Opinião

Palavras repetidas

Carlos Calongo

Jornalista

Com um click no motor de busca “Google” encontramos vários sinónimos e sentidos da palavra união, merecendo destaque, em jeito de início de conversa, o sentido harmonioso, que atribui ao termo o valor de “encontro de ideias”, “unidade”, “comunhão”, “paz”, “conciliação”, “concórdia”, “convergência” e “harmonização”.

23/01/2021  Última atualização 08H00
Em termos de relação afectiva, somos remetidos para "ligação”, "vínculo”, "laço”, "convivência”,  "relacionamento”, "intimidade” e "comunicação”, dentre outros, que também servem e bem os objectivos desta reflexão, cujo fulcro do conteúdo é encontrado, propositadamente, para mais adiante.

União, no sentido da sociedade de pessoas com interesse comum é também definida em termos de "associação”, "grupo”, "coligação”, "liga”, entidade”, "instituto”, etc, todas elas, naturalmente, visando buscar consenso, estando subjacente a realização do bem comum, enquanto tarefa que deve ocupar, grandemente, os dirigentes de qualquer nação.

Durante a cerimónia de empossamento realizada na quarta-feira, Joseph Robinette Biden Jr, que tornou-se o 46º Presidente dos EUA, usou a palavra união pelo menos mais de uma vez, facto a partir do qual certos analistas alinharam o prognóstico sobre o quê, em primeira instância, o Presidente solicita dos seus concidadãos.

Claro que, no contexto internacional, o significado que Biden atribui ao termo união redunda no regresso aos acordos de París, sobre o ambiente, a relação com a União Europeia, sem descurar os acordos com a China, no âmbito das relações comercias, concretamente sobre as taxas aduaneiras.Considerando o acima escrito como intróito, por mais longo que seja, é de maior valor para este exercício, o alerta que queremos fazer face a determinadas palavras repetidas em discursos políticos, que pelo seu quantitativo, exigem uma leitura acima de um simples pronunciamento.

Aliás, esta é uma âncora que quem se preze a analisar o fenómeno político não deve olvidar, sob pena de ser considerado, além de simplista, um produtor de discurso vazio, que em nada ajuda, sobretudo os leigos, a perceberem os traços subliminares, em que muitas vezes se elaboram os discursos políticos ou dos políticos.Entre nós, podemos tomar como palavras repetidas, aquelas introduzidas no léxico dos angolanos, que marcaram o início do novo paradigma de governação, assente na luta contra a corrupção, o nepotismo, a impunidade e outras más acções que ajudaram a degradação dos valores morais da nossa sociedade.

Por mais que seja possível questionar os efeitos reais das acções em torno das palavras acima mencionadas, é míster que a vida dos angolanos, de 2017 à esta parte, passa pela observação do que realmente as referidas palavras significam, em todas as vertentes, sobretudo na perspectiva de re-configuração de Angola, como país belo sonhado pelos promotores da sua independência.O número de processos em curso nas instituições de justiça e outras afins, envolvendo figuras cujo capital político dispensa comentários, é um sinal bastante evidente, que em política nenhuma palavra é, afinal de contas, vazia, ou seja, a palavra tem valor de alteza.

Não que estejamos satisfeitos com as peripécias por que passam os envolvidos em processos crimes, independentemente da índole, mas apenas tencionamos lançar o debate para a necessidade de interpretação das palavras repetidas, no quadro das análises discursivas, partindo da quantidade que, para este caso, antecede a qualidade.

E porque falamos em qualidade, recuperamos o sentido do que Joe Biden pretende com o apelo à "união”, para apelar aos angolanos, que afigura-se de grande valor se, em tudo e por tudo, as nossas acções redundem em materialização da união, com ponto de partida para a construção de uma Angola em que impera a cidadania.

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