Sociedade

Registadas mais de cem mil transfusões de sangue

Alexa Sonhi

Jornalista

Em consequência das doações de sangue feitas por 139 mil e 820 dadores, controlados pelo Instituto Nacional de Sangue (INS), entre Janeiro e Novembro do ano passado, foram registadas 143 mil e 884 transfusões.

07/01/2021  Última atualização 14H00
© Fotografia por: DR
Em entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, a directora do INS, Deodete Machado, disse que, em relação ao número total de dadores registados, 123 mil e 694 são fa-miliares e 16 mil e 126 voluntários. "Este número está muito abaixo da meta estipulada pela Organização Mundial da Saúde, que defende que pelo menos um por cento da população de um determinado país ou cidade deve ser dador voluntário”, referiu.  A especialista em imunohemoterapia explicou que o facto de existirem poucos dadores voluntários no país faz com que o INS solicite a intervenção dos familiares, vizinhos e amigos das pessoas internadas, no sentido de abastecerem o banco de sangue.Deodete Machado esclareceu que, em média diária, o INS colhe 70 unidades de sangue. "Nos dias mais agitados chegamos a colher até 120 amostras”, disse a responsável, para acrescentar que só a província de Luanda precisa, em média, de 200 unidades de sangue por dia.Na capital do país, o INS abastece de sangue os hospitais David Bernardino, Américo Boavida e o Centro Nacional de Oncologia. A direc-tora do Instituto Nacional de Sangue explicou que é importante haver um intervalo entre as doações sanguíneas. "Os homens devem doar de três em três meses, podendo fazê-lo até quatros vezes ao ano. Já as mulheres doam de quatro em quatro meses, ou seja, três vezes ao ano.A directora do INS informou que cada componente do sangue tem o seu tempo de validade, tendo explicado que o concentrado de eritrócito, por exemplo, fica armazenado durante um período de 35 a 42 dias, o de plaquetas cinco dias, o plasma fresco congelado dura um ano, enquanto o crioprecipitado só fica armazenado até 24 horas.A médica esclareceu que o eritrócitos é utilizado no tratamento de pacientes com anemia, o plasma fresco congelado em pessoas com alterações hemostáticas, as plaquetas são usadas no tratamento de pessoas com plaquetas baixas e que estão na iminência de ter um sangramento.  
Segurança nas transfusõesEspecialista em Imunohemoterapia, Deodete Machado disse que no processo de transfusão sanguínea  existem os riscos infecciosos, imunológicos imediatos e os tardios. Explicou que são por esses motivos que a transfusão de sangue só pode ser efectuada em caso de estrita necessidade.Apesar disso, a responsável garante que o processo envolvendo o rastreio de dados dos dadores, doação, análise ao sangue e o seu armazenamento nos hospitais é muito seguro, porque obedece rigorosamente a todos os critérios estabelecidos pela OMS, para que se tenha sangue seguro até ao momento das transfusões."Os pacientes que fazem hemodiálise precisam de sangue com regularidade, porque desenvolvem anemia com facilidade. Quanto aos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca e pessoas que padecem de células falciformes, estes, com muita frequência, são transfundidos. Não havendo sangue, podem morrer”, disse.De acordo com a directora do INS, para que se tenha cada vez mais sangue nos hospitais é necessário haver um bom número de doadores voluntários "porque é neste grupo onde se vai encontrar  pessoas com menores possibilidades de terem doenças”.Quanto aos familiares de pacientes internados, Deodete Machado disse que a maioria das pessoas doa por se sentir pressionada a ajudar os seus familiares, e que, por essa razão, muitas delas não são sinceras no momento de fazer o rastreio, porque querem apenas salvar os seus entes queridos."Tanto os dadores voluntários, como os familiares, devem ter entre 18 e 65 anos. Todos os indivíduos que chegam ao Instituto Nacional de Sangue, com objectivo de doar, primeiro passam por um rigoroso processo de instrução. Se for mulher, não pode estar grávida e nem a amamentar”, disse, para acrescentar que os dadores devem gozar de boa saúde, não podem fazer uso de drogas, ter vários parceiros sexuais, abusar do álcool, e devem ter pelo menos sete horas de sono por dia.A médica disse que os candidatos à doação preenchem um inquérito com questões pessoais, assumem a responsabilidade como dador e fazem a triagem para se dosear a hemoglobina, que no caso dos homens deve ter acima de 13,5 e as mulheres 12,5. Depois disso, prosseguiu, são feitos despistes da malária e tiram-se os sinais vitais."Caso tudo esteja bem, o candidato deve tomar um lanche, relaxar alguns minutos,  e de seguida está apto para doar 450 mililitros de sangue. Feito isso, uma parte do sangue vai para o laboratório de imunohematologia, e a outra para o laboratório de doenças transmissíveis”, indicou.No laboratório de imunohematologia  são agrupados os compostos  ABO/RH  Fenotepagem, fazem-se as provas de compatibilidade e de disponibilidade da humanidade para transfusão. Já no laboratório de doenças transmissíveis faz-se despistes do HIV, hepatite B e C, e da sífilis.O sangue doado passa, depois, a outro laboratório, para  se fazer a separação dos concentrados de hiritrócito, plaquetas, plasmas  frescos congelados e crioprecipitado. Depois de todo este processo, as bolsas de sangue com resultados positivos são logo descartadas e destruídas automaticamente.

Dadores infectados

A directora do INS, Deodete Machado, disse que os dadores com malária ou sífilis fazem logo o tratamento,   enquanto os infectados com HIV (sida), hepatite B e C são encaminhados para outras unidades de referência, para o controlo e tratamento das enfermidades.

"A área da hemoterapia é muito sensível. Em alguns casos, as pessoas  que aparecem para doar não sabem que estão infectadas, e apesar de o processo de doação ser devidamente cuidadoso, e atendendo ao período de incubação de algumas  doenças, é possível sim, algumas amostras estarem infectadas, e  no  processo de análise não acusar nada, apesar de o sangue estar contaminado”, sublinhou.

Explicou que em caso de alguém se infectar no processo de transfusão de sangue,  deve-se, imediatamente, notificar as duas pessoas envolvidas (dador e receptor) para rapidamente serem tratadas, controladas, e serem descartadas outras situações.

Tendo em  conta a sensibilidade da área de hemoterapia, a directora do INS disse ser importante que os hospitais mantenham todos os registos dos dadores e receptores, por um período de 30 anos, tempo estipulado pela OMS, para em caso de haver algum problema, tanto o hospital, como o dador e o receptor saberem onde recorrer para tirar as dúvidas e atender as reclamações.O Instituto Nacional de Sangue tem a responsabilidade de analisar todas as bolsas de sangue doadas num total de 22  unidades sanitárias da província de Luanda, incluindo as clínicas privadas. "Alguns dadores vão aos hospitais mais próximos, para doar, mas estes por sua  vez  enviam as amostras ao INS para serem minuciosamente examinadas”, aclarou.

Conselhos da especialista

Deodete Machado aconselha as famílias a investirem cada vez mais numa alimentação saudável. Segundo a médica, o prato deve estar sempre colorido com verduras, carbohidratos, proteínas  e vitaminas, porque ajuda no aumento da hemoglobina e contribui para o funcionamento normal do organismo.

"Na mesma proporção, deve-se evitar o evoluir das doenças. Caso esteja com febre, a orientação é ir ao hospital logo, para que a hemoglobina não baixe consideravelmente, até ao ponto de precisar de uma transfusão de sangue”, disse.

Apelou a todos no sentido de se lembrarem sempre de doar o sangue, para que o produto não falte nos hospitais. "Desta forma, será o sangue a esperar pelo doente e muitas vidas serão salvas”, concluiu a responsável do INS.O antigo Centro Nacional de Sangue funciona desde 2014 e conta actualmente com 149 trabalhadores, entre os quais 14 médicos, 46 enfermeiros e 47 técnicos de diagnóstico e terapêutica.

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