Reportagem

Uíge quer produzir banana e mandioca em grande escala

Leonel Kassana

Jornalista

A estratégia do governo do Uíge no combate à fome e à pobreza passa pelo aumento das culturas tradicionais na sua agenda de prioridades, caso da produção em grande escala da banana e da mandioca.

09/03/2021  Última atualização 11H05
© Fotografia por: Quintiliano dos Santos
Os números disponibilizados ao Jornal de Angola, pelo director provincial da Agricultura, Eduardo Gomes, pecam por defeito, a crer pelo potencial identificado em todos os municípios.
Escondem uma realidade pouco conhecida, a traduzir pelas dificuldades de uma colheita de estatísticas fiáveis.
Seis milhões de toneladas de produtos, como previsão para a presente campanha agrícola, um aumento de mais de 10 por cento em relação à safra anterior, ainda assim, muito longe daquilo que são os recursos hídricos e solos férteis abundantes nesta região.

A província do Uíge é o território com mais municípios (16) no país. Possui dois milhões de hectares de terras aráveis, dos quais  uma insignificante parte de apenas 20 por cento estão efectivamente trabalhados.
Estes números são, na verdade, um chamariz para os investidores nacionais e estrangeiros, num momento em que o país põe em marcha um programa recheado de grandes incentivos.


Apoio institucional

Eduardo Gomes disse que o apoio institucional é a garantia de previsões mais optimistas para as próximas campanhas. No caso, a disponibilização de um considerável número de equipamentos técnicos para a preparação de terras, aliada à contínua e adequada assistência especializada aos agricultores, organizados em associações e cooperativas para assegurar-se da preparação das terras para o cultivo.

"A presente campanha agrícola fez recurso considerável a meios técnicos, com a recepção de mais de 50 máquinas, que facilitaram sobremaneira a preparação dos terrenos agrícolas detidos por camponeses organizados em associações e cooperativas. Tal permitiu pensar em bons resultados nesta campanha agrícola”, referiu o director, indicando que esse apoio assegurou o alargamento dos espaços agrícola das famílias.

Como em todo o país, no Uíge é a produção familiar quem proporciona 80 por cento da comida que chega à mesa das pessoas.
Há o registo de mais de 216 mil famílias directamente ligadas à agricultura, 51 cooperativas e 868 associações de camponeses.
Eduardo Gomes esclarece que, para viabilizar melhor o apoio ao sector agrícola, o Estado incentiva a criação de mais associações e cooperativas, como forma de aumentar a produção familiar, algo que se reflecte na segurança alimentar das populações. Para o responsável, o apoio estatal, nos domínios dos equipamentos técnicos para as lavouras, assistência técnica, inputs, sementes, adubos, fertilizantes e outros, não fica completo sem uma adequada rede de vias de comunicação para os campos agrícolas.


Escoamento deficitário
Apesar disso, as autoridades criaram um kit de ferramentas para intervir nas principais "estradas”(com aspas propositadas), pois elas mais parecem picadas.
"Tentámos, neste momento, reabilitar o troço de ligação da Infuta, que sai do colonato para Kingingia, no município do Bembe”, refere, ilustrando o trabalho em curso para tornar menos penoso o escoamento da produção local.
Em breve, assegurou, começam trabalhos idênticos nos municípios de Ambuíla e Maquela do Zombo, este na fronteira com a República Democrática do Congo (RDC).

Os números citados pelas autoridades sobre a produção agrícola no Uíge poderiam ser ainda melhores, não fossem as exigências demasiado "pesadas” das instituições bancárias, que concedem crédito com taxas de  juro proibitivas, para a quase generalidade dos produtores, como, aliás, reconheceu Eduardo Gomes.
Essa é matéria que mexe com a generalidade dos produtores no Uíge, constatação idêntica a das províncias por onde já passou a "Grande Reportagem Andar o País - pelos caminhos da agricultura e do desenvolvimento”, casos do Cuanza-Norte e Malanje.


Cooperativas desbravam a terra no Quitexe
No Quitexe, à saída da província do Bengo, uma cooperativa está a produzir mandioca, batata doce, ginguba, milho, feijão e leguminosas, num espaço de 30 hectares, depois de receber um financiamento de 50 milhões de kwanzas.
Os primeiros resultados desse investimento, feitos por via do PRODESI, são esperados a partir de Setembro.
Todavia, é no bananal que esta cooperativa de 140 associados mais se destaca, confirmando as potencialidades da região do Uíge. São mais de dois hectares completos de bananeiras já plantadas.

O financiamento permitiu também o investimento, entre outros meios, numa carrinha, o que minimiza a já "crónica” preocupação com o escoamento dos produtos para os principais centros de consumo.
Se a cooperativa agrícola do Quitexe tem metas mais ambiciosas, depois de aprovado o financiamento, as outras continuam a viver sérias dificuldades, que se resumem nisso mesmo: grandes quantidades de mandioca, bana-na, ginguba e outros produtos agrícolas a deteriorarem-se nos campos por falta de escoamento.

Na próxima paragem, o "Andar o País” radiografa os constrangimentos dos produtores de café e a estratégia das autoridades do Uíge para resgatar o papel central da província nesse domínio.
Angola é líder na banana
Angola é o maior produtor africano de banana e sétimo no mundo, com uma oferta de 4,4 milhões de toneladas, de acordo com a tabela do Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) referente a 2019.
Liderados pela Índia, com 29,7 milhões de toneladas, a China surge a seguir com 12,9 milhões do total de 88,5 milhões de toneladas de banana ao ano disponibilizadas pelos 10 maiores produtores mundiais. Segundo a FAO, a banana continua  ser a fruta mais produzida e consumida no mundo.

Angola, particularmente, há mais de seis anos que se declarou auto-suficiente na produção de banana, com realce para as províncias do Bengo e Benguela. Uíge, Zaire e Cabinda também começam a ser a referências.
O empresário José Mace-do, da Nova Agrolíder, disse, na ocasião, em reacção à publicação, que os ganhos ainda são reduzidos em função dos altos custos de produção, embora haja a vantagem de permitir a arrecadação de alguma receita em divisas.

O empresário e promotor da tradicional "Feira da banana” disse que a Nova Agrolíder, por exemplo, produz, anualmente, cerca de 70 mil toneladas. Está a exportar 1.200 toneladas para Portugal e Espanha e 160 para a África do Sul.
Ainda ontem, segundo a Angop, 20 toneladas de banana produzidas em Cabinda foram exportadas para o Congo Democrático.

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