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Republicanos já não têm medo de criticar Trump

Em 2019, não houve um único congressista republicano a votar a favor da destituição do Presidente dos EUA, Donald Trump. Desta vez, num histórico segundo processo de destituição, a história é diferente. Ainda antes da votação na Câmara dos Representantes, pelo menos cinco Republicanos já tinham dito que iam votar a favor e a Casa Branca estaria a contar com a “traição” de uma dúzia.

14/01/2021  Última atualização 21H35
Donald Trump já não conta com total apoio do seu partido © Fotografia por: DR
No final foram dez, numa votação com 232 votos a favor e 197 contra. A dúvida é saber se estamos diante do princípio da revolta dentro do Partido Republicano ou se este continuará a proteger o Presidente, ciente da força que o seu apoio ainda representa para parte do eleitorado.

A maioria Democrata na Câmara dos Representantes significa que a destituição de Trump por "incitar à insurreição” vai avançar, independentemente do número de Republicanos que o apoiem.  Contudo, no Senado, as contas são mais complicadas, porque será preciso uma maioria de dois terços para destituir Trump - o que significa que 17 senadores Republicanos terão de votar a favor. 

Algo que pode parecer difícil, mas Mitch McConnell (o ainda líder da maioria até à posse da Vice-Presidente, Kamala Harris) já terá dito em privado que concorda com o processo.  Apesar disso, não irá chamar os senadores de volta a Washington (os trabalhos estão suspensos até dia 19), pelo que será impossível julgar Trump antes de este sair da Casa Branca.

O processo poderá contudo continuar depois do dia 20 de Janeiro, sendo a destituição uma forma de os Republicanos afastarem Trump das presidenciais de 2024. Isto porque, se a destituição for aprovada, bastará uma maioria simples para o impedir de concorrer a cargos públicos. 

Mesmo sem acesso ao Twitter ou às redes sociais, Trump não ficará por muito tempo fora da ribalta e se uma eventual candidatura não for rejeitada, possivelmente não deixará espaço de manobra ao partido nos próximos quatro anos.  Se ele pessoalmente não puder ser candidato, será aberta a guerra interna para encontrar um sucessor - e o apoio de um ex-Presidente que foi destituído poderá tornar-se tóxico.

"Nunca houve uma maior traição de um presidente dos EUA ao seu cargo e ao seu juramento à Constituição”, disse a congressista Liz Cheney. A filha do ex-Vice-Presidente, Dick Cheney , que é a terceira Republicana mais importante na Câmara dos Representantes, foi uma das que anunciaram antes da votação que iria votar a favor da destituição. 

Os apoiantes de Trump dizem que poderá esperar a resposta dos eleitores nas urnas. As sondagens mostram que os eleitores Republicanos se opõem à destituição e aqueles que ainda são leais ao Presidente não hesitaram em usar esse argumento na hora de ir a votos.

"Qualquer senador ou congressista que vote a favor da destituição terá de enfrentar essa escolha nas próximas primárias”, disse à AP o conselheiro de Trump, Jason Miller. Muitos congressistas Republicanos optaram, ontem, por denunciar novamente a violência que se viveu no Capitólio, na semana passada, defendendo que o Presidente deveria ter de imediato agido para condenar o que se estava a passar. 

Defendem que Trump deverá assumir parte da responsabilidade pelo que aconteceu, tendo incitado a multidão com o seu discurso. Mas votam contra a destituição. "Acredito que a destituição num curto espaço de tempo seria um erro”, disse o líder da minoria Republicana, Kevin McCarthy, considerando que isso "só iria dividir mais a Nação”. Na prática, criticaram o Presidente e as suas acções, mas não ficam no seu currículo com um voto contra Trump.Numa mensagem divulgada pelo gabinete de imprensa da Casa Branca, Trump lançou, ontem, um apelo contra a violência, os crimes e o vandalismo de qualquer tipo, quando há indicação de que estão a ser preparadas manifestações e acções violentas para o dia da tomada de posse de Biden. "Não é isto que eu represento, e não é isto que a América representa”, escreveu. "Peço a todos os americanos que ajudem a aliviar a tensão e a acalmar a situação”, acrescentou.

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