Como no passado, um instrumental, "Obrigado meu amigo”, marcou a abertura da música ao vivo, com uma plateia onde os históricos do nacionalismo angolano Lopo do Nascimento e   Ismael Martins estiveram presentes. Salú Gonçalves conduziu o painel de comentaristas composto por Luísa Rogério, Raimundo Salvador e Teófilo Moniz, cuja missão era fazer abordagens históricas e contextualizadas.

O jovem benguelense Dimilde Tonico, guitarrista da Banda FM, foi a surpresa e a revelação do concerto. Por duas vezes subiu ao palco e convenceu a audiência revisitando os instrumentais "Ngola” e "Semba Henda”, onde encontramos a mestria e a malha característica da guitarra de Marito, que Botto Trindade absorveu e enriqueceu com o seu toque. O veterano Botto Trindade reconheceu o potencial de Tonico. Dulce Trindade e o trio de guitarristas Hildebrando Cunha (solo), Gegé Faria (contra-solo) e Zeca Tirilene (ritmo) brilharam em Rumba 70, outro dos instrumentais do conjunto, com Hildebrando Cunha a evidenciar-se nos solos. Habana Mayor nos tambores e Juca Vicente na bateria, do núcleo forte dos Kiezos, como os outros estiveram bem nos instrumentais e temas cantados.

Os grandes sucessos do conjunto, como "Monami”, "Mbako Ka Valé”, "Kamba Kamba”, "Lamento de Mingo”, "Ngana Nzambi”,  "Kandonga”,  "Za Boba”, "Kiezus ya bu Kia”, "La Page”, "Milhorró”, "Maximbombo”,  "Monami Messene”, "Muapango”,  "Wavalela o Mona”, e outros, foram interpretados pelos cantores Zé Manico,  Mister Kim e Tony do Fumo Júnior. Também temas acompanhados pelos Kiezos, como "Nossa Senhora”  e "Mendonça”, conhecidos nas vozes de Belita Balma e Givago, fizeram parte do alinhamento, tendo sido interpretados por Neide da Luz e Lito Graça. Em determinados momentos o grupo tradicional Nguami Maka juntava-se aos Kiezos para dar a sonoridade dos tempos das turmas.


Momento de homenagem
O Show do Mês Live não esteve indiferente ao passamento físico de Inó Gonçalves e Timex. A introdução de "Xikela” marcou a homenagem a Inó Gonçalves, co-fundador do Kituxi e Seus Acompanhantes e personagem incontornável do movimento artístico do Marçal e um dos mentores desta formação.

Houve momento para mais homenagens: a Botto Trindade foi entregue um certificado que atesta a sua qualidade de "Doutor da Música Angolana”. Ao baterista mais antigo da música angolana em actividade, Juca Vicente, e ao guitarrista Zeca Tirilene a produção ofereceu instrumentos musicais. Reputados amantes da música angolana também testemunharam o evento, como os jornalistas Gilberto Júnior, Adão Filipe e Drumond Jaime, moldados na Rádio Nacional e com várias histórias com os Kiezos e a música angolana. O trio defende uma ampla divulgação da música angolana de raiz e a sistematização da informação relativa à mesma.

Nesta viagem pela obra musical dos Kiezos, reforçaram o conjunto: Benny Macanzo (teclados e dikindu), João Daloba que alternou  na bateria e nos bongós, Raquel Lisboa, Neide da Luz e Lito Graça nos coros, Eufraim La Trompa, Rigoberto e Chinguma nos sopros. O concerto terminou com um medley das animadas "Ché Cheé Mãe”, "Comboio” e "Princesa Rita”, com Mister Kim e Zé Manico nas interpretações e Lito Graça na dikanza a representar Adolfo Coelho, um dos fundadores do grupo. Quem testemunhou e falou da origem dos Kiezos foi Kituxi, mentor e fundador do conjunto, em representação dos outros dois fundadores ainda vivos: Marito e Avôzinho.

O Conjunto Os Kiezos é o grupo que até agora teve mais passagens pelo Show do Mês: antes da duas últimas actuações - Show do Mês Live Hospitaly (Abril de 2021) e Show do Mês Live  (Maio de 2020) -, em 2019 fez dois memoráveis concertos e brilhou nas noites dos dias 28 e 29 de Junho no Royal Plaza, onde foram homenageados no âmbito dos seus 50 anos de existência.