Opinião

O pai angolano

Celebra-se hoje um pouco por todo o mundo o Dia do Pai, uma efeméride que, segundo algumas fontes, data de há quatro mil anos, na antiga Babilónia, hoje Iraque, sendo observado hoje fundamentalmente para reflexão.

19/03/2021  Última atualização 06H00
O papel de pai, em muitas regiões do mundo, também desempenhadas por mulheres, é das atribuições mais complexas num mundo em mudança, em que a aproximação e influência inter-culturais se evidenciam se acentuam cada vez mais.
Ao lado daquelas variáveis encontram-se as dificuldades económicas e financeiras por que passam milhares de famílias em todo o mundo e com particular realce para que aquelas que vivem nas regiões menos desenvolvidas do mundo.

Em África, o papel de pai, nem sempre é desempenhado da melhor forma possível atendendo às condicionantes já mencionadas, além da realidade de conflitualidade militar, insegurança alimentar, apenas para mencionar estes elementos, esbarra em numerosas dificuldades e desafios.  Por outro lado e felizmente, para muitas comunidades africanas, os factores culturais desempenham, em muitos casos, uma função importante na preservação dos laços familiares em que se sobressai a responsabilidade paternal.

Sobretudo nas zonas rurais, de numerosos países africanos, o pai continua a ter um papel vital na garantia e continuidade da família, ao lado das mulheres que, como se disse, acabam também e em muitos casos, por desempenhar o papel paternal.
Em Angola, temos uma realidade que, fugindo muito do que as sociedades na África subsaariana vivem, envolve algumas especificidades que precisam de ser melhor conhecidas para a busca das melhores soluções.

Atendendo a natureza de país pós conflito, em que os valores de família, nas zonas rurais, como nas urbanas, acabaram por sofrer um processo de fragmentação, em que se relativizaram profundamente comportamentos e atitudes, o papel de pai acabou subvertido. A profunda crise de valores inviabilizou e continua a inviabilizar, em muitas regiões,  a passagem de ciclos, desde a infância, adolescência e idade adulta, com valências comportamentais que permitiriam melhor desempenho do papel de pai.

Independentemente da situação económica e financeira menos boa por que passamos todos, na verdade, os problemas que afectam o papel de pai na nossa sociedade, envoltos à ausência, fuga à paternidade, violência doméstica e outras formas de maus-tratos, não se explicam apenas com a pobreza, desemprego, abuso do álcool ou drogas.

Vamos ainda a tempo de minimizar se formos bem sucedidos em investir na educação, na melhoria das condições económicas, sobretudo  com a aposta nas camadas mais jovens da nossa sociedade. Se assumirmos que a criança de hoje é um futuro pai, precisamos como sociedade de mudar o paradigma em que se funda o processo de preparação  do menino, adolescente e jovem que será pai de amanhã.

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