Cultura

Palcos ainda são um problema para maior afirmação da arte

Job Franco

Jornalista

A falta de palcos adequados ainda contínua a ser um problema para os fazedores de teatro angolano, apesar de algumas salas manterem o ritmo e estarem abertas ao público, como o Elinga Teatro e a Liga Africana.

25/03/2021  Última atualização 18H05
Locais de actuação condignos ainda são o “calcanhar de Aquiles” dos criadores nacionais © Fotografia por: Contreiras Pipa | Edições Novembro
O problema não se limita apenas à cidade capital, afecta a maioria das províncias. Uma das soluções, para muitos encenadores, seria a criação de novas salas nas centralidades recém-construídas. Porém, esta realidade ainda está muito longe de ser alcançada, mesmo com o actual crescimento exponencial do teatro angolano, ou com a realização, regular, de vários festivais internacionais no país.

Muitos dos palcos utilizados actualmente pela maioria dos grupos  são espaços adaptados, que não correspondem ao padrão internacional, em termos de acústica ou iluminação. Até projectos ousados, como o Festival de Teatro do Cazenga, que colocam Angola no roteiro mundial da dramaturgia, em especial o lusófono, têm de recorrer ao improviso, para poder manter a arte no activo.


Mais solicitadas
Entre as salas de referência, muito usadas pelos grupos de teatro da capital, está a da Liga Angolana de Amizade e Solidariedade com os Povos (LAASP), que precisa urgentemente de obras de remodelação para garantir habitabilidade e segurança de todos os utilizadores.

A presidente em exercício da LAASP, Elisa Salvador, disse que as últimas obras de reforma da LAASP foram há nove anos. "O palco não oferece condições adequadas para espectáculos”, informou, adiantando que existe um plano de melhoramento do espaço, no qual está, ainda, incluído a mudança das cadeiras, pintura da sala, melhoria do piso e de aparelhos de ar-condicionados.

"Mas falta meios financeiros. Desde a última reparação já se passou muito tempo. As pessoas devem estar em ambiente aconchegado”, disse, além de explicar que a sala da LAASP para ser moderna precisa de uma série de medidas.
Depois de quase um ano sem espectáculos, muitos fazedores de teatro, inclusive os detentores da gestão das salas, passaram por momentos difíceis. A LAASP, disse Elisa Salvador, não foi excepção. "Também fomos afectados, porque o arrendamento do espaço servia para colmatar as despesas de apoio aos trabalhadores, bem como para manutenção da instituição”.

Para sobreviver, revelou, tiveram de contar  mais  com o subsídio dado pelo Governo, uma vez que a LAASP é uma instituição de utilidade pública e portanto subvencionada pelo Executivo. Hoje, continuou, com o avanço dos espectáculos online, as salas convencionais podem vir a ter dificuldades para voltar a se impor.

Com uma capacidade de 250 pessoas, actualmente reduzida para 50 a 70 espectadores, a sala, explicou, é arrendada, às vezes, para outros grupos usarem a um preço que varia entre os 25 e os 55 mil kwanzas. "A variação depende de o grupo ser ou não associado da instituição, mas não temos tido qualquer reclamações dos grupos”. Elisa Salvador adiantou que, devido à Covid-19, a sala, antes arrendada com frequência hoje só é solicitada duas a três vezes por semana.


Outro gigante
Assim como a LAASP, o Elinga Teatro é outro dos locais históricos da dramaturgia angolana, hoje relegado a uma situação precária, devido a vários factores, alguns dos quais alheios à gerência do espaço, como explicou Luís Carvalho, actual gestor cultural.

A instituição, informou, tem um processo de negociação da titularidade a decorrer, por ser um edifício histórico na cultura do país, desde o século passado. A direcção do Elinga, continuou, já apresentou um projecto para transformar o local em património nacional.

"Mesmo que a gestão da Associação Cultural seja privada, o edifício do Elinga é património do Estado”, disse, acrescentando que este já havia sido cadastrado como tal, mas depois desclassificado, por interesses de terceiros, que o queriam transformar num parque de estacionamento.

Porém, sendo um edifício antigo e cultural, a intenção da actual gestão é manter as raízes e o adaptar, respeitando sempre o padrão arquitectónico. "Queremos dar continuidade a um legado de anos”, revelou, acrescentando que não arrendam a sala e têm hoje um espaço para 125 lugares.

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