Sociedade

Suspensas buscas por sete pescadores desaparecidos

Vinte e três dias passados, os familiares dos sete pescadores desaparecidos a 25 de Janeiro na costa marítima do Tômbwa, província do Namibe, não perdem a esperança de que os mesmos continuam vivos, mesmo depois de as autoridades marítimas terem anunciado a suspensão das operações de busca e salvamento.

17/02/2021  Última atualização 17H55
Autoridades suspenderam as operações de busca e salvamento © Fotografia por: Vladimir Prata |Edições Novembro
Em casa dos irmãos Luís Chimuco Javela, de 31 anos, e António Vicente Javela, de 29 anos, que estão entre os desaparecidos, o cenário é o mesmo de todos os dias: no quintal, homens preparam as redes e outros equipamentos para fazerem-se ao mar. Entre eles está Simão Javela, irmão mais-velho dos dois desaparecidos, que, entretanto, não esconde alguma preocupação. Conta que a tristeza paira no seio da família,  devido à incerteza sobre o paradeiro dos irmãos.

"Não temos a certeza se eles estão vivos ou mortos, entregamos tudo nas mãos de Deus, mas também não faz sentido nós abrirmos as portas para fazer óbito sem que os corpos tenham sido encontrados”, disse Simão Javela à reportagem do Jornal de Angola.

Contou que a pesca artesanal é uma tradição da família, e que os dois têm experiência bastante na captura do cachucho, por isso não haveriam de se aventurar em ir à Baía dos Tigres, onde é frequente acontecer o desaparecimento de embarcações, devido à agitação do mar.

O pai dos dois irmãos desaparecidos, já idoso, sofre de depressão e está acamado, por isso ainda não lhe deram a triste notícia. A mãe, porém, sabe o que se passa, mas é uma das pessoas que se nega a admitir que os filhos estejam mortos. Luís e António Javela não têm filhos. O mesmo não se pode dizer de António Tchivangugula Chivela, de 22 anos, que tem um bebé da namorada.

 Segundo o pai, Augusto Chivela, o jovem, que está entre os sete desaparecidos, não tinha qualquer experiência como pescador, tendo  essa sido a sua primeira aventura ao mar. "Quando ele saiu daqui não me avisou. Disse-me que estava a trabalhar numa empresa de construção, mas afinal desde o final do ano passado que tem estado nessa vida do mar”, conta o pai com lágrimas no rosto.

 António Chivela é o terceiro de quatro irmãos. Em casa  dos pais, o cenário é diferente. Cadeiras foram postas no quintal a fim de receber as visitas que, ora sim, ora não, vão aparecendo para consolar a família. Augusto Chivela, que é motorista na Repartição Municipal de Saúde do Tômbwa, disse que tem sido chamado muitas vezes para ajudar a remover cadáveres que são encontrados depois de alguns dias desaparecidos no mar. Porém, está bastante preocupado com o facto de não se encontrar qualquer vestígio da embarcação em que estava o filho e os outros seis pescadores. Entre os desaparecidos, estão ainda Mário Kapongue, de 37 anos, José Pirezo, de 32 anos, Gabriel Cacueya, de 30 anos, e Henriques Máquina, de 27 anos.

 Buscas com alta tecnologia

A Comissão Multissectorial da Autoridade Marítima Nacional anunciou, domingo, em comunicado, a suspensão das operações de busca e salvamento da chata "Fausta” com a matrícula CPL-RA-825-AV. Trata-se de uma embarcação de 10 metros de comprimento, casco de madeira, cor azul e branca, de 3,53 metros de boca e 1,60 metros de pontal. A embarcação fez-se ao mar no passado dia 25 de Janeiro, tendo as autoridades sido  alertadas quatro dias depois, altura em que começaram as buscas.

 De acordo com o comunicado a que o Jornal de Angola teve acesso, as operações de busca e salvamento chegaram a envolver meios como embarcações de pesca do segmento semi-industrial e outros de alta tecnologia, como o navio da Marinha de Guerra "Njinga Mbandi” e uma aeronave R- 756, que efectuou voos em todas as saliências e reentrâncias da orla marítima, com um afastamento da costa na ordem das 30 milhas.

"As operações de busca aconteceram em Moçâmedes, Tômbwa, incluindo a  Baía dos Tigres e a foz do rio Cunene, na costa e contracosta da região, distanciando-se até 30 milhas da costa. Todas as operações de rastreio, busca e possível resgate da chata desaparecida foram realizadas com as tendências das correntes marítimas e ventos ao longo desse período que se fazem a Noroeste, no sentido da orla marítima do Namibe, segundo o aplicativo de meteorologia usado”, lê-se no comunicado.

 A Comissão Multissectorial, no seu relatório, informa que o padrão de buscas e salvamento alargado tem a duração de 72 horas, pelo que, tendo ido além do tempo padrão, e não se tendo avistado qualquer vestígio da chata à deriva ou destroços, fica a hipótese de estar à deriva em alto mar, rumo aos países vizinhos, cujas correntes e ventos marítimos culminam no Congo Brazzaville, São Tomé e Príncipe ou República do Gabão. "Por este facto, ficam suspensas as operações de busca e salvamento alargadas, mantendo-se o estado de alerta e continuidade das buscas por via de serviços marítimos”, refere o documento.
Vladimir Prata / Tômbwa

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Sociedade