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Total cancela contratos com fornecedores locais

A petrolífera francesa Total está a cancelar os contratos com empreiteiros e fornecedores locais do projecto de gás natural no Norte de Moçambique, deixando as empresas em dificuldades e indiciando que essa decisão pode paralisá-lo durante vários meses.

22/04/2021  Última atualização 12H23
A empresa francesa abandonou o recinto por tempo indeterminado nos arredores de Palma © Fotografia por: DR
De acordo com a agência de informação financeira Bloomberg, que cita documentos trocados entre a petrolífera francesa e alguns fornecedores locais, a Total está a cancelar os contratos com fornecedores locais como Júlio Sethy, um empresário nascido em Palma que investiu na compra de terrenos, uma pedreira e transporte em Pemba, a capital da província de Cabo Delgado.

"É um desastre total, não sabemos o que vai acontecer a seguir”, disse o empresário, considerando pouco provável que a petrolífera francesa retome os trabalhos este ano, devido à insegurança que se vive na região, afectada por ataques desde 2017, o último dos quais em Março, que vitimou dezenas de pessoas e avolumou a crise humanitária na região.

Com a paragem por tempo indefinido dos trabalhos, Sethy diz que alguns dos inquilinos cancelaram, também, os contratos, incluindo uma companhia de seguros que vai sair das instalações no final do mês, prevendo-se que mais pessoas saiam devido aos receios de um ataque a Pemba.

 "Esta era a nossa maior esperança, por isso alguns de nós investiram tudo o que tinham, e ainda se endividaram junto dos bancos para investir ainda mais”, concluiu o empresário.
A petrolífera abandonou, por prazo indeterminado, o mega projecto de exploração de gás natural da bacia do Rovuma, maior investimento privado em África, no valor de cerca de 20 mil milhões de euros, após o ataque de um grupo armado à vila de Palma, a  24 de Março.

Renamo pede ajuda aos países vizinhos
O presidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), Ossufo Momade, pediu ajuda de países vizinhos para travar "o sofrimento” imposto pelos ataques de grupos armados em Cabo Delgado, no Norte de Moçambique.

"Zimbabwe, África do Sul, Botswana, Malawi, Tanzânia não podem dormir: é preciso que ajudem Moçambique a sair desse sofrimento”, disse Ossufo Momade, líder do maior partido da oposição, ontem, durante uma visita àquela província, citado pela Rádio Moçambique.

Para o líder da oposição, os países vizinhos de Moçambique estão também em risco, pelo que "não podem apanhar sono” e devem ter atenção face às agressões e recrudescimento dos ataques no país. "Quando o meu vizinho está a sofrer uma agressão, eu não apanho sono, porque o meu pensamento é de que, depois daquela casa, eles podem vir para a minha”, frisou Ossufo Momade.

O Governo moçambicano contabilizou, até ontem,  mais 723 mil pessoas deslocadas das suas zonas de origem pelos ataques armados nas regiões Norte e Centro do país, segundo o porta-voz do Executivo.

Filimão Suaze avançou que 714.136 pessoas foram obrigadas a fugir da violência armada na província de Cabo Delgado, Norte do país, e 8.726 fugiram de ataques armados na região Centro.
O porta-voz do Conselho de Ministros fez a actualização do número de deslocados devido à violência armada, em conferência de imprensa, no final da sessão semanal do órgão. Do total de deslocados apurados, 331.391 são crianças, prosseguiu Filimão Suaze.

Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico. O mais recente ataque foi feito a 24 de Março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.

As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila de Palma, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar, por tempo indeterminado, o recinto do projecto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.

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