Cultura

Show do Mês Live

O concerto de Robertinho não foi marcado apenas pelo reencontro de artistas. Reginaldo Silva, Ismael Mateus e Albino Carlos também se reencontraram com o passado relacionado à música angolana.

04/04/2021  Última atualização 06H55
© Fotografia por: DR
O trio mostrou uma faceta por muitos desconhecida, mas que está na génese de muitos jovens dos primórdios da Independência nacional que abraçaram a comunicação social, tornando-se referências na cultura e no desporto, antes da mediatização como jornalistas ligados aos assuntos políticos e sociais. Outro reencontro que aconteceu foi o ensaio com a presença de público, ainda limitado, na estreia do concerto "Show do Mês Live Hospitality”.

Por fim, um reencontro de Robertinho, não apenas com a equipa de produção, mas também com os "showistas” que, nas noites de 26 e 27 de  Junho de 2014, testemunharam o espectáculo do artista no Royal Plaza com sala cheia e, claro, aqueles que, em Julho do ano passado, assistiram o concerto dedicado aos sucessos dos anos 80 em casa, nos seus televisores, computadores, telefones, evento que, tal como o do passado sábado, podem ser revisitados nas plataformas digitais do Show do Mês.


Samba Samba à Sanguito, o itinerário de Robertinho  

Mexeu com muita gente. O malangino adoptado no Rangel entrou com todo o peso e fez dançar com a música "Samba Samba", homenagem à filha. Depois de interpretar "Ngongo" e "Cessá” ficou claro o que pretendia: fazer um concerto dançante e festivo.
Na sua segunda passagem, falou do ciúme de Joana e dos problemas que teve com "Massoxi", pelos vistos uma mulher de má índole. Com muito estilo e a improvisar uns toques, Robertinho percorreu ainda Makongo "antes de mergulhar na "Kyowa”, versão Eduardo Paim numa passada para Kizombadas. O Kimbundu bem cantado mereceu comentários de Albino Carlos, realçando a beleza melódica das línguas nacionais.

Robertinho falou dos amigos falsos na interpretação de "Nguma” e a produção reservou para o último bloco a música romântica, sempre arrepiante, "Desespero”, que foi animada com "Kalamaxinde”,  sequência interrompida com um regresso pesado de Proletário, com temas para fechar o concerto em apoteose. O dono do Show retomou e saudou para tirar o seu grande sucesso "Ka Kinhento”. O tema que é um marco no reconhecimento ao amor de mãe foi precedido pelos dançantes "Ngaxixima” e "Sanguito", a história do amigo e colega que faz do saxofone o que Robertinho faz cantando.

De colegas e referências, ainda teve tempo para recordar Artur Nunes, com "António”, tema que marca o bairro Cuba, no Sambizanga. Aliás, não foi por acaso que Reginaldo Silva o considerou como uma simbiose perfeita entre Artur Nunes e David Zé, mestres que com Urbano de Castro contribuíram para a afirmação de Robertinho e o seu convidado Proletário.


Sem Man Prole,
a Scania fez poeira

Proletário não foi só o convidado, foi o amigo que se doou. Deu tudo e mais alguma coisa. Os dois cantaram e partilharam as mais de quatro décadas de amizade, quando ainda jovens os dois optaram por Luanda, à busca do sonho de serem cantores. A história do então James Jaime que nas canções falava do proletariado, por isso o baptismo como Proletário, esteve em evidência. Com "Sangui Nguenda”, fez a sua aparição, neste tema que marca uma fase da aposta de ritmos fusionados na vertente do Afropop. Contou a história de "Manuel Kayanda”, seu conterrâneo da Quibala que o ajudou na inserção no Rangel e ainda recordou "Maladolo”.

Se o tema que prova o quão afamado era o Man Prole ficou de fora, para desagrado de Ismael Mateus, Proletário levou todos, com ou sem passagens, no "Scania 111” à procura de Kahinda na capital. Ainda de histórias cantadas baseadas no seu Cuanza -Sul, falou da dama que tinha uma saia que mata-homem, em "Kizombas”, e da mulher torreira, em "Kimbobeia”. Uma das revelações não cantada, mas assumida, é que os dois amigos seguraram a música angolana depois do descalabro que ela sofreu com o 27 de Maio.


Celebrando Zé Mueleputo e Fernando Quental
No concerto de muitos reencontros, a celebração da vida de dois artistas que se cruzam em Benguela também marcou a estreia do "Show do Mês Live Hospitality. Zé Mueleputo nasceu nela e Nando Quental cantou e encantará gerações levando-as a locais como Praia Morena, Baía Azul e outros que não fazem esquecer tanta gente bonita. Os dois artistas participaram em concertos do Show do Mês e fora do mesmo foram produzidos pela Nova Energia e foram juntar-se às outras estrelas que brilham nos palcos celestiais.

Na abertura do concerto, aconteceu a homenagem ao guitarrista Zé Mueleputo, revisitando instrumentais que durante o seu percurso artístico foi executando com os Jovens do Prenda, de Zé Keno. Zé Mueleputo foi um exímio guitarrista e a sua obra não se encaixa apenas nos Jovens do Prenda e na música angolana. Dos mais versáteis, também viajava pela Soul, Jazz, Rock, Reggae e outras sonoridades africanas. Tem as suas impressões digitais em muitos sucessos angolanos e nos últimos anos era muito solicitado pela nova geração nas gravações de música de matriz angolana. Zé Mueleputo deixou temas instrumentais inéditos e em parceria com o escritor, académico e também guitarrista, Luis Kandjimbo. O sonho de um disco não se concretizou deste guitarrista, sempre discreto tinha as artes plásticas como um outro lado criativo.

Bem na parte final do concerto, Luis Sebastien regressou para uma edição do Show do Mês Live para fazer parte da homenagem à Fernando Quental. O jovem deu o seu toque a "Quando eu fui a Benguela”, "Kandengue" e outros sucessos que o mesmo cantou numa edição do Show do Mês e no concerto de celebração dos 40 anos de Eduardo Paim, por sinal dos últimos espectáculos em Angola. Nando Quental faz parte da geração dos primeiros africanos que deixaram as colónias portuguesas durante a fase das independências e dos que faziam a animação dos momentos culturais. Oriundo do Sul de Angola, começa com formações juvenis no Cunene e Huíla. Depois de formar o "Kissanje, é com o Africa Tentação que conquista os angolanos com temas como "Quando eu fui à Benguela", "Quem matou Sofia Rosa”e com a bela adaptação do poema "Kissanje".

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