Opinião

Que 2021 seja melhor e faça esquecer 2020

Filomeno Manaças

Tem-se dito, das coisas que correm mal, que elas “são para esquecer”. Os futebolistas que o digam! Até mesmo para os melhores jogadores do mundo, quando uma partida lhes corre mal, em que averbam uma derrota colossal, inesperada, o desabafo resume-se a: “foi (é) um jogo para esquecer…”

01/01/2021  Última atualização 12H08
E esse "foi para esquecer” remete-nos a algo ruim, que preferimos não inscrever no catálogo das nossas boas recordações.Com o ano 2020, que acaba de terminar, passa-se o mesmo: foi para esquecer! Mas às  vezes não é tanto assim. Se partirmos do princípio de que a vida é feita de coisas boas e más; de que as coisas ruins ajudam-nos a crescer, a atingir a maturidade e de que, fruto disso, o homem foi evoluindo, porque aperfeiçoou-se a partir do estudo dos erros cometidos, o "foi para esquecer” fica apenas como um desabafo, para expressar o quão doloroso terá sido o momento/acontecimento. E 2020 foi um ano doloroso para o mundo. A pandemia da Covid-19 mergulhou todos os países numa crise profunda. 2020 veio recordar-nos que, de tempos em tempos, o planeta em que vivemos é assolado por crises sanitárias à escala global. O ano passou, mas a pandemia persiste, ameaçando continuar a ensombrar 2021. Logo, as lições de 2020 devem estar presentes, para avivar a nossa memória sobre a melhor maneira de reduzir o impacto da Covid-19 nas nossas vidas, em primeiro lugar, e no país, em geral.No geral, e olhando para os números da Covid-19 registados até quarta-feira (17.433 infecções, 10.859 casos recuperados, 6.169 activos e 405 mortes), o balanço que se pode fazer é que Angola teve uma gestão aceitável da crise sanitária provocada pelo vírus da SARS-Cov-2. Uma gestão em que, não obstante as deficiências do nosso sistema de saúde, a resiliência veio ao de cima e a entrega dos profissionais do sector permitiu evitar o pior. Não houve colapso das unidades sanitárias, foi possível ter um acompanhamento regular dos casos surgidos e dar-lhes o devido tratamento, sendo que o número de mortes registadas (405) é aspecto que suscita preocupação.A pandemia obrigou a uma retracção da economia, que já vinha afectada pela queda do preço do petróleo - e, consequentemente, das receitas -, mas, ainda assim, não houve uma paralisação total da actividade. Procurar por soluções em tempo de nova crise fora das previsões levou a restrições em termos de investimentos e a acudir fundamentalmente o essencial. E o essencial passava por preparar o país para fazer face à Covid-19, com a construção de infra-estruturas adequadas e dotar o sistema de saúde de capacidade técnica e humana para responder a um desafio que deixou muitos países de rastos.As grandes reformas políticas e económicas viram, assim, o seu ímpeto ser refreado, mas nem por isso passos significativos deixaram de ser dados. O sistema judicial deu continuidade ao seu trabalho e uma das principais questões que figura no topo da agenda - o combate à corrupção e à impunidade -, voltou a colocá-lo na ordem do dia, com o julgamento de casos mediáticos.No plano político, o realce vai para o grande teste feito pela oposição - aqui entenda-se a UNITA mais os chamados "jovens revolucionários”, que formaram uma frente de actuação - com um duplo sentido. Num primeiro, contra o Executivo dirigido pelo Presidente João Lourenço e, num segundo, contra o MPLA. Uma acção destinada, sobretudo, a testar o sentido da projecção/manifestação do poder de autoridade. Se pelo recurso à violência na repressão dos protestos, se pela opção pelo diálogo e aceitação que as manifestações se realizassem sem serem reprimidas.Duas leituras se impõem: uma primeira que nos remete para o facto de a UNITA estar a trabalhar de modo diferente, a forjar "novas alianças” e a assumir organicamente o papel de liderança, e uma segunda, em que o Titular do Poder Executivo e presidente do MPLA sai desse teste somando vantagens políticas. Além de reiterar uma postura dialogante, que tem sido a sua marca desde que assumiu o mandato presidencial, João Lourenço aproveitou para reafirmar o seu compromisso com os valores da democracia, entre os quais o pluralismo político, consubstanciado na liberdade de expressão e de opinião, no quadro do respeito pelos princípios da urbanidade e da ética, e, sobretudo, a coesão social que deve ser mantida, mesmo na abordagem de temas fracturantes. Foi o que ficou espelhado, sem, todavia, o Executivo aparecer a ufanar-se de grandes realizações, porque, de forma reconhecida, há a consciência de que ainda é preciso trabalhar muito, para "melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”.As manifestações, essas, deixaram de ser um "bicho-de-sete-cabeças”. Elas perderam o seu fulgor nos excessos cometidos, um ponto de avaliação negativa que dá dos organizadores a ideia de pessoas mais propensas a actos de vandalismo do que da defesa de acções cívicas.Espera-se que, em 2021, com a descoberta de vacinas, a pandemia abrande pelo mundo e que possa ser encontrada, o mais rápido possível, resposta para a nova variante do vírus da SARS-Cov-2. É, portanto, com relativo optimismo que se pode encarar o ano que hoje começa, com os angolanos a torcerem para que haja ambiente propício para colocar o país nos carris.

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