Opinião

Somente para ti, Luanda

Luciano Rocha

Jornalista

Nestas linhas, publicadas no primeiro dia de mais um ano, são apenas para ti, Luanda, desprezada por tantos dos teus filhos, os que nascestes e os que acolheste como teus, a todos de braços abertos.

01/01/2021  Última atualização 16H06
Esta mukanda, Luanda, que nasceste para ser bonita como nenhuma, mas desde cedo sofredora ao veres teus filhos escravizados pelos ocupantes, mas, também, pelos que te rejeitaram, na mira de benesses dos invasores, é escrita em nome daqueles que não te renegam. Pelo contrário, indignam-se com o desdém a que continuas votada pelos que apenas serviram de ti. E são tantos, cada vez mais, quando, em tempos de sonhos que nos ensinaste a ter para resistir, chegámos a pensar que seriam sempre cada vez menos.Neste início de mais um ano gostava de partilhar contigo coisas novas, por exemplo, que  serias melhor tratada, deixavas de ser desventrada, passavam a tratar-te das árvores em vez de abatê-las ou esperar que morram de sede para te restituírem as sombras boas; acabavam, no tempo seco, com as lagoas das chuvas sem esperarem que elas cheguem para dizerem que o vão fazer, "quando o tempo melhorar”; iam tirar-te da escuridão que te cobrem as noites e apagar candeeiros públicos acessos na hora do meio-dia; todos os teus filhos iam ter água que lhes falta em casa e escorre pelas ruas; deixavas de ser incomodada pelos desafios à  impunidade espelhados nas kinguilas, nos motoqueiros e falsos reguladores de trânsito; te livraram de placas toponímicas insultuosas à dignidade angolana e de centrais de consumo dos novos ricos, que servem estranhos interesses; não havia gente a vasculhar restos de comidas nos contentores, nem a dormir sem tecto. A lista de tristezas, que conheces tão bem, principalmente neste tempo de pandemia, é vastíssima, não vale pena prosseguir. Resta-te  saber. Luanda, que não estás sozinha. Ao pé de ti e muito longe, até no estrangeiro, tens filhos que te não esquecem, a sofrer por ti  e contigo. 

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