Cultura

O polícia e o treinador

Mamungua futucou com a sua ngavive (esposa/mulher), porque esta acusou o sobrinho, único filho da irmã caçula, de gamcer (gatuno). Porquê? Porque o puto foi passar a tarde no cubico do Mamungua, na companhia de uns avilos. Ao saírem com o sobrinho, porque só ele teve acesso à sala onde estava o seu telelé (telefone) a carregar, depois de umas ventoínhas (bebidas) levou o baila (telefone) da tiota, que custou 120 contos (120 mil Kwanzas), que lhe foi oferecido pelo seu genro.

28/03/2021  Última atualização 14H30
© Fotografia por: DR
O telelé do candengue é de botão. Mas assim que domou (viu) que o digital não era dele, regressou à procedência, pediu desculpas, fez a entrega do baila da tiota e recebeu o dele.
Mamungua, para evitar dikulo bazou do balande (casa). No caminho, para quem sai do Diangato para o Santo Rosa passando pelo Baião, cruza-se com o Kinama, o Panhanha, o Dianzala e o Dacantina.
Mamungua advertiu que não estava bem e que queria ficar sossegado, porque tinha um dikulo em casa e gostaria de estar a sós. "A vossa tia quer me arranjar problemas com a minha irmã. Nós somos só dois. Está dizer que o meu sobrinho gamou o telelé dela. Estou a bazar aí por aí”.

Como o Kinama, o Panhanha e o Dacantina nunca, há mais de trinta anos, viram o casal nervoso, deixaram o Mamungua seguir e foram no mbanxi (casa) para saber o que se estava a passar. Posto no local encontraram o kandengue a fazer a entrega do baila e a pedir desculpas por ter levado o telelé por engano.
"Ai ué meu filho alheio! Estava a te falar mal, me desculpa. Podia só estragar amizade familiar. O teu tio até não comeu, saiu nervoso”, disse a ngavive, que pediu ao Kinama, ao Panhanha e ao Dacantina para irem procurar o Mamungua, para lhe pedir perdão nesse mês da mulher e do pai.

Os três, como sabem que Mamungua já não gala (vê) bem, foram perguntando dali e dali e conseguiram saber onde é que ele se encontrava. Estava na casa do Dacerveja a ler o seu jornal, porque gosta sempre de estar informado. Explicaram que a situação do telelé estava resolvida. "Foi  engano e a ngavive já recebeu”.
Mamungua confirmou e avisou: "Aqui é casa alheia, não quero ouvir falar de política”. O Panhanha disse que "nessa casa manda o dono. Não vamos ofender as instituições do Estado, nem as privadas. Temos direito de expressão. Mamungua ainda não esqueceu o que sofreu no 27 de Maio de 1977. Hoje já há liberdade!”.

Foi assim que o Kinama começou a contar o mambo (caso) do agente regulador de trânsito, que mandou parar um dikota junto do dibito (porta) deste. O polícia pediu, como manda a regra, a documentação pessoal e da viatura. Estava em dia.
Mas o caínga notou que o dikota estava um bocadinho estimulado e fez um trabalho pedagógico. "Mais velho, é verdade que já chegaste em casa, mas quando estiver a conduzir, é sempre melhor não beber. São vocês que têm que nos dar exemplo”, aconselhou.
O dikota reconheceu, dizendo que o agente tinha toda a razão e nunca mas vai voltar a acontecer com ele. Depois do regulador de trânsito lhe ter entregue os documentos, o mais velho pergunta: "Meu filho! Como é que estão a minha nora e os meus netos em casa?”.

O caínga responde que estão bem, graças a Deus. O dikota volta a perguntar: "Tem arroz, feijão, frescos, leite e açúcar em casa?”. O polícia responde: "Não tem”. O mais velho saca da quima (pasta) cem mil kwanzas e entrega ao agente.
O agente recebe a bufunfa (dinheiro) e mete, segundo o Kinama, no bolso. Os funcionários do IGAE e os agentes do SIC, que estavam a assistir ao filme de perto, dizem ao caínga que não é ético um agente da corporação receber valores na via pública, por isso iam lhe instaurar um processo.

O caínga que é do rangú (Rangel), zengá (Cazenga) e mbila (Sambizanga), começou a gritar: "Se vocês são malucos eu sou salaique. Se não é digno eu receber esse dinheiro, é digno o que o Comando Geral e o Ministério do Interior pagam aos seus efectivos? Quem é o ministro ou deputado que nunca recebeu ofertas”. Mesmo assim, foi suspenso e está a ser ouvido na Inspecção
Situação idêntica acontece com os treinadores. Fazem contrato para duas épocas. Basta perder dois, três, quatro jogos e são despedidos, muitas vezes sem aviso prévio, tomam conhecimento pela Comunicação Social.
Mas é a polícia e os treinadores!   

Pereira Dinis

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