Cultura

Professor de dança defende matriz angolana da kizomba

Kindala Manuel

O bailarino e professor de dança Mestre Petchú, radicado há 24 anos em Portugal, disse, ontem, ao Jornal de Angola, que a kizomba, embora sofra transformações noutros países, por executantes de outras nacionalidades, continua a preservar a originalidade angolana.

11/05/2021  Última atualização 10H20
© Fotografia por: DR
Mestre Petchú, que ensina kizomba há 22 anos em Portugal e em países onde é solicitado, adiantou ter criado, em 1998, um projecto metodológico, intitulado "Geometria da Kizomba como forma de codificação das danças angolanas”, para o ensino deste género em escolas de dança em Portugal.Neste momento de pandemia, continuou, mesmo com as escolas de dança fe-chadas, tem sido solicitado por alguns alunos para dar aulas de estilos, como semba, kizomba, tarraxinha, danças tradicionais, urbanas e danças do Carnaval, através das plataformas digitais. 

Embora não esteja ainda registada como Património Nacional, o bailarino acredita que não existe a possibilidade da kizomba perder a originalidade, mesmo face às transformações sofridas. "Hoje, a kizomba conquistou o mundo, mas é parte da arte angolana. Está apenas a sofrer transformações na medida em que é praticada por indivíduos de outras nacionalidades e em diferentes países. Isso era inevitável”, justificou. A kizomba, acrescentou, deixou apenas de ser do quintal dos musseques angolanos e agora está nas escolas e salões internacionais. "Fora do país, é praticada, maioritariamente, por estrangeiros apaixonados por esta dança, que ao levarem-no  para as terras de origem, fazem fusão com alguns estilos, em função dos hábitos e costumes, e a modificam. Mas a kizomba sofreu transformações desde a origem. A praticada na décadas de 80 e 90 é muito diferente da actual”, revelou. 

Para o professor, a kizomba vive na génese do angolano. "A diferença entre a executada por um angolano e um estrangeiro está nas passadas. Por ter tido o aprendizado de forma ancestral e de raiz, o angolano interpreta com alma e de forma natural. Em qualquer tipo de dança, a expressão corporal do indivíduo está ligado às questões culturais, apesar de existirem europeus que dançam muito bem a kizomba” disse. No início das aulas, conta, a kizomba, por ser uma dança que exige contacto entre as pessoas, foi difícil de ser aceite por certas comunidades estrangeiras, em Portugal. A evolução da kizomba, destacou, começou na década de 90 nas escolas de dança e passou às discotecas e depois às pistas de festivais internacionais. 

Nos festivais, explicou, a kizomba é considerado uma dança de recreação, capaz de unir povos de diferentes culturas. "Quanto ao interesse pelas danças angolanas, a tarraxinha e a kizomba são consideradas danças sensuais por alguns praticantes, devido à proximidade entre os dançarinos. Este aspecto tem despertado a curiosidade de indivíduos de diferentes nacionalidades”, confessou.  

 Registo como Património Cultural Nacional 

Mestre Petchú acredita que para melhor dignificação e protecção da dança, o seu registo , por parte das autoridades angolanas, como Património Nacional, é um grande passo, pelo facto de ser um produto em expansão e já consumido em vários países. Para o professor, a kizomba é uma das danças de referência do século XXI. "Antes da pandemia, havia em cada fim-de-semana, mais de 20 festivais de kizomba, em diferentes países, facto que a tem tornado, ao longo do tempo, numa indústria financeira, para os países organizadores”. 

O bailarino considera difícil combater as transformações que a kizomba tem sofrido ao longo dos últimos anos, sobretudo as novas tendências, nos países onde é praticada. "Com vista a preservar e proteger a identidade cultural desta dança, criei, há 22 anos, um programa de técnicas reguladoras, intitulado "Geometria da Kizomba", registada em Portugal, que dita as regras de ensino, teoria e prática, estudo do passo e codificação das passadas da kizomba”, informou, além de adiantar que pretende colocar no mercado, em breve, o livro "Kizombadas”, o culminar de mais de 20 anos de estudos sobre as danças urbanas em Angola. 

  Percurso do artista e contributo do Kilandukilu

Membro fundador do Ballet Tradicional Kilandukilu, há 37 anos, Pedro Vieira Dias Tomás "Mestre Petchú” é representante do grupo em Portugal, onde exerce os cargos de director artístico e coreógrafo. Para o professor, não se pode falar da expansão das danças angolanas em Portugal e Brasil sem incluir o contributo do grupo Kilandukilu, que foi a inspiração de muitos jovens, dentro e fora do país. 

O grupo Kilandukilu em Portugal, contou, introduziu um olhar diferente sobre a realidade das danças angolanas, mesmo com o trabalho feito na época por outros grupos. "Este aspecto ajudou a mudar o rumo da dança em Portugal e no resto da Europa”. Com vista a internacionalizar a cultura angolana, na década de 90, e na condição de emigrante em Portugal, foi incentivado pela parceira de dança Vanessa Ginga Pura, a criar um Curso de Formação, para o ensino das danças tradicionais e urbanas angolanas, como a kizomba, semba e tarraxinha, em escolas portuguesas. 


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