Opinião

Uma oportunidade soberana para o desporto

Vivaldo Eduardo

O recente encontro do Presidente da República com os principais representantes do desporto nacional trouxe a debate alguns dos assuntos mais candentes do sector.

27/04/2021  Última atualização 11H00
Reconhecer que esta área vai mal e equacionar estratégias para melhoria, de mais a mais, em contacto directo com o Chefe de Estado, é sem dúvida uma oportunidade ímpar de plantar bases de um verdadeiro desporto nacional, em substituição da actividade em que, durante vários anos, a  propaganda política do regime se afigurava como um dos principais objectivos.
Ao contrário do habitual formalismo, em que o mais importante ficava por se dizer, nesta reunião o próprio Chefe do Executivo colocou o dedo na ferida. Realçou as obrigações do Estado em relação às actividades físicas, reconheceu a incapacidade de  gerir da melhor forma as instalações desportivas e alertou para a necessidade de colocar a competição desportiva a gerar lucros financeiros.

Numa palavra, João Lourenço assume "mea culpa” da governação, no estado das coisas e dá o mote para que os agentes tenham coragem de apontar o caminho a seguir, politiquices à parte. Ou seja, ainda que inicialmente intimidados, os dirigentes desportivos encontraram toda a abertura possível para manifestar o seu engenho e, desta vez sim, fazer desporto na verdadeira acepção.

Para tal é necessário assumir que tanto o encontro com o Presidente como as propostas a serem elaboradas, não constituem um fim em si. São, pelo contrário, o princípio de tudo, porque teorizar os caminhos a seguir é um procedimento que há muito atingiu a maior idade. Não temos dúvidas que entidades como o Minjud, o COA, as federações desportivas e outras, podem elaborar pilhas de documentos com ideias brilhantes para retirar o desporto do fosso em que se encontra.O busílis da questão está na execução. Ao longo dos anos as estruturas encheram-se de quadros que preferiram o conforto de um gabinete, ao trabalho de campo, em condições pouco dignas, diga-se em abono da verdade. Muitos, bem formados, no exterior, com todos custos que acarretaram ao país, propõem-se a tudo, menos a estar no terreno.

Com a mão na massa, como soe dizer-se, estão alguns corajosos, dispostos a assumir as críticas e a crueldade que por vezes acompanha a carreira prática de treinador ou de professor de Educação Física. Tal como noutras áreas do conhecimento, nas fases mais difíceis do processo há gritante escassez de recursos humanos. Reiteramos que a oportunidade é soberana para começar bem. Porque não será o PR a conferir à Educação Física o real peso que ela deve ter no contexto do Ensino no país, para que realmente a base do ensino das disciplinas desportivas chegue a um número considerável de jovens praticantes.

Neste espaço criticamos, há alguns anos, a monodocência como subalternização da Educação Física e condenação à morte do futuro do desporto. Foi uma decisão do Executivo, onde trabalham muitos técnicos altamente habilitados e que sabem perfeitamente que o professor de Aritmética, Geografia ou Estudo do Meio não está capacitado para leccionar os primeiros passos de Educação Física, nas etapas decisivas para o futuro desportista.

É necessário que os presidentes das federações façam chegar às autoridades a ideia de que os grandes estádios são para os artistas do desporto, cuja formação dura uma dezena de anos, ou mais e passa pelos campos modestos que devem ser construídos nas comunidades. Os poucos espaços que existiam nos bairros, para a prática de actividades físicas, foram substituídos por construções completamente alheias a esta área, como reconheceu o próprio PR.

Portanto, os que estão no terreno devem arregaçar as mangas não só para as viagens ao exterior do país, mas para cobrar ao Estado a construção de pequenos campos comunitários e escolares e assegurar a sua manutenção. Só assim fica garantida a formação de jogadores de qualidade para os grandes estádios.Sem descurar a necessidade e importância das grandes infra-estruturas desportivas, não podemos perder de vista que ao serem erguidas, sem que previamente tenham sido criadas as bases para garantir a massificação, a formação de técnicos qualificados, desde animadores desportivos a gestores de instalações e competições desportivas, estaremos a construir um "arranha – céus” a partir dos andares mais altos ... 

A hora é de atacar o país desportivo real e não o fictício que nos aparece nos famosos conselhos consultivos dos ministérios, onde os balanços à actividade desenvolvida se resumem a rasgados elogios, embora os resultados nem à lupa se consigam ver. 

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Opinião