyusi desde os ataques a Palma.Sobre as preocupações em relação ao respeito aos direitos humanos pelas partes em conflito em Palma e na província de Cabo Delgado, o porta-voz da Frelimo defendeu que as Forças de Defesa e Segurança têm actuado  dentro da lei, reconhecendo tratar-se de uma "questão complexa”, considerando o cenário de guerra prevalecente."Estamos num teatro de operações, os moçambicanos estão a ser chacinados, estão a ser mortos e quando as pessoas são mortas, muitos que falam de direitos humanos não aparecem para dar esta contribuição”, frisou.

Ainda ontem, a Comissão Política da Frelimo emitiu um comunicado onde assegurou que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) "tudo têm feito” para garantir a segurança e o sossego na região Norte, face aos ataques de grupos armados."A Comissão Política saúda o trabalho das Forças de Defesa e Segurança, que tudo têm feito para garantir a segurança e sossego das populações”, refere um comunicado de imprensa daquele órgão da Frelimo, a que a Lusa teve acesso.

O partido no poder assinala que os "ataques e a brutalidade” de grupos armados na província de Cabo Delgado estão a provocar "sofrimento e drama às populações”. "Os ataques terroristas têm vindo a causar mortes, deslocados no seio das populações e destruição de infra-estruturas, actos que minam a tranquilidade e ordem públicas”, refere-se no comunicado.Na quarta-feira à tarde, Filipe Nyusi tinha dito que o ataque a Palma "não foi maior do que tantos outros” protagonizados pelos grupos armados que actuam em Cabo Delgado, assegurando que segue "segundo a segundo” as operações no terreno.

O Chefe de Estado falava durante a inauguração da delegação do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), no distrito de Matutuíne, província de Maputo, Sul do país.A referência aos acontecimentos em Palma foi a primeira do Presidente moçambicano ao assunto, interrompendo um silêncio que levou 18 organizações da sociedade civil a "exigir”, em carta aberta, uma "informação” sobre os ataques e o drama humanitário que se instalou no Norte do país.O Chefe de Estado moçambicano acrescentou que o "impacto” do ataque a Palma deve-se ao facto de "ter sido uma zona na periferia dos projectos em curso naquela província”.

A vila de Palma situa-se a cerca de 25 quilómetros da área em que se desenvolve o projecto de gás natural do consórcio liderado pela multinacional Total, em Afungi, província de Cabo Delgado, Norte do país, no que será o maior investimento privado em África."O nosso apelo é simples, não percamos o foco, não fiquemos atrapalhados, vamos abordar o inimigo como temos estado a fazer, com alguma contundência, como as Forças de Defesa e Segurança estão a fazer”, destacou Filipe Nyusi. A falta de concentração serve "os interesses dos inimigos internos e externos”, declarou, sem concretizar. "Temos estado, de segundo a segundo, a seguir o trabalho que os jovens (das Forças de Defesa e Segurança) no terreno estão a fazer”, enfatizou.

Ontem, o Presidente do Zimbabwe, Emmerson Mnangagwa, recebeu, em Harare, o seu homólogo do Botswana, Mokgweetsi Masisi, com quem discutiu a actual situação prevalecente em Moçambique, tendo ficado decidido uma abordagem conjunta por parte de SADC para a preparação de um plano de ajuda ao país vizinho.Ainda ontem, a União Africana lançou um apelo no sentido de ser prestada uma ajuda urgente a Moçambique para travar a acção dos insurgentes.Até agora, Maputo tem recusado qualquer tipo de auxílio militar directo, aguardando para a resolução do problema.
  Nações Unidas registam 5.300 deslocados
As Nações Unidas anunciaram, ontem, que registaram, pelo menos, 5.300 deslocados na sequência do ataque da semana passada à vila de Palma, mas o número deverá aumentar nos próximos dias."O número de deslocados aumentou desde a publicação da actualização e temos agora registadas mais de 5.300 pessoas nos pontos de chegada nos distritos de Nangade, Mueda, Montepuez e Pemba”, afirmou o porta-voz em Moçambique do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA). "Estes números deverão aumentar nas próximas horas e nos próximos dias”, acrescentou Saviano Abreu, em declarações aos jornalistas.A vila de Palma, cerca de 25 quilómetros do projecto de gás natural da multinacional Total, sofreu um ataque armado na quarta-feira da semana passada que as autoridades moçambicanas dizem ter resultado na morte de dezenas de pessoas e na fuga de centenas.
A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados, segundo agências da ONU, e mais de duas mil mortes, segundo uma contabilidade feita pela Lusa.Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.

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