Opinião

O trabalho honesto

No Dia do Trabalhador, ontem assinalado em todo o mundo, vi e ouvi várias manifestações e desejos em homenagem àqueles que, de forma empenhada, tudo fazem para, com o seu trabalho, melhorar a vida dos outros, antes de pensarem na própria riqueza.

02/05/2021  Última atualização 10H04
Não importa se zungueira, engraxador, médico, jornalista, engenheiro, professor ou cientista. Cada um, com a sua importância na sociedade, merece a admiração de todos. Entre as várias manifestações que vi e ouvi, neste 1 de Maio, duas chamaram-me atenção, pela profundidade da mensagem. Ambas centraram-se, precisamente, no trabalho honesto, na protecção, valorização e, principalmente, na dignificação do ser humano.

É sobre este trabalho honesto, pensado na satisfação do outro, com a entrega pessoal, que vale a pena reflectir. Pessoas que não poupam meios para salvar vidas, nestes tempos difíceis de pandemia; mães que deixam crianças pequenas, durante dias, para se entregarem à nobre tarefa de salvar outras vidas, pondo em risco a sua própria; famílias que não sabem se a mãe ou o pai vai regressar, mas aceita o risco, porque algo maior a impele a continuar: o amor ao próximo, a felicidade do outro.

 A nossa homenagem maior a estes heróis seria poupar-lhes um pouco o trabalho, com actos simples: lavar as mãos ou desinfectá-las com álcool em gel, usar a máscara facial, cumprir o distanciamento social. Medidas que estão ao alcance de todos, mas que, irresponsavelmente, negligenciamos, alheios ao perigo iminente desta doença que, em 13 meses, matou quase 3,2 milhões de pessoas no mundo (600 em Angola).

Como é de trabalho honesto de que se trata, é justo, igualmente, reconhecer o combate à corrupção e males conexos.  O país não avança se o que é de todos continuar a ficar apenas com alguns. Uma imoralidade sem tamanho, que não deve ser tolerada neste novo começo. É preciso continuar a persuadir aqueles que têm responsabilidades, a mudarem de atitude, a pensarem no bem comum. Mas não se deve descurar a punição exemplar. O castigo, quando justo,  ajuda a refazer o  caminho na sociedade e a sermos mais úteis.

Nesta busca constante pela dignificação, vale a pena também destacar o trabalho dos homens do campo. Apesar de serem tempos de pandemia, nota-se um espaço cada vez maior que o associativismo vem assumindo no campo e a resposta do Executivo para que produzam mais e tenham um papel cada vez mais importante na economia angolana.  
Há cada vez mais relatos de satisfação, de cooperativas a receberem tractores, alfaias e viaturas para escoar os bens produzidos, além de formação técnica para aumentar a produção e melhorar a qualidade das culturas. E mais: há linhas de crédito disponíveis para potenciar a agricultura familiar, promover emprego no campo, e melhorar as economias locais.

Outro aspecto digno de destaque é o Plano Integrado de Intervenção nos Municípios. Principalmente, pelos empregos criados e pelas oportunidades que apresenta às pequenas empresas locais em voltarem a participar na economia nacional.  
Neste Dia do Trabalhador vale, também, uma mensagem de reconhecimento às forças de Defesa e Segurança. Por isso, merece total repúdio a violência contra estes heróis, garantes da nossa convivência pacífica, da nossa liberdade.
Actos de violência contra agentes da Ordem Pública, como os que ocorreram nas províncias da Huíla e de Cabinda, para citar apenas estes últimos, devem merecer o maior repúdio da sociedade. Nada justifica actos totalmente reprováveis contra quem dá a vida para proteger até mesmo o agressor.

São actos que nos convidam à reflexão e nos impelem a avaliar, com clareza, os rumos que nos propusemos seguir, para uma Angola melhor para os nossos filhos, neste novo começo, de corrigirmos o que está mal e melhorarmos o que está bem.
A nossa sociedade pode ser melhor. A nossa convivência pode ser melhor. Que o Dia do Trabalhador seja uma oportunidade para uma reflexão sobre a melhor forma de ajudar a si próprio e a sociedade. Só assim valerá a pena esta curta passagem pela terra. Afinal, todos somos importantes!

Cândido Bessa

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