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Repressão sangrenta nas ruas de Myanmar

Pelo menos 20 manifestantes morreram, vários ficaram feridos e cerca de 900 foram detidos, ontem, em Myanmar, durante as acções das forças de segurança, que dispersaram de maneira violenta vários actos, no dia mais violento dos protestos contra o golpe militar do dia 1 de Fevereiro.

01/03/2021  Última atualização 18H44
Centenas de manifestantes foram feridos, mas os protestos mantêm-se na maioria das cidades © Fotografia por: DR
"Ao longo do dia, em diversas partes do país, as forças policiais e das forças militares confrontaram as manifestações pacíficas e usaram a força letal e violência",disse a ONG Ajuda aos Presos Políticos (AAPP).
O país vive, há um mês, uma onda de manifestações pró-democracia e de uma campanha de desobediência civil desde o golpe de Estado que derrubou o Governo civil liderado por Aung San Suu Kyi.
Os protestos são reprimidos de forma cada vez mais violenta, com gás lacrimogéneo, jactos de água, balas de borracha e, em alguns casos, balas verdadeiras.

Até ontem à noite haviam sido contabilizadas cerca de vinte mortes entre os manifestantes. O Exército afirmou, também que, pelo menos, um agente da Polícia  morreu quando tentava dispersar um protesto.
"A polícia começou a disparar assim que chegamos", declarou à AFP Amy Kyaw, uma professora de 29 anos.
"Não aconteceram mensagens de advertência. Alguns manifestantes foram feridos e outros buscaram refúgios nas casas dos moradores do bairro", explicou.

"A clara escalada do uso de força letal em várias cidades do país é escandalosa e inaceitável, e deve parar imediatamente", afirmou Phil Robertson, subdirector da divisão Ásia na ONG Human Rights Watch.
No sábado, as forças de segurança também responderam com violência em várias manifestações.
Pelo menos, três jornalistas foram detidos: um fotógrafo da agência americana Associated Press e um cinegrafista e fotógrafo de duas agências birmanesas, "Myanmar Now" e "Myanmar Pressphoto".
As cerca de 900 pessoas detidas e acusadas comparecem, hoje, aos tribunais e estima-se que os números devem aumentar nos próximos dias.

Muitos países condenaram a repressão. Estados Unidos e União Europeia denunciaram a violência e pedem os militares a deixarem o poder.
Aung San Suu Kyi, vencedora do Nobel da Paz em 1991, não é vista em público desde que foi detida.
Ela está em prisão domiciliar em Naypyidaw, a capital do país, acusada de ter importado walkie-talkies de maneira ilegal e de ter violado as restrições impostas pela pandemia da Covid-19. Hoje, ela vai comparecer a uma audiência para responder sobre estas acusações.

No sábado, a junta militar destituiu o embaixador do país na ONU, Kyaw Moe Tun, que, um dia antes, havia defendido o "fim do golpe militar" e solicitado "a acção enérgica da comunidade internacional para terminar com a opressão da população inocente e devolver o poder ao povo".
Com os novos protestos num grande número de cidades no país, a Polícia - apoiada pelo Exército - intensificou o uso da força para dispersar os manifestantes.


Movimento de protesto mantém-se firme

Milhares de manifestantes desafiam a repressão militar que tenta abafar os protestos em Myanmar. Continuam as mobilizações no país e apesar da morte de várias pessoas nos protestos do fim- de-semana, o movimento mantém-se firme.
Um dos manifestantes disse que é preciso fazer um jogo mental e que mesmo que estejam revoltados não podem responder com raiva e não pretendem recorrer à violência. O Movimento de Desobediência Civil é apenas uma arma que podem usar. Concluindo que os protestos vão continuar durante o tempo que for necessário e nunca vão parar.
Os manifestantes exigem a abolição da Constituição que consideram favorável ao Exército, a libertação dos presos e o regresso da líder Aung Sang Suu Kyi.

Na televisão pública, os generais tinham já deixado o aviso: a oposição ao regime pode custar mais vidas.
Apesar do medo instalado pelas ameaças, milhões de pessoas saíram em protesto, mais uma vez.
"Honestamente, tive medo, ontem à noite, de sair hoje. Aconteça o que acontecer, é o nosso dever, devemos fazê-lo e estamos a protestar agora", afirma uma das manifestantes.
Outro dos participantes na manifestação diz não querer que o "país seja governado pelos militares", por ser um regime repressivo.
Os militares governam Myanmar desde o golpe de Estado a 1 de Fevereiro.
Também o Presidente U Win Myint encontra-se preso em área desconhecida.

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