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Reino Unido coloca fim ao desarmamento nuclear

O Governo britânico decidiu aumentar o arsenal nuclear, o número máximo de ogivas vai passar de 180 para 260, um aumento de 45 por cento. Uma estratégia polémica que põe fim ao desarmamento progressivo implementado há 30 anos. Boris Johnson justifica a decisão com o aumento das ameaças no mundo.

18/03/2021  Última atualização 18H25
Londres fez uma revisão estratégica de segurança, defesa e na política externa do país © Fotografia por: DR
Com a nova estratégia o Reino Unido procura um reposicionamento e assumir-se como uma potência fundamental no cenário internacional. Apesar do "Brexit”, Londres pretende manter o apoio à defesa da Europa: "o compromisso do Reino Unido com a segurança do nosso lar europeu permanecerá incondicional e inamovível, encarnado pela liderança do destacamento da Aliança Atlântica na Estónia”, disse Johnson.

A mudança de estratégia nuclear está explicada num documento de mais de 100 páginas onde a Rússia é considerada como sendo uma ameaça directa. O documento alerta, também, para a "possibilidade realista” que um grupo terrorista "possa lançar com sucesso um ataque químico, biológico, ou nuclear até 2030”. O país fez uma revisão estratégica de segurança, defesa e política externa.

Esta revisão, a primeira desde a saída do Reino Unido da União Europeia, é uma das mais importantes desde a Guerra Fria. "A história mostra que as sociedades democráticas são os defensores mais fortes de uma ordem internacional aberta e resiliente”, diz Boris Johnson no prefácio do texto. "Para estarmos abertos, também devemos estar seguros”, acrescentou.
Isso exige, segundo ele, o fortalecimento do programa nuclear britânico.

"Como as circunstâncias e ameaças mudam com o tempo, devemos manter um nível mínimo e confiável de dissuasão”, justificou, na terça-feira, antes da publicação do relatório, o minis-tro das Relações Exteriores, Dominic Raab, questionado pela rede BBC. "É a última garantia, a apólice de seguro definitiva contra as piores ameaças de Estados hostis”, acrescentou.


Ameaças previstas
Além do documento apresentar a Rússia de Vladimir Putin como "a ameaça directa mais aguda contra o Reino Unido”, reafirma-se o papel da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) como "a base da segurança colectiva” para a Europa. A China é descrita como um "competidor sistémico”. O Governo do Reino Unido mantém relações tensas com Moscovo e Pequim, após o suposto envenenamento em território britânico de um ex-espião russo e o questionamento da política chinesa em Hong Kong. Os soldados britânicos também deverão servir "com mais frequência e por mais tempo” no exterior.


Reacções
A possibilidade de aumento do arsenal nuclear britânico fez reagir a ICAN (Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares), que considerou que "violaria os compromissos que (Londres) assumiu sob o tratado de não-proliferação nuclear”.

"A decisão do Reino Unido de aumentar o estoque de armas de destruição em massa no meio de uma pandemia é irresponsável, perigosa e viola o direito internacional”, afirmou a directora da ONG, Beatrice Fihn. A organização  Grupo de Campanha pelo Desarmamento Nuclear (CND) vê isso como um "primeiro passo para uma nova corrida armamentista nuclear” e uma "grande provocação no cenário internacional”.

O Kremlin condenou, ontem, a decisão do Governo britânico. "Lamentamos que a Grã-Bretanha tenha escolhido a via que a leva a aumentar as armas nucleares”, afirmou o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov. "Esta decisão prejudica a estabilidade mundial e a segurança estratégica”, acrescentou.

"Não há nenhuma ameaça por parte da Rússia”, frisou Peskov, considerando "inaceitável afirmar-se o contrário”. As medidas vão contra os objectivos internacionais da luta contra a proliferação, poucas semanas depois de a Rússia e os Estados Unidos terem alcançado um entendimento sobre o prolongamento do Tratado sobre Limitação de Armas Nucleares. "A existência de armas nucleares é uma ameaça para a paz na Terra”, concluiu Peskov.

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