Sociedade

Sustento familiar motiva criação de aulas ao “ar livre”

Alexa Sonhi

Jornalista

Afinal, nem tudo está perdido em tempo de pandemia. Apesar de um número significativo de cidadãos estar obrigado a passar mais tempo em casa, enquanto outros perderam o emprego devido à crise financeira que assola muitas empresas, os mais ousados, diante das dificuldades, têm estado a se reinventar para manter o sustento da família, pagar as contas de casa e dar azo aos seus sonhos.

24/01/2021  Última atualização 12H06
Em tempo de Pandemia © Fotografia por: Edições Novembro
Foi com este propósito que Emanuel Cassule, 25 anos, pensou em transformar as aulas de explicação, que, anteriormente, eram feitas ao domicílio, para explicação ao "ar livre”, de modo a continuar a ensinar as crianças, mas sempre respeitando as normas de biossegurança definidas pelas autoridades para travar a propagação da Covid-19.
Antes do surgimento da pandemia em Angola, Emanuel Cassule leccionava aulas da primeira até a nona classe num dos compartimentos do apartamento onde reside com os pais, na Centralidade do Sequele.

A procura pelo serviço que prestava era tanta, que chegou a ter aproximadamente 120 alunos e teve de contactar mais dois professores para auxiliá-lo. Porém, a situação inverteu quando o crescente registo de casos da Covid-19 em Angola levou a que as autoridades tomassem medidas excepcionais de biossegurança para conter a doença.
"Na antiga modalidade, cobrava valores que rondam entre 1.500 a cinco mil kwanzas”, disse. 

Embora obrigado a deixar de dar aulas de explicação, evitando assim aglomerações que pudessem contribuir para a propagação da doença, com o decorrer dos meses, e fruto das dificuldades familiares, decidiu recuperar os alunos, mas, desta vez, optou em dar explicação ao "ar livre” no jardim do prédio onde reside.

Encarregados satisfeitos

Aplaudida pelos encarregados de educação, muitos dos quais consideram a iniciativa do jovem explicador ousada, Emanuel Cassule tem agora sob sua responsabilidade 40 alunos subdivididos em três turnos, para permitir o afastamento físico que a pandemia exige.
Carina Matos, mãe de uma aluna de sete anos, disse que estava cansada de ver a filha em casa sem quase nada para fazer. Apesar do retorno às aulas de explicação, lamentou que, por enquanto, a pequena não pode ir à escola devido às medidas definidas no Decreto sobre o Estado de Calamidade.

"Quando me apercebi que o explicador Emanuel está a dar aulas no jardim, respeitando as medidas de segurança, então fui matricular a menina. Todos os dias ela fica empolgada por saber que vai ter aulas num jardim”, disse. Lemos dos Santos, outro encarregado de educação, conta que ficou maravilhado depois de visitar o espaço. Referiu que verificou os alunos devidamente distanciados, inclusive o próprio professor, e sentiu-se seguro para matricular os dois filhos, ambos alunos do ensino primário.
"Apesar de ser fora de  uma casa, é um lugar seguro e, por saber que é ao ar livre, onde tem muitas árvores, fico mais tranquilo porque o ar circula muito bem e permite aos meninos estarem em contacto directo com a natureza. Acho que o jovem já devia ter feito isso há mais tempo”, considerou.

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