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Rússia e China estão a ameaçar a hegemonia das democracias liberais

A Rússia e a China estão a alterar a ordem mundial, estabelecendo-se como potências alternativas aos Estados Unidos e ameaçando a hegemonia das democracias liberais, defendeu hoje Daniel Dexon, politólogo norte-americano.

31/03/2021  Última atualização 19H29
Rússia e a China estão a alterar a ordem mundial © Fotografia por: DR

"No tópico desta palestra, questionam-me sobre qual a estratégia dos EUA relativamente à União Europeia e à China. E a minha resposta é: sei lá eu...", começou por dizer Daniel Nexo, professor de Relações Internacionais da Universidade de Georgetown, em mais uma sessão das "Lisbon Speed Talks" do Clube de Lisboa.

Para este especialista, vão longe os tempos em que os Estados Unidos da América tinham ficado sozinhos no palco da geopolítica, após a queda do Muro de Berlim e do desaparecimento do seu rival da Guerra Fria, a União Soviética.

Esse foi o período do "momento unipolar" dos EUA, em que os Estados Unidos regulavam a política mundial através de estratégias de busca de controlo hegemónico, espalhando a sua influência com mecanismos de sedução como a atribuição de empréstimos, ajuda militar ou o acesso a mercados e comércio.

Contudo, explicou Daniel Nexon, esse período foi superado pela emergência de novas potências, os chamados BRICS (clube de países emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que obrigaram os Estados Unidos a passar de um sistema de quase hegemonia para um sistema de "cartel" e, posteriormente, para um sistema de "mercado".

"O poder hegemónico dos Estados Unidos já não existe. O mundo em que vivemos é agora uma confederação assimétrica", explicou Dexon, lembrando que o Produto Interno Bruto (PIB) dos BRICS já ultrapassou o do G7 (o clube dos sete países mais ricos), obrigando a uma redefinição do papel das principais potências mundiais.

Daniel Dexon - que é coautor (juntamente com Alexander Cooley) de um livro recentemente publicado, intitulado "Saída da Hegemonia" -- defende que, paralelamente à afirmação dos BRICS, há uma série de mudanças tectónicas nas redes transnacionais que estão a afirmar valores contrários ao das democracias liberais.

Esses valores estão a ser suportados por movimentos nacionalistas, partidos de extrema-direita e organizações autoritárias de diferentes influências ideológicas e que provocarão, inevitavelmente, a erosão da ordem mundial desejada pelas democracias liberais e ocidentais, defendeu o académico norte-americano.

"Há uma profunda mudança na ecologia política mundial", concluiu Daniel Dexon, que responsabiliza o Governo do ex-Presidente Donald Trump por esse "desequilíbrio" na ordem mundial liberal, quando procurou afirmar a sua estratégia de "a América primeiro".

Mas Dexon não foi claro sobre a sua confiança no projeto defendido pelo novo Presidente dos EUA, Joe Biden, que advoga a criação de uma liga de países democráticos, para fazer frente à estratégia de afirmação da China.

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