Sociedade

Retrospectiva/2020: Os dois primeiros casos positivos de Covid-19 em Angola vieram de Portugal

Rodrigues Cambala

Jornalista

“A pandemia já atingiu o nosso país com confirmação desde às 2h00 de hoje”. Foi assim que, no dia 21 de Março, a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta anunciava a existência dos dois primeiros casos de Covid-19, durante uma conferência de imprensa realizada em Luanda.

01/01/2021  Última atualização 11H52
© Fotografia por: DR
Angola estava oficialmente entre os países que conviviam já com o vírus Sar-Cov-2 e todas as consequências e limitações causadas pelo mesmo.  Soubesse igualmente que os cidadãos infectados eram do sexo masculino, tinham  idades compreendidas entre os 36 e 38 anos, residiam na capital e regressaram de Portugal nos dias 17 e 18 de Março.

Na altura, o mundo já registava  mais de 20 mil mortes e 400 mil pessoas  infectadas, depois que a doença que foi detectada, em Dezembro de 2019, na cidade chinesa de Wuhan. A Itália liderava a lista de países com maior contágio e número de óbitos, seguia-se a China e Espanha.
Estado de Emergência
Face à pandemia declarada pela OMS a 11 de Março e os casos registados em Luanda, no dia 26 do mesmo mês, o Presidente da República, João Manuel Lourenço decretou Estado de Emergência Nacional com início à meia-noite de 27 de Março.

Antes, a 3 de Março, as autoridades angolanas proíbem a entrada de cidadãos provenientes da China, Egipto, Nigéria, Argélia, Marrocos, Senegal e Tunísia, países com circulação do novo coronavírus. Decretado a 25 de Março, o Estado de Emergência foi prorrogado por quatro períodos sucessivos de 15 dias e durou até 25 de Maio.

No fim de 45 dias de confinamento, o Presidente da República, João Lourenço reconheceu os efeitos negativos da situação para a vida das pessoas e das empresas, mas alertou para a necessidade de manter as medidas. "Os angolanos tiveram de consentir enormes sacrifícios e ficar sujeitos a grandes restrições”, reconheceu o Chefe  de  Estado.

Naquele período, Angola tinha apenas 43 casos positivos, pelo que João Lourenço considerou "uma tendência de contenção da progressão da pandemia”, mas lembrou que a doença continuava a preocupar. "Se tivermos em conta que temos 16 casos de transmissão local, corremos sérios riscos de evoluirmos para a transmissão comunitária se afrouxarmos as medidas até agora impostas pelo Estado de Emergência em vigor”, sublinhou.
Quarentena
Depois do anúncio das primeiras infecções em Angola, a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta apelava, sobretudo, os viajantes que chegavam de países com circulação comunitária do vírus, a cumprirem a quarentena obrigatória. Que tanto podia ser feita nos centros de tratamento ou ao domicílio. Para os casos de incumprimento, estava disponível o número 111 para denúncia. 

Recursos técnicos e humanos para combater a Covid-19

O Presidente João Lourenço garantiu, em Maio, que o Executivo continuaria a disponibilizar recursos para equipar os centros de tratamento, construir hospitais de campanha, instalar mais laboratórios de testagem, aumentar a disponibilidade de ventiladores e materiais de biossegurança e aumentar a formação específica de pessoal médico e paramédico.

 A 10 de Abril chegavam 257 profissionais de saúde cubanos para reforçar o combate à Covid-19 em todas as províncias e municípios do país. Em Outubro, uma equipa de 10 médicos chineses chegou para apoiar o combate à pandemia. Eram especialistas em áreas como a Cirurgia, Pneumologia, Cuidados Intensivos, Medicina Tradicional Chinesa, Prevenção de Doenças Infecciosas e Enfermagem.

Os profissionais vieram de universidades e hospitais da província de Hubei, no centro da China, e estiveram em serviço na cidade de Wuhan onde foi detectado, pela primeira vez, o novo coronavírus responsável pela Covid-19.

Primeiras mortes

No dia 28 de Março foram anunciadas as duas primeiras mortes por coronavírus. Os casos que resultaram em óbitos eram ambos angolanos, um de 59 anos e outro de 37 anos. O primeiro residia habitualmente em Portugal e chegou a Angola no dia 12 de Março. O segundo caso residia em Luanda, chegou de Lisboa no dia 13 de Março e esteve internado durante uma semana. 

No domingo, 29 de Março, havia já sete casos positivos, 28 doentes activos, 13 recuperados e um total de 43 casos importados. No mesmo período, o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana já contabilizava mais de 60 mil infectados e mais de dois mil mortos.

 "Caso 26”

Francisco Lola é com certeza o doente da Covid-19 mais mediático em Angola. Conhecido como "Caso 26”, estima-se que tenha infectado 26 pessoas de Março a Maio. Também conhecido nas redes sociais como o homem dos " dois funges”, pelo facto de ter duas famílias, uma residente no Futungo e outra no Cassenda, Francisco Lola motivou a imposição de cercas sanitárias nos bairros onde vive. 

Considerado paciente assintomático, Francisco Lola contagiou uma das esposas e dois filhos, um de quatro anos e outro de um ano e seis meses. Em declarações ao Jornal de Angola, na altura em tratamento o "caso 26” disse que estava feliz com o progresso no tratamento que vinha realizando. Já tinha testado negativo duas vezes e esperava a colecta para certificar a cura e poder voltar a ter alta. O protagonista do "caso 26” chegou ao país no dia 19 de Março vindo de Lisboa num voo da TAAG.

Contaminação local e cercas sanitárias em Luanda
No dia 27 de Abril foi anunciado o primeiro caso de contaminação local. Tratou-se de uma jovem de 16 anos de idade, filha de um paciente activo.

A 4 de Maio impôs-se cerca sanitária no Distrito Urbano do Futungo e no bairro Cassenda, distrito da Maianga.  Outra cerca sanitária foi imposta às ruas Marcovi e São José, no Distrito Urbano do Hoji-ya-Henda, município do Cazenga, para conter a transmissão local da Covid-19, porque ali um cidadão guineense, o chamado "caso 31” tinha testado positivo. Angola, até 21 de Maio, registava 60 casos de contaminação local, sendo vítimas cidadãos angolanos e estrangeiros.

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