Opinião

O impeachment de Trump

Sousa Jamba

Jornalista

Donald Trump passa a ser o primeiro Presidente na História americana a ter o seu mandato impugnado (através de um impeachment) pela Câmara dos Representantes, por duas vezes. Agora o Senado vai lhe julgar por incitar à insurreição. Ao ser condenado pelo Senado, Trump nunca vai poder participar da política. O Presidente Trump é, hoje, já tido como um dos piores líderes dos Estados Unidos dos nossos tempos.

15/01/2021  Última atualização 08H30
A semana passada, os apoiantes de Trump invadiram o Capitólio, enfurecidos, dando eco às alegações do Presidente Trump de que as eleições de Novembro passado, que resultaram na eleição de Joseph Biden, eram fraudulentas. Em Umbundu diz-se que um adulto não chora por se tropeçar, ele chora porque tem "muita raiva” dentro de si. Os apoiantes de Trump estavam cheios de raiva — muitas completamente injustificáveis. 
Donald Trump provou  ser uma figura altamente nefasta — um populista para quem a verdade tinha pouca importância. Essencialmente, Trump foi um "chico esperto” que tomava vantagem das ansiedades dos seus apoiantes. Durante o reinado de  Trump, surgiu a narrativa de fazer os Estados Unidos brilhar mais uma vez, de supostamente recuperar a glória do passado. Esta narrativa ignorava as lamúrias daqueles que, no passado, se  sentiam ignorados ou marginalizados.  Bem, há certos apoiantes de Trump, os supremacistas brancos, que vêem uma sociedade que valoriza a igualdade e a diversidade como sendo altamente injustas — para eles, claro. Nos anos 80, nos Estados Unidos, havia o mito de a mulher negra "welfare Queen” que tinha vários filhos a serem cuidados pelo Estado. De repente, muitos começaram a pensar que o dinheiro que vinha dos impostos que pagavam estava a sustentar famílias negras monoparentais. Trump não parava de culpar aos estrangeiros pelas várias falhas que o país estava alegadamente a enfrentar. Num encontro com estudantes,  os conservadores comoTrump insistiam que se tratava de um vírus chinês, preferindo não se referir ao coronavírus. Enquanto Trump insistia que os estrangeiros estavam sempre a dar fintas aos americanos, ele preferia não falar dos seus vários negócios em várias partes do mundo. 

Trump, um bilionário com casas matulonas em várias partes do mundo e que viaja em jactos privados, ia perante o seu público e insistia que ele não era só muito rico mas também altamente inteligente. Trump insistia que passava a vida a defender o homem comum. Temos aqui o fenómeno do pequeno homem e mulher que respeita profundamente aquele que socialmente está a cima dele. Uma boa parte dos apoiantes de Trump sonham ter uma vida cheia de conforto e glamor. Alguns meses atrás,  Steve Bannon, figura muito próxima a Trump, no início da sua administração, foi acusado de ter desviado doações que aparentemente deveriam ser usadas na construção do famoso muro que iria manter os imigrantes ilegais fora. Bannon e os seus colegas, segundo as alegações, usaram os fundos para comprar barcos, casas na Suíça etc. No mundo de Trump, as iniciativas empresariais nem sempre tinham que obedecer a ética,  vários colaboradores de Trump foram condenados por vários tribunais. Claro que Trump não hesitou em perdoar alguns deles. 

Trump diz uma coisa de manhã e outra à tarde, sem temer que os seus apoiantes iriam lhe acusar de inconsistência. Vários peritos afirmaram que o Presidente Trump tinha problemas psicológicos, a sua própria sobrinha, uma psicóloga,  publicou um livro em que afirmava que o temperamento do seu tio era incompatível com o posto de Presidente dos Estados Unidos da América. Vários colegas de Trump escreveram livros questionando seriamente a sua capacidade de ser um líder responsável. Como vários autocratas, Trump tinha batalhões de seguidores seus que lhe defendiam caninamente.  Donald Trump acredita que os únicos indivíduos que devem ser valorizados são aqueles que são leais a ele. Para Trump, todos tinham que  vergar aos seus desejos. Há quem lamente que o prestígio dos Estados Unidos caiu por causa das atoardas de Trump. A verdade é que passamos a ver que a democracia americana é forte e não pode sucumbir por causa dos caprichos de um só homem. 

Durante  a invasão do Capitólio, via-se apoiantes de Trump agredindo os jornalistas e destruindo o seu equipamento. Durante o seu reinado Trump e os seus próximos não paravam de insultar a imprensa — incluindo, até, descrever os jornalistas como os inimigos do povo. Se não houvesse os entraves democráticos, muitos jornalistas nos Estados Unidos seriam submetidos aos mesmos maus-tratos que existe nos países altamente autocráticos. Vários próximos que se desfizeram de Trump alegaram que ele não tinha a paciência (ou capacidade de concentração) de ler os vários relatórios. Aqui não se tratava do Presidente Obama que lia assiduamente  obras de peso. O Presidente Obama era um verdadeiro "homme des idées.” Num dos seus discursos no passo, o Presidente Trump disse que gostava de gente que não tinha muita formação académica. Parece que ele também gostava muito de extremistas que não respeitavam a lei. Isto custou-lhe muito caro...

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