Opinião

O impacto da tecnologia 5G no desenvolvimento das economias africanas

Juliana Evangelista Ferraz |*

Cinco anos passam desde que, em Davos, o Fórum Económico Mundial debateu a 4ª Revolução Industrial e o seu impacto económico e social na economia mundial. Com o aparecimento da máquina a vapor, no século XVII, deu-se início a 1ª Revolução Industrial, que foi precedida por mais duas revoluções - a da electricidade e da cadeia de montagem - e a terceira, marcada pela electrónica e a robótica.

11/05/2021  Última atualização 06H05
A 4ª Revolução Industrial, que vivemos hoje, caracteriza-se pelo aprofundar e o desenvolver de um conjunto de tecnologias, que vão desde a robótica, inteligência artificial, realidade aumentada, big data (análise de volumes massivos de dados), nanotecnologia, impressão 3D, Internet, etc, tecnologias disruptivas que estão a alterar de forma consistente a maneira como hoje vivemos e olhamos o mundo. Nesta perspectiva, o petróleo do século XXI é, sem dúvida alguma, aos dados e "poder” residirá no controlo de dados, ou seja, quem controla os dados e de que forma vai utilizá-los. Para além das tecnologias atrás referida a questão da infra-estrutura e da velocidade continua a ser um tema absolutamente fulcral do desenvolvimento tecnológico, sendo factores mais importantes da 4ª Revolução Industrial, associada à tecnologia 5G, considerada a quinta geração da velocidade de comunicação. A ser implementada, vai revolucionar os processos tecnológicos de tal forma, que surgiram alterações muito significativas na forma como comunicamos e gerimos a informação.

A grande questão que se coloca prende-se com o facto de como os países que ainda não passaram pela 2ª Revolução Industrial, muitos deles em África, Asia, América Latina, irão absorver os ganhos da 4ª Revolução Industrial, sabendo que alguns estão numa fase de diversificação económica, implantação da indústria transformadora, etc. Essa questão é muito importante, pois existem correntes que afirmam que a 4ª Revolução Industrial pode aumentar ou agravar o grau de desigualdade entre países, sociedades e grupos, na medida em que os mais pobres não poderem aceder aos benefícios directos das novas tecnologias e terem acesso apenas os países mais ricos.A Organização Mundial do Trabalho prevê que, no período pós pandemia, as economias serão impactadas por megatendências, como, por exemplo, a digitalização, tendência que se tornou mais evidente com o aparecimento da pandemia. A pergunta que se coloca, a nível do continente africano, é saber que países estão melhor preparados para enfrentar o cenário que está prestes a eclodir e que opções e caminhos foram definidos para que África possa realmente perseverar.

É necessário operar o choque cultural das elites africanas, sobretudo aquelas que estão fortemente ligadas à transformação social, como as políticas, académicas e empresariais, porque só com o aporte das mesmas poderemos realizar o ajuste mental, suficiente para realizar a transformação tecnológica. Dai, destacar as medidas de politicas que foram implementadas pelas economias avançadas, principalmente a nível da digitalização. Um pouco por todo mundo são visíveis os programas de apoio e fomento à digitalização das referidas economias, que querem ver implementada a tecnologia 5G. Portanto, são esperados avanços significativos com a implementação desta tecnologia, em vários sectores da actividade, como em áreas abaixo: • Agricultura Digital: Serão desenvolvidas novas informações precisas e detalhadas referentes aos solos apropriados a determinadas culturas, dados concisos sobre a meteorologia, localização por geo-referências de projectos, apoio na prevenção e tratamento de pestes nas plantações; • Indústria Digital: os processos industriais serão mais flexíveis e automatizados, sendo que a operacionalização irá impactar no aumento da produtividade e competitividade;

• Saúde Digital: A tecnologia 5G neste sector desencadeará uma medicina mais avançada, com identificação de diagnósticos mais precisos, com elevada qualidade e segurança, assim como tratamentos e cirurgias de forma virtual e por meio de robôs;• Educação Digital: no sistema de educação, o acesso a novas plataformas, que ajudarão o ensino à distância, com novas funcionalidades e preciosismo;• Cidades Inteligentes: nas cidades, a implementação da tecnologia 5G ajudará na monitorização do tráfego, controlo de iluminação nas vias públicas de forma automatizada, controlo de sistemas de transportes, etc.Esses sectores, além dos demais, foram alvo de um processo de aceleração tecnológica, com a alteração dos seus modelos, e esperam-se resultados interessantes na economia e na vida dos cidadãos, que irão experimentar novos serviços.

No que diz respeito à economia africana, um dos obstáculos ao crescimento das empresas é a ineficiência da infra-estrutura, porque sem a adequação da mesma torna-se difícil aumentar a produtividade e competitividade. Há ainda outros entraves, como os que se relacionam com as condições de negócios existentes. As empresas africanas têm pago uma factura elevada com os custos indirectos derivados da obsolescência da infra-estrutura, que rondam os 30% da estrutura de custos. Este ónus retira-lhes a capacidade de se tornarem mais competitivas, "esmagando brutalmente” as margens de lucro. A título de exemplo, podemos observar o peso excessivo que as mesmas incorrem, em termos de custos de transporte, instalação, distribuição, em muitos casos incompatíveis com a rentabilidade esperada.  Deste modo, torna-se necessário melhorar o ambiente de negócios e promover a captação de investimento estrangeiro fora dos sectores tradicionais, uma vez que, nas últimas décadas, o investimento estrangeiro dirigiu-se particularmente para o sector mineral, ignorando outras áreas de investimento com um potencial extraordinário de desenvolvimento.
*Economista 

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