Opinião

Proibido perder tempo

Luciano Rocha

Jornalista

Este tempo que a grande maioria dos angolanos é obrigado a viver é demasiado curto para compensar o dos desocupados sem culpa de o ser, mas, também, daqueles que continuam a receber salários e mordomias sem os justificarem.

01/04/2021  Última atualização 09H01
Angola, por razões diversas, tem vivido, desde sempre, dificuldades várias, que a impedem de ser verdadeiramente independente, na exacta acepção da palavra, cuja maior riqueza - o povo anónimo - nunca foi devidamente aproveitada. E quanto mais tempo passava após a libertação do jugo colonial, mais distante ia ficando o sonho de uma Pátria, na qual todos têm os mesmos deveres, sim, mas, igualmente, direitos.

O fosso entre aquele sonho prometido começou a ser cavado, muito cedo, quando alguns dos nossos combatentes pela liberdade, homens e mulheres - uns com armas na mão, outros sem elas - começaram a revelar sede de poder, a fazer valer aquela condição e a reclamar direitos, em vez de se apresentarem como exemplos da Angola nova. Primeiro, devagarmente, depois, de forma mais descarada. Num instante, como epidemia, espalhou-se entre amigalhaços, parentes e quejandos. Laços familiares remotos foram vasculhados, recordados, inventados. Tal como passados, alguns insonsos, outros, comprometedores, reescritos com letras de metal pouco nobre, que acabam, sempre, por se deteriorar, perderem o brilho intrujão.

 Assim, floresceu o nepotismo da nossa desgraça que encharcou todos os sectores, fragilizando-os ainda mais nesta nação nascida em guerra, sem quadros qualificados, com uma percentagem elevadíssima de iletrados. Por todas aquelas causas, a par de outras, não se fizeram escolas, nem unidades de saúde; fecharam-se fábricas e serviços; acabaram-se com cursos de formação profissional; construíram-se e repararam-se estradas e pontes, quando orçamentos permitiam percentagens não constantes nos orçamentos oficiais; destruíram-se lavras para substituí-las por vivendas de fim-de-semana; desviaram-se rios em favor de negociatas de diamantes; venderam-se, como propriedade própria, terrenos doados para a agricultura e pecuária; "empresários”, sem formação académica qualificada, sequer conhecimentos práticos do quer que fosse, aventuraram-se em negócios, com dinheiro que não ganharam. A fila deste género de incongruências é enorme, quase ilimitada.

A aposta no petróleo, em detrimento de outras actividades, designadamente na agricultura e pecuária, foi o manto debruado de diamantes com o qual se exibia uma pequena-burguesia emergente e impreparada, que fez, anos a fio, do erário cofre privado. A pilhagem só abrandou quando o país já era dongo à deriva em mar revolto. Mas o exemplo estava dado e houve - continua a haver - seguidores apostados em afundá-lo. A estes juntam-se carpideiras, jurando arrependimentos, sacudindo culpas para cima de parceiros de saque e aqueles que, sem perderem a arrogância de anos recentes, armados em juízes em causa própria, advogam o perdão de toda gatunagem.

Por culpa deles e dos que, conscientemente ou não, lhes seguem as pegadas, contribuindo para o atraso do desenvolvimento nacional, é que há desocupados forçados; jovens à procura do primeiro emprego; crianças sem escola ou a deambular pelas ruas, sem haver organizações capazes de as acolher; quitandeiras mortas por cabos eléctricos na via pública, sem culpados assumidos; plásticos de todas as formas e feitios a poluírem nossos mares, rios, cidades e vilas, o futuro.
Por todas aquelas circunstâncias é que os que trabalham sem olhar a calendários ou relógios estão proibidos de fraquejar, para não "dar de bandeja” o "ouro ao bandido”.

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