Opinião

Riquezas de Angola

Sousa Jamba

Jornalista

Por várias razões, nos últimos dez dias, estive nas províncias de Luanda, Bengo e agora Namibe.

22/01/2021  Última atualização 08H10
Percorri uma boa parte de Angola. No Bengo, andei de aldeia em aldeia à procura de sementes de caju. Numa iniciativa que alguns acham louca, quero ver se o caju vai crescer num terreno no Manico, minha aldeia ancestral no Planalto Central.Para ir ao Namibe, passei pelo Chongorói, Quilengues, Lubango, Humpata até à costa. Passei pela majestosa Serra da Leba. No Namibe, visitei o deserto onde fiquei altamente decepcionado ao ver garrafas, latas e até preservativos usados ao lado da grande Welwitschia Mirabilis. No deserto, vi várias carcaças de viaturas. O desrespeito pela natureza revela um profundo desconhecimento do potencial da nossa riqueza. Angola é mesmo rica!

Gosto de viajar lentamente para apreciar este maravilhoso país. Angola é um país cheio de encantos naturais. Já estive em Cabinda, no interior da província de Malanje, nas Lundas, no Moxico. Numa situação normal, este país poderia sobreviver apenas do turismo e da agricultura.Já viajei numa boa parte do continente Africano. Já andei de viatura de Ndjamena, capital do Chade, até à fronteira do Sudão. Conheço bem o Sahel. Para alguém vindo de lá, o que vi entre o Planalto e a costa no Namibe seria um paraíso: florestas bem verdes; rios cheios de água; montanhas que pareciam ter sido feitas somente para poetas e pintores — beleza quase inefável.

Fui reconhecido nas pequenas vilas em que passei, o que me surpreendeu bastante; muitos jovens têm seguido a minha página no Facebook onde tenho publicado fotos da aldeia Camela Amões, a minha residência no Planalto. Muitos queriam saber sobre esta aldeia e o falecido Segunda Amões.O Segunda sempre insistia no empoderamento das comunidades rurais. Havia, sim, muitas fazendas na área em que passei — mas vi jovens fora das lojas nos centros da vila sem nada fazer. Algumas das lojas são geridas por homens vindos de países como Mauritânia, Chade, Niger, Mali. Sim, os ditos Mamadus estão no interior de Angola porque estão conscientes das imensas riquezas que lá existem.Nas grandes fazendas do interior, há muitas máquinas que exigem o nível de competência técnica que não existe aqui. Em várias aldeias, existe o mecânico que sabe lidar com o gerador ou que trata as motorizadas por "tu” — mestres que conhecem bem como elas funcionam. Nunca, em Angola, vi uma charrua motorizada.

Na Índia, há mecanismos de ligar uma charrua a uma motorizada. Quando se fala de tractores para as áreas rurais em Angola, têm-se em mente máquinas às vezes tão sofisticadas que depois da primeira avaria começam logo a apanhar ferrugem. A chave é aumentar a produção familiar. O Estado deve fazer tudo para ajudar no escoamento dos produtos. Tecnicamente, quem estiver a produzir em Cacula na Huíla pode mandar o seu produto (através do Porto do Namibe) para o resto do mundo. Do Huambo ao Namibe, eu via terras vastíssimas e me interrogava se o caju podia crescer nas mesmas.

Pensando em produtos agrícolas para exportação, é também necessário que se pense numa diversificação criativa. Quando se olha para um Burkina Faso pensa-se logo num país altamente pobre e sem esperança. Trabalhando com a diáspora, que sempre envia fundos para o país, descobriu-se que aquele país era ideal para produzir especiarias que são altamente apreciadas na Índia e outros países asiáticos. O Burkina Faso hoje produz sésamo, soja e muito mais que é exportado para a China, Japão, etc. Nisto tudo, existe o perigo de grandes empresas agrícolas usarem as terras para produzirem produtos que são exportados e que não beneficiam as comunidades locais. É por isso que o que é mais importante é capacitar as comunidades rurais. Não confio em plantações vastíssimas altamente mecanizadas. Na Costa do Marfim, hoje o maior produtor de cacau e caju, os produtos vêm de pequenos comerciantes. A revolução agrícola em Angola vai ter que ser baseada na criatividade e na valorização dos pequenos agricultores...

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