Cultura

Operários da canção num espaço de tradição

Analtino Santos

Jornalista

O salão, com um ambiente típico das festas de quintal do antigamente, recebeu filhos ilustres do Marçal, com realce para o músico e historiador Carlos Lamartine.

16/05/2021  Última atualização 07H00
KUIMBILA NI KUKINA SEMBA © Fotografia por: DR
Convidado pelo mestre de cerimónias, Lamartine falou da origem do nome da rua. "Dona Zita foi uma comerciante e benfeitora que nos anos 80 foi figura de referência, com a sua loja, bem perto do Botequim Marçal”, disse.
Man Lamas, como Carlos Lamartine é carinhosamente tratado, afirmou que na época colonial a rua em referência era conhecida como Rua do Pêgo, nome de um comerciante branco. O músico e historiador não deixou de falar das comemorações do Dia do Trabalhador logo depois da Independência Nacional, com os grandes desfiles de trabalhadores e alegorias. Revelou que era tratado por Xiguambi, porque em tenra idade já demonstrava dotes de canto. Disse ainda que o seu irmão, o falecido cantor Vate Costa, ou Ndulo por ter nascido no Andulo, foi um exímio passista e futebolista.

A Banda Yetu, liderada por Lolito da Paixão, voz e dikanza, abriu e fechou o momento da música ao vivo, Cláudio Click Clack e Pepelo, solista e ritmo, comandaram com um instrumental de Zé Keno, numa formação onde constavam Nininho (teclados), João Diloba (bateria e voz), Esteves Bento (tambores) e o veterano baixista Dulce Trindade, que à última hora teve de substituir Benjamim. A banda interpretou temas conhecidos de artistas como Bangão, Tony do Fumo e outros. Malamba, o operador de som de palco, realizou muito bem o seu trabalho.

Consultor e director artístico do Kuimbila Ni Kukina Semba, Augusto Chacaya em quase meia hora cantou temas como "Alucase”, "Sandra”, "Samba Samba”, "Maka me” e outros que marcam o seu percurso como vocalista dos Jovens do Prenda, sempre com banga e estilo, uma simbiose que agradou aos presentes. Também interpretou temas de Óscar Neves e Elias dya Kimuezo.

Lulas da Paixão abriu a sua actuação com "Nguami Maka” e passeou pelos conhecidos temas "Garan”, "Pepé” e "Tio”, músicas que foram muito bem recebidas. No passado apenas respeitado como compositor, solicitado por artistas de várias gerações, nos últimos anos Lulas da Paixão tem consolidado o seu lado de intérprete. Massoxi Kim foi o artista que saiu da plateia para o palco, no início como percussionista e nalguns temas na dikanza. Cantou "Nzala” de Carlitos Vieira Dias e, a pedido dos espectadores, deu uma canja do sucesso "Titilá”, com o coro cantado pela plateia.

Tal como Massoxi Kim, Carlos Lamartine fez as vontade dos presentes e mesmo sem ensaiar subiu ao palco e cantou "Pilima”. Aproveitou o momento para encorajar o promotor João Adilson. O promotor não soube justificar a ausência de Dom Caetano, apenas lamentou o facto e agradeceu a compreensão dos presentes.
O Kuimbila Ni Kukina Semba surgiu em 2019 e acontece no Salão do João Adilson, no histórico bairro Marçal. O projecto iniciou com uma homenagem ao músico Dom Caetano. Carlos Lamartine, Dina Santos, Calabeto, Nguami Maka, Robertinho, Givago, Massano Júnior, Mizangala DT, Banda Yetu e outros cultores da música popular angolana passaram pelo mesmo.

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