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ONU denuncia 10 anos de crimes na Síria

A Missão de Investigação das Nações Unidas para a Síria apresentou, ontem, um relatório “sobre dez anos de crimes de guerra” no país, levados a cabo por todas as facções, com a ajuda da “negligência internacional”.

19/02/2021  Última atualização 11H05
© Fotografia por: DR
O relatório é o 33º documento da mesma missão de investigação e vai ser apresentado formalmente perante o Conselho de Direitos Humanos da ONU no dia 11 de Março, pouco antes da data que assinala os dez anos do conflito sírio.
O documento refere que a guerra obrigou metade da população do país a abandonar o local de residência e condena a extrema pobreza que atinge seis em cada dez cidadãos do país."As crianças, mulheres e homens da Síria pagaram o preço imposto por um regime autoritário que actuou violentamente para neutralizar a dissidência, enquanto o oportunismo de alguns actores estrangeiros, através do financiamento, armas e outras 'influências' avivou um fogo que o mundo se limitou a ver”, acusou o presidente da missão, o brasileiro Paulo Pinheiro.

O documento de 31 páginas conclui que desde Março de 2011 a população civil sofreu abusos que em alguns casos constituem "crimes de guerra, contra a humanidade e outros delitos internacionais, incluindo o genocídio”.O mesmo relatório sublinha que o Governo liderado por Bashar alAssad tirou partido da suposta luta contra o terrorismo para bombardear indiscriminadamente alvos civis, incluindo hospitais, instalações médicas, escolas e tendas de refugiados.

"O Exército sírio, assim como a Força Aérea da Rússia (país aliado), atacaram zonas de habitação, incluindo mercados em pleno dia, com artefactos explosivos de amplo alcance, assassinando e ferindo civis em ataques que indiciam crimes de guerra”, refere a investigação.Segundo as Nações Unidas, os ataques contra civis também foram levados a cabo por outros intervenientes no conflito como o grupo radical Estado Islâmico, milícias curdas, a aliança islâmica Hayat Tharir al Sham (a antiga Frente al Nusra) ou a coligação apoiada pelos Estados Unidos.

Longe da frente de batalha foram habituais as execuções e mutilações de soldados, tanto pelo Exército sírio como pelas forças da oposição e pelos radicais do Estado Islâmico, assim como se verificaram ataques, ameaças e assassínios de jornalistas.Outros crimes que se encontram documentados pela ONU incluem saques, ataques contra o património cultural (especialmente por parte do Estado Islâmico, "mas não exclusivamente”), cercos a cidades ou bloqueios à ajuda humanitária.

Dos 22 milhões de pessoas que habitavam a Síria antes da guerra, mais de 11,5 milhões encontram-se deslocados e cinco milhões estão refugiados noutros países, nomeadamente na Turquia, Jordânia, Líbano, Egipto e Turquia.O relatório termina com um novo pedido de cessar-fogo permanente, sob a supervisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas, assim como defende processos judiciais sobre crimes cometidos no país em guerra.

Os apelos ocorrem quando decorrem negociações, em Genebra, entre o Governo sírio e a oposição para a elaboração de uma Constituição, mas que parecem estar num impasse.O relatório é o resultado de oito mil entrevistas, documenta mais de 3.200 alegados responsáveis por crimes de guerra e outros abusos levados a cabo pelos vários intervenientes em conflito.

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