Desporto

Tozé: “Nunca perdi com o 1º de Agosto”

Augusto Fernandes

Jornalista

António José de Sousa, no mundo de futebol mais conhecido por Tozé, foi um dos melhores guarda redes de Angola. Destacou-se no Petro de Luanda, com o qual ganhou três campeonatos nacionais e na Selecção Nacional.

23/01/2021  Última atualização 14H20
© Fotografia por: DR
Teve passagem pelo futebol português, onde representou o Morereinse, Varzim, Famalicão, Naval 1º de Maio e Vizela. Em 1980 foi considerado pela revista "Jeux D'Afrique” o 3º melhor guarda-redes  atrás do camaronês Ntomas Nkono e do marroquino Izaque na categoria de Juniores. Começou a jogar futebol ainda adolescente, no Bairro Popular em companhia de amigos de infância. Embora naquele tempo não houvesse posições fixas, o nosso entrevistado jogava preferencialmente no ataque como ponta-de-lança fazendo-se valer do seu porte físico e alguma técnica.  Por volta de 1977, num jogo de bairro contra uma equipa do Palanca o guarda-redes da sua equipa não apareceu. "Por isso eu decidi  jogar à baliza” começou por dizer Tozé. 

O antigo craque só teve noção da sua grande exibição quando no final do jogo um dos dirigentes da equipa adversária pediu para falar com a sua mãe. "O Homem pegou numa mala de dólares, não sei quanto havia, e deu à minha mãe para que ele me levasse para jogar fora do país. A minha mãe não aceitou” disse. Dai em diante Tozé ficou "condenado” a jogar na baliza. No mesmo ano jogou pela equipa da JMPLA do Rangel. Posteriormente foi convidado por um amigo a fazer testes nos juniores  do Futebol Clube de Luanda na altura treinado por Kata, mas não foi aprovado. "O mister Kata, aconselhou-me a ir jogar basquetebol”,  recorda. 

Posteriormente foi tentar a sorte na TAAG, na época orientada por Joca Santinho. Não obteve sucesso e foi ao Atlético de Luanda, onde também recebeu um não. No entanto, a sua valência como guarda-redes foi sempre bem notada pelos clubes onde tentou a sorte. Assim em certa ocasião o Atlético de Luanda, na altura treinado por Carlos Queirós, precisava de um guarda-redes e Tozé foi o escolhido.  "Quando cheguei aos juniores do Atlético, de entre outros encontrei o Isaque, Careca, Chico, Vanda, Ralph, Pepé, Cesar e o Avelino isto por volta de 1978/79 e disputei o campeonato Provincial de Luanda. A nossa equipa ocupou a segunda posição com o mesmos pontos que o campeão Inter de Luanda”.

Ai entre 1980/81, Tozé é convocado para representar a Selecção Nacional de juniores. "Foi um grande privilégio representar uma Selecção Nacional, pois é sinónimo de ser um dos melhores do país o que implica também uma grande responsabilidade e ainda por cima calhou-nos os Camarões. No jogo da primeira mão em Luanda, empatamos a zero e perdemos em Yaoundé por 2-1 se a memoria não me atraiçoa. Tínhamos uma grande equipa com jogadores como Saavedra, Novato, Quim Sebas, Barbosa, Arsénio, Avelino, Abel Campos, Ralph e outros e treinados por Skoric. Nesse mesmo ano fui considerado pela revista "Jeux D'Afrique” o terceiro melhor guarda redes de Africa atrás de Tomás Nkono (Camarões) e do Izaque (Marrocos)”. 
"Deserção” do Petro para o 1º de Agosto 
Ainda no mesmo ano o seu novo clube disputou o campeonato Provincial e apurou-se para a primeira Divisão em 1981. Entretanto, no mesmo ano, em certa ocasião, Tozé fazia parte da lista de jogadores que viajariam para um estágio no Brasil, porque o guarda-redes titular, no caso, o Nando, não dava sinais de que iria viajar, embora já tivesse tudo tratado. "Já no autocarro para avançarmos para o aeroporto o Nando, aparece. O mister António Clemente, ficou sem saber o que fazer porque com a presença dele ultrapassou o número limite de atletas. "O Mister olhou para mim e disse: ’meu filho tu vai ter de ficar. O  cara apareceu”. Desci do autocarro totalmente desiludido. Todo mundo sabia que iria ao Brasil, como justificar a queda? Lá tive de suportar  a zombaria dos meus amigos. De raiva fui me entregar ao 1º de Agosto e fui muito bem recebido por Nicola Beraldinelle e o chefe Júnior. Além do mais caí nas graças do Comandante Ndalú e tinha alguns "privilégios” especiais. Fiquei no D’Agosto por mais ou menos noventa dias e fiz inclusive alguns jogos amistosos no Lubango e não só. Parece que a ideia era prepararem-me para substituir o Napoleão” disse Tozé. 

 E como acontece o regresso ao Petro? "Eu saia de minha casa no Maculusso para a casa da minha mãe no Bairro Popular e normalmente eu passava em frente ao Catetão. Nisto vejo o Clemente, como se já soubesse que eu passaria por ai. Chamou-me e disse: ’meu filho vamos esquecer o que se passou. Aliás, tu és filho do Petro. No 1º de Agosto, nunca terás hipóteses nenhuma diante do Napoleão e o Ângelo. Vem para casa. Estamos à sua espera amanhã. Aquela conversa mexeu comigo. Realmente eu sabia que não tinha grandes chances diante daquelas feras. Eles os dois eram os "donos” da baliza dos Palancas Negras. Diante desta realidade regressei a "casa”. 
Fusão entre Atlético 
Em 1980 aconteceu um momento histórico no futebol angolano. Fruto da fusão entre o Atlético de Luanda e o Benfica também de Luanda surgiu o grande Petro de Luanda. António José de Sousa, foi um dos "activos” do Atlético que passou para o Petro. Recorda: "Do Benfica de Luanda, vieram Jesus, Panzo, Moreno, Santos e mais alguns. Todos os jogadores do Atlético transitaram para o Petro e naturalmente fazem parte do alicerce deste grande clube Petro de Luanda. É um grande orgulho para mim fazer parte desta geração”.
 A derrocada da hegemonia do 1º de Agosto 
Segundo Tozé  a sua atitude criou grandes fricções entre as duas direcções. "Até hoje o kota Júnior não fala comigo”. Pouco tempo depois o Cuba, que era o guarda-redes principal do Petro, lesionou-se com gravidade. Por via disto Tozé, que era suplente utilizável, agarrou a titularidade com unhas e dentes como soe-se dizer. 

Em 1982 fez parte da equipa que destronou o grande 1º de Agosto, que vinha de três títulos consecutivos e era simplesmente a melhor equipa do país. Em 1983, Tozé, Lufemba, Jesus, Antoninho, Laika, Avelino, Nejo, Chico Afonso e outros afundaram por completo os militares com a histórica goleada de 6-2 dando início a grande rivalidade entre os dois emblemas. 
"Depois daquela goleada” diz o antigo jogador do Petro  o 1º de Agosto, ficou relegado a segundo plano, pois surgiu o 1º de Maio de Benguela, que ganhou o campeonato em 1983 e em 1985 rivalizando com o Petro que voltava a ganhar em 1984 e  de 1986 a 1990. No entanto, o 1º de Agosto, foi sempre uma equipa difícil de defrontar. Aliás continuou a ser uma das melhores do país. Só dos poucos que tenho a honra de dizer que nunca perdi contra eles! É importante frisar que no período entre 1981 a 1990, em minha opinião foi o período alto do nosso futebol, pois em todas as equipas havia estrelas”. 

Para Tozé um dos jogos que mais lhe marcou foi contra o 1º de Maio de Benguela no Estádio dos Coqueiros na histórica vitoria da sua equipa por 7-6. "Foi um dia inesquecível. Ao intervalo nós vencíamos por 4-1. No segundo tempo o Maio, fez entrar o Zandú, que viria a fazer a diferença e chegou a empatar o jogo a quatro bolas. Depois foi um autentico "marcas tu, marco eu” e já ao cair do pano quando estávamos empatados a seis bolas o Chico Afonso, chutou de muito longe e o guarda-redes do Maio, salvo erro, o João de Deus, ofereceu-nos um frango e ganhamos por 7- 6. Um resultado incomum no mundo do futebol”. 
PERFIL

Nome António José de Sousa  FiliaçãoCarlos Siqueira Alves e de Alba de Sousa Data e local de nascimento17.07.63 em Luanda Estado civilCasadoFilhosTrêsAltura1,83 m Tempos livresPraticar desporto Prato preferidoUm bom Calulú Jogador que mais temiaVicy Jogador que mais admiravaLufemba Clube do coraçãoPetro de Luanda SonhoSer um bom formador das camadas jovens  


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