Opinião

O turismo doméstico

Neste grande fim-de-semana, o turismo doméstico revelou-se em toda a sua potencialidade.

22/03/2021  Última atualização 09H04
Vários cidadãos decidiram "fazer-se à estrada”, criando uma onda de esperança para o turismo doméstico, apesar dos constrangimentos. Todos temos consciência de que existem de momento um conjunto de situações adversas que empurram os cidadãos para o turismo doméstico, nomeadamente a Covid-19 (que os impede de dar o salto ao exte-rior), o lixo em Luanda (que leva a que os luandenses pensem em novos ares) e o cansaço de uma longa e desgastante cerca sanitária da província de Luanda.

Logo, o boom registado neste grande fim- de- semana pode ser sol de pouca dura ou então, dependendo das decisões políticas que forem tomadas, pode ser a oportunidade que o país precisava para iniciar o processo de afirmação do turismo doméstico.
Mesmo que o país ainda não tenha infra-estruturas de qualidade suficiente, vai aparecendo uma oferta já a ter em conta e respeitar. Apesar das mil e uma dificuldades que enfrentam, existem empresários que procuram oferecer um serviço que merece a protecção do Estado.

É obvio que o turismo doméstico não gera as tão desejadas divisas, mas um plano estratégico de promoção do turismo poderia estabelecer esta fase como a de criação de dinâmicas e qualidade para a fase seguinte, a atracção de estrangeiros. Não gera divisas, mas garante experiência de trabalho, rotinas e metodologias de trabalho a todos os operadores desse mercado. E é disso que mais precisávamos neste momento.

No Brasil, que é um gigante do turismo mundial, a base da indústria é assegurada pelo turismo doméstico. "A cada dez brasileiros que fazem viagens domésticas, apenas um viaja para o exterior. Entre os que viajam para outros países, 70% também fazem viagens nacionais. Cerca de 30% do custo total da viagem internacional fica no Brasil, beneficiando principalmente empresas brasileiras dos segmentos de transporte aéreo, operadoras e agências de viagem”.

Com os mercados internacionais em dificuldades, o turismo doméstico deveria estruturar-se para oferecer imediatamente o que os angolanos iam buscar a países como Portugal, Namíbia e África do Sul. Numa leitura rápida, diremos que as pessoas procuravam antes de mais por bons e serviços de qualidade a todos os níveis, hotelaria, restaurantes, lojas de vestuário, etc, etc.

Na verdade, os angolanos procuravam por uma série de produtos ou serviços turísticos com o objectivo de cobrir as suas necessidades de descanso, recreação, entretenimento e cultura em período de férias. E esta é a primeira perspectiva que devemos atender: oferecer a quem está de férias a possibilidade de encontrar cá dentro serviços de lazer e recreação a custos aceitáveis e com uma qualidade que os leve a voltar e a recomendar a terceiros.

Nesta fase era muito importante que se fizessem apostas em duas especialidades do turismo doméstico, nomeadamente o turismo regional e o chamado popular. O turismo regional promove a cultura, a gastronomia e belezas naturais de uma determinada região. É algo que se pode estruturar de modo integrado. Todas as regiões do nosso país podem oferecer este tipo de produtos e serviços e os Governos provinciais e a imprensa regional deveriam ser os principais promotores desta indústria.

O turismo popular está orientado para as classes de menor renda e nele vamos encontrar os que vão passear, mas também os que vão visitar a família. Apesar da informalidade destas acções, é possível programar pacotes específicos organizados por grupos de amigos ou associações de naturais de municípios ou excursões de curto período. O turista popular hospeda-se em casa de amigos e parentes, mas pode ser levado a comer fora em restaurantes, bares e lanchonetes, a visitar sítios históricos, monumentos e outros interesses e trazer das vezes seguintes outros familiares e amigos. Se integrado com os sistemas de transportes, pode ser um óptimo negócio para os autocarros regionais

Finalmente, nesta fase deveria ser feita uma grande aposta no turismo de sol e praia, aproveitando os estrangeiros que residem no país, mas também os inúmeros apaixonados por praias, as férias escolares, os feriados prolongados, como este, as excursões vindas do interior, etc, etc.
É fundamental manter praias limpas, oferecer serviços de alojamento, restauração e transportes de diferentes preços e bolsos. Uma vez mais, falta um plano estratégico nacional que operacionalize esse tipo de ofertas.

Estamos com um considerável atraso na estruturação do turismo como indústria. A maior dificuldade talvez seja mesmo a falta de visão estratégica dos nossos dirigentes. Dois sectores deveriam ser fundamentais, nomeadamente a imprensa regional para promover os empresários, divulgar as localidades, produtos e serviços locais e as agências de viagens para divulgar e promover os destinos, preços e pondo os seus clientes em contacto com companhias aéreas (low-cost, regulares e reservas), alojamentos, transferes, rent-a-car,etc, etc.

Se quisermos realmente "roubar” uma boa parte das viagens que os angolanos faziam ao exterior, os primeiros passos a dar são a criação da imprensa regional que vai "descobrir” recantos, destinos e serviços que ninguém conhece e as agências de viagens que vão aconselhar os seus clientes sobre os destinos, os meios de transporte, preços, oportunidades, eventos,exigências administrativas das viagens (vacinas, testes de Covid etc.etc.) de forma a facilitar e a resolver os problemas dos viajantes. De outro modo, não chegaremos lá.

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