Opinião

Relançamento das economias africanas

Juliana Evangelista Ferraz |*

O 25 de Maio é celebrado o Dia de África e o continente vive um período muito particular da sua história, fase que marca a viragem de décadas por conflitos, com inúmeros países a enfrentarem o desenvolvimento económico e institucional e agora com baixas taxas de crescimento ou mesmo em recessão, devido à pandemia da Covid-19.

25/05/2021  Última atualização 07H10
O mês de Maio foi marcado pela Cimeira França-África, que decorreu com vários Chefes de Estado africanos. Este acontecimento é um sinal de novas oportunidades para África, que culminou com o acordo que os países mais ricos ajudem o continente africano a ultrapassar os efeitos económicos deixados pela pandemia da Covid-19. Foram aprovados 100 mil milhões de dólares em Direitos Especiais de Saque (DES) do FMI, a serem disponibilizados até ao mês de Outubro, para o relançamento das economias africanas. O FMI estima que os países africanos registam necessidades de financiamento de cerca de 450 mil milhões de dólares, para relançar a economia do continente até 2025.Outro tema de destaque da Cimeira, salientado pelo Presidente da União Africana, Félix Tshisekedi, é a necessidade imperiosa dos países africanos terem a capacidade de produzir as próprias vacinas, pelo facto de África ter vacinado apenas 2% da população, comparativamente ao continente europeu, que já vacinou cerca de 36% da população. Foi proposto como objectivo vacinar 40% da população africana até ao final do ano em curso.

 Apesar de a África subsaariana estar entre as regiões que registam os mais elevados índices de pobreza, analfabetismo e fraca produtividade, é justo dizer que se observa uma melhoria na mudança de mentalidade das elites políticas e económicas, na forma como conduzem os processos de gestão pública e privada em todo o continente. Fenómenos como a descolonização, democracia e globalização são, certamente, factores fundamentais que contribuem para que o continente recupere as suas instituições políticas, económicas e sociais.No entanto, em pleno século XXI, os grandes objectivos do continente passam pela estabilidade política e económica, redução da pobreza, e reforma da máquina administrativa do Estado. Assim, as economias mais dinâmicas da África subsaariana têm privilegiado o desenvolvimento de um modelo económico liberal, com uma economia aberta, e o desenvolvimento dos sectores chave da economia, com vista à diversificação da base produtiva. Especialistas apontam as origens do problema da transformação produtiva em África: 

1- Deslocação de riqueza e surgimento de economias emergentes2 - A nova revolução industrial 3 - Transição demográfica.

A deslocação de riqueza traz oportunidades para a diversificação das exportações a nível do continente e a abertura de novas indústrias de transformação para a região. Mas cabe destacar que essas economias devem criar factores de atractividade e retenção de investimento de variadas fontes. De acordo a Organização das Nações Unidas (ONU), os fluxos de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) a nível mundial baixou de 42%, atingindo registos de USD 1,5 trilhão, em 2019, para um valor estimado em cerca de USD 859 biliões, em 2020. Por outro lado, o (IDE) em África caiu cerca de 18%, devido a pandemia da Covid-19. O panorama ainda é incerto e muitas multinacionais estão a reavaliar as acções de investimento a nível do continente.Com a nova revolução industrial, as economias africanas devem reforçar a aposta num modelo de desenvolvimento sustentável, baseado no aumento da produtividade, uma vez que o crescimento económico a longo prazo depende do aumento do índice de produtividade dos países. Por outro lado, o aumento da produtividade é crucial para que a melhoria das condições de vida dos cidadãos, para o crescimento dos salários reais e para a criação de emprego, contribuindo ainda para aumentar o investimento e para o equilíbrio das contas públicas.

No concreto de Angola, a capacidade de oferta de produtos não satisfaz a procura. É certo que se deve operar melhorias de custos de contexto e das condições de investimento, uma vez que persistem constrangimentos operacionais de vária ordem, que reduzem a competitividade interna de várias indústrias. A questão dos custos associados ao fornecimento de energia e água continuam a ser o "calcanhar de Aquiles” de vários projectos industriais, custos que são repassados ao cliente final, deteriorando, de certo modo, o poder de compra dos cidadãos.Assim, a alteração de um modelo de desenvolvimento excessivamente focado na importação de matérias-primas e bens de consumo deve dar lugar à criação de um paradigma baseado na eficiência dos factores de produção interna.Existem grandes potencialidades e investimentos no sector agrícola a nível do continente, mas também ameaças ao desenvolvimento económico, que põem em causa a expansão e modernização do sector agrícola. Destacaria como oportunidades a fertilidade dos solos e a diversidade climática que permite praticar uma agricultura de duas estações em várias regiões.
*Economista

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