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RCA: Rebeldes anunciam permissão para apoio humanitário em Bangui

Os rebelde na República Centro-Africana (RCA), que estão a perder terreno para as forças governamentais, anunciaram hoje que estão temporariamente a permitir a passagem de comboios humanitários para a capital do país, Bangui.

10/02/2021  Última atualização 16H49
República Centro-Africana © Fotografia por: DR
"Tiveram lugar contactos e negociações com organizações humanitárias para abrir, excepcionalmente, um corredor humanitário para as organizações não-governamentais", anunciou a Coligação de Patriotas para a Mudança (CPC), uma aliança de seis dos mais poderosos grupos armados que controlaram dois terços da região assolada por oito anos de guerra civil.

De acordo com o comunicado citado pela agência France-Presse, o CPC "autoriza excepcional e temporariamente a utilização da estrada Garoua-Boulai Bangui por razões humanitárias", mas adverte os utentes desta estrada "contra qualquer desvio das disposições negociadas".

Em 17 de Dezembro, seis dos grupos armados rebeldes que ocupam dois terços da RCA aliaram-se na CPC, tendo, em 19 de Dezembro, oito dias antes das eleições presidenciais e legislativas, anunciado uma ofensiva para impedir a reeleição do Presidente, Faustin Archange Touadéra.

Desde aí, Bangui tem sido bloqueada pelos principais grupos armados, que realizaram vários ataques a importantes estradas nacionais que ligam a capital a países vizinhos.

Os rebeldes tinham tomado a cidade de Bouar em 27 de Dezembro, dia da primeira volta das eleições presidenciais que deram a vitória a Touadéra.

Bouar, a quinta maior cidade da RCA, com 40.000 habitantes, situa-se numa estrada vital que liga a capital, Bangui, aos Camarões.

Em 05 de Fevereiro, as forças pró-governamentais tinham já retirado os rebeldes da cidade de Yaloké, a cerca de 190 quilómetros da capital, Bangui, segundo um anúncio feito então pelo primeiro-ministro do país, Firmin Ngrebada.

No mesmo dia, o parlamento centro-africano aprovou uma prorrogação do estado de emergência por seis meses, garantido assim mais liberdade às autoridades de efectuarem detenções.

Na segunda-feira, e após várias ofensivas pelas forças pró-governamentais, que incluem militares ruandeses e paramilitares russos, os Capacetes Azuis no país escoltaram um comboio de ajuda humanitária até Bangui, depois de 50 dias de bloqueio, segundo a Missão das Nações Unidas na RCA, a Minusca.

Os rebeldes controlam a maior parte dos recursos naturais do país e mantêm a insegurança nas estradas para impedir o transporte de mercadorias para a capital, onde os preços subiram e se nota uma maior escassez.

A Minusca criticou as tentativas de os rebeldes no país asfixiarem a capital, Bangui, alertando para a "tragédia social e humanitária” que poderá afectar a população.

Touadéra foi declarado reeleito em 04 de Janeiro após uma votação que foi contestada pela oposição e na qual apenas um em cada dois eleitores recenseados teve a oportunidade de votar por causa da insegurança fora de Bangui.

O Tribunal validou a taxa de participação eleitoral em 35,25%, muito abaixo dos 76,31% anunciados provisoriamente pela comissão eleitoral em 04 de Janeiro.

Mais de um mês depois da primeira volta e quando ainda não há data marcada para a segunda ronda, 118 assentos parlamentares continuam por preencher, depois de o Tribunal Constitucional centro-africano ter validado a eleição de 22 deputados no primeiro sufrágio.

A RCA caiu no caos e na violência em 2013, após o derrube do então Presidente François Bozizé, por grupos armados juntos na Séléka, o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas na anti-Balaka.

Desde então, o território centro-africano tem sido palco de confrontos comunitários entre estes grupos, que obrigaram quase um quarto dos 4,7 milhões de habitantes da RCA a abandonarem as suas casas.

Portugal tem actualmente na RCA 243 militares, dos quais 188 integram a Minusca e 55 participam na missão de treino da União Europeia (EUTM), liderada por Portugal, pelo brigadeiro general Neves de Abreu, até Setembro de 2021.

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